Isabella Sander
Prevista para o primeiro semestre deste ano, a transformação de lixo orgânico em energia em Bento Gonçalves deve ocorrer no início de 2020. O começo das atividades depende da escolha, por licitação, de uma empresa qualificada para o serviço e de um período para a construção de uma usina de tratamento e eliminação de resíduos. O trabalho será feito por meio de parceria público-privada (PPP).
A transformação de resíduos orgânicos em energia - amplamente usada em países da Europa e da Ásia - ainda é pouco difundida na América Latina. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico de Bento Gonçalves, Silvio Bertolini Pasin, o atraso de um ano no projeto se deve justamente ao pioneirismo, que gerou pedidos de explicações e correções de seis itens do estudo pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Três pontos já foram sanados, e os outros três estão em análise pela corte. "Estamos pagando os custos por sermos pioneiros", comenta. A expectativa é de que a continuação da licitação seja liberada em agosto.
Notícias sobre meio ambiente são importantes para você?
A prefeitura da cidade publicou edital em agosto do ano passado, para que a licitação fosse feita em setembro. Cinco empresas foram habilitadas para o certame, mas, durante o prazo de recursos das concorrentes, o TCE suspendeu a licitação, até que seis itens fossem esclarecidos. Desde então, a gestão municipal trabalha para responder todos os questionamentos. Entre eles está a publicação do edital em veículos nacionais, e não apenas regionais, perguntas sobre a escolha do vencedor não apenas pelo menor preço, mas também pela técnica usada e sobre a adoção de normativas da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para licença prévia. "Como é um processo novo, com alta tecnologia, suscita dúvidas. É compreensível que o TCE queira entender bem um investimento tão alto", comenta Pasin.
O investimento será de quase R$ 500 milhões, todo gasto pela empresa contratada, que prestará o serviço durante 35 anos. Com a energia gerada, Bento Gonçalves será capaz de produzir eletricidade suficiente para abastecer 2 mil casas por dia. O abastecimento, contudo, será limitado aos prédios e serviços municipais, uma vez que as residências são atendidas por concessionária contratada.
Para o futuro, a prefeitura estuda, ainda, possibilidades de parcerias com prestadoras de serviços para o município, a fim de que, em vez de pagar pela prestação, seja feita uma permuta por eletricidade. Também será possível oferecer energia em locais novos, para que a concessionária não precise fazer investimentos em ligações.
Atualmente, cerca de 24% do lixo de Bento Gonçalves passa por coleta seletiva. O restante acaba sendo levado ao aterro de Minas do Leão - cerca de 110 toneladas por dia. Com a mudança, essa logística de transporte e descarte será eliminada, o que, nos cálculos da prefeitura, pode gerar uma economia de até R$ 8 milhões anuais.
A tecnologia prevista no projeto é a pirólise, um processo de decomposição termoquímica que não envolve oxigênio e, portanto, não gera gases contaminantes. Os rejeitos serão colocados em uma esteira, na qual haverá retirada mecânica de metais, vidros, papéis e plásticos. Os resíduos orgânicos serão introduzidos em um tambor, que será, então, aquecido, e o resultado final - o chamado gás de síntese - alimentará geradores conectados à rede elétrica municipal. Haverá, também, um resíduo de biomassa carbonizada, chamado biochar, que passará por testes para determinar seu possível uso como fertilizante. O mecanismo não demanda grandes espaços, não gera cheiro ruim e, por não ficar parado, não causa risco de infestação por ratos, baratas e moscas.