Atualizada às 11h de 03/03/2020
Uma megaoperação para transferência de presos ligados a organizações criminosas no Rio Grande do Sul foi feita no começo da manhã desta terça-feira (3). A ação envolveu mais 1,3 mil agentes, 306 viaturas e sete aeronaves, contou com a participação de três secretarias estaduais e de outras 15 instituições das esferas estadual e federal, informou o governo gaúcho.
A Operação Império da Lei é a segunda desde 2017, quando 17 presos foram transferidos.
A ação foi organizada para transferir 18 detentos com posição de liderança nas principais organizações criminosas gaúchas para penitenciárias federais fora do Rio Grande do Sul. A operação contou com 18 instituições das esferas estadual e federal.
A megaoperação foi só o começo das ações de combate ao crime organizado que, mesmo dentro das penitenciárias segue dando as cartas no mundo do crime. O recado ficou claro nas declarações das principais autoridades estaduais - governador Eduardo Leite, vice-governador e secretário de Segurança Pública, Ranolfo Vieira Jr., dirigentes do Ministério Público (MP-RS) e da Polícia Federal - ao fazerem o balanço da Operação Império da Lei, que foi considerada perfeita na execução pelo governo.
Helicópteros foram usados para retirar presos de penitenciária de Charqueadas. Foto: Rodrigo Ziebel/SSP
"Aquele que enfrentar a lei, mesmo de dentro de presídios, vai sofrer as consequências",
preveniu Leite, indicando que os 18 órgãos envolvidos na operação vão manter o trabalho de inteligência para dar conta de mais remoções de presos e identificar eventuais reações decorrentes de espaços deixados pelos removidos e ocupados por outros criminosos.
Segundo Ranolfo, nas ruas de Porto Alegre e de algumas cidades do Interior, haverá policiamento ostensivo contra eventual movimentação de facções. A ação foi organizada para transferir 18 detentos - todos com posição de liderança nas principais organizações criminosas gaúchas - das penitenciárias de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e Modulada Estadual de Charqueadas (PMEC).
A operação começou às 2h, com a movimentação de mais de 1,3 mil agentes das polícias Civil e Federal, da Brigada Militar e da Superintendência dos Serviços Penitenciários, além de Samu, Exército e representantes do MP-RS. Na operação de deslocamento, foram utilizadas 306 viaturas e sete aeronaves.
Os detentos foram retirados de ambas as penitenciárias em comboio único. Às 6h, as viaturas fizeram o deslocamento de 4,3 quilômetros até o parque Adhemar de Souza Farias, no Centro de Charqueadas. De lá, os detentos foram levados de helicóptero até a Base Aérea de Canoas, onde embarcaram para os destinos finais.
"Aquele que enfrentar a lei, mesmo de dentro de presídios, vai sofrer as consequências", disse Leite. Foto: Itamar Aguiar/Divulgação
O uso de um parque próximo para pouso e decolagens das aeronaves foi proposital para não gerar muito barulho e alertar detentos das penitenciárias. O sigilo e a restrição das informações foram estratégicos na execução. "Nunca vi uma integração efetiva como estou vendo, especialmente, na organização desta grande operação", elogiou Ranolfo.
Segundo o vice-governador, a operação terminou até antes do previsto. A decolagem do jato com os 18 líderes estava prevista para as 12h. Às 10h, segundo o vice-governador, mesmo horário da coletiva sobre a operação, o jato deixou a base. O destino foram cinco unidades da federação que têm presídios federais.
A previsão é que os presos fiquem pelo menos três anos com restrição de acesso. "O prazo pode ser de mais três anos", disse Ranolfo. Em 2017, outros 17 líderes de facções haviam sido transferidos. Desse grupo, 15 continuam fora do Estado.
O governo incluiu a operação dentro das ações do programa RS Seguro. Há mais de um ano, áreas de inteligência formavam a lista de líderes. Foram elencados 33 nomes para remoção, cujos pedidos foram feitos pela Polícia Civil e pelo Ministério Público. A Justiça estadual atendeu 18 pedidos.
O procurador-geral de Justiça do Estado, Fabiano Dallazen, explicou que, a partir de agora, o órgão e a Polícia Civil vão trabalhar nos recursos para o Judiciário, buscando conseguir a transferência de quem não estava no grupo dos 18.
"A liderança da facção que determina a execução de crimes não chega a ser responsabilizada e, se quer, tem uma ficha criminal tão grande quanto os seus comandados", ressaltou Dallazen, argumentando que esse é um fator que pode ter peso na avaliação do Judiciário. "Temos de demonstrar que esse líder é um dos grandes articuladores da facção, o que não é fácil", admitiu. Dallazen avalia que para metade dos 15 presos há elementos para obter decisão positiva no Tribunal de Justiça.
O superintendente regional da Polícia Federal, Alexandre Isbarrola, observou que a colaboração foi decisiva no resultado da operação, e projeta que pelo perfil dos líderes transferidos, pode-se esperar impacto na redução de crimes no Rio Grande do Sul. Isbarrola aponta que a ação deve gerar efeito sobre ocorrências de homicídios, furtos e roubos de veículos e tráfico de drogas.