A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) tem se destacado na produção de informações e conhecimento a respeito da pandemia do novo coronavírus no Rio Grande do Sul e no Brasil. Responsável pelo primeiro inquérito epidemiológico no País que mapeou o quadro de dispersão da doença no Estado, a instituição atua, agora, em todo o Brasil realizando o mesmo trabalho. Outros grupos de pesquisa da UFPel, porém, analisam cenários diferentes a respeito do novo coronavírus. Um desses é o grupo de pesquisa Covid-19 - Estudos Geográficos/Leur/UFPel.
Os pesquisadores realizaram um levantamento que busca analisar as concentrações populacionais, o processo de interiorização da Covid-19 e a estrutura hospitalar no Rio Grande do Sul. O trabalho constatou que os principais centros urbanos - Porto Alegre, Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Bento Gonçalves, Santa Maria, Pelotas, entre outros - apresentam números mais elevados de habitantes por quilômetro quadrado.
No entanto, percebe-se uma tendência de concentração populacional em municípios menores que se direcionam para a porção Norte gaúcha. Essas cidades, por sua vez, possuem como característica a proximidade entre seus núcleos urbanos e áreas rurais densamente povoadas quando comparadas com os municípios da porção Sul.
A análise também destaca outro ponto interessante a respeito da organização demográfica estadual. Enquanto, na parte Sul e na região da Campanha, os municípios possuem extensões territoriais maiores, com grandes distâncias intermunicipais e áreas rurais menos povoadas, na parte Norte, os municípios possuem menor extensão, áreas rurais mais povoadas e proximidades mais significativas entre seus núcleos urbanos, o que facilita a circulação dos fluxos econômicos e populacionais.
"Isso evidencia que o processo de interiorização do vírus pode ocorrer de forma diferente entre os municípios fora das áreas com densidades demográficas significativas, ocasionando um movimento de interiorização mais lenta na parte Sul e na região da Campanha, e uma aceleração da dispersão da Covid-19 na parte Norte do Estado", apontam os acadêmicos.
A universidade indica que o vírus se dispersou, inicialmente, no Estado, nas áreas com maiores índices populacionais, mas, agora, ocorre uma mudança nesse padrão, havendo um processo de dispersão de casos para municípios menores de forma acelerada, "demostrando que o processo de interiorização leva de quatro a seis semanas". A lógica de disseminação do vírus tende a atingir cada vez mais municípios menores no Rio Grande do Sul", diz o estudo.
Outra análise que a pesquisa fez diz respeito à disponibilidade de leitos em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) no Estado. O estudo salienta a ocorrência de uma centralização de estruturas médico-hospitalares em áreas que possuem os maiores contingentes populacionais, evidenciando a dependência dos municípios menores.
Os dados levantados demonstram que apenas 50 dos 497 municípios gaúchos possuem estruturas hospitalares com leitos de UTIs (tipo I, II e III), o que levanta a preocupação com o avanço da Covid-19 no interior do Estado.
"Ao averiguarmos atentamente o número de leitos, destacamos que 15 municípios detêm cerca de 77% dos mesmos, os quais concentram-se principalmente em Porto Alegre, Caxias do Sul, Passo Fundo, Pelotas, Canoas e Santa Maria."
Esse cenário acaba por produzir movimentos populacionais diários em busca das estruturas de saúde. "A pandemia de Covid-19 traz à tona os históricos problemas relacionados às desigualdades do sistema técnico-hospitalar no Estado e demonstra que a concentração das estruturas de saúde desenvolve uma distribuição territorial desigual entre os municípios, e, caso aumentem/evoluam os casos de Covid-19 para quadros graves, acarretara uma saturação do sistema no Rio Grande do Sul", concluem os pesquisadores.