Conhece-se muito uma cidade pela sua gente, pela sua história, pelas suas ruas, pelos seus hábitos. Conhece-se muito de uma cidade pelos seus heróis e heroínas, mas também pelas pessoas comuns: o engraxate do Centro, o chaveiro do bairro ao Sul, a professora da escolinha ao Norte. Conhece-se muito de uma cidade, também, pelas letras das canções que levam seu nome e suas coisas, as grandes e notáveis, e as pequenas e modestas, para todos os lugares do mundo. Em Porto Alegre não é diferente.
Como é de se esperar, belezas e tesouros naturais são inspiração para artistas - das mais diversas vertentes e estilos - expressarem sua criatividade e seu sentimento, seja ele de carinho ou de revolta. No caso da Capital, o lago Guaíba é personagem de dezenas - quiçá centenas ou milhares - de poesias, pinturas, contos ou romances.
É por meio da música, porém, que as águas que banham Porto Alegre se fixam no imaginário popular de modo perene, sendo cantadas por toda a cidade, e não só nela, ecoando pelo Rio Grande, pelo Brasil inteiro e - por que não - por todo o mundo.
O Guaíba é rock pela voz de Humberto Gessinger e os seus Engenheiros do Hawaii, e nele "mergulha o sol e arde fins de tarde, de luz vermelha". O lago é pampeano pela voz de Noel Guarany, e, olhando para ele, o poeta sente "uma mágoa, algo diferente" e questiona: "será que alguém pintou esse rio como vi essas águas, sinceramente"?
Na "porto-alegrice" de Elis Regina, é sempre bom rever os velhos fundadores coloniais "singrando o Guaíba", e, na Ramilonga de Vitor Ramil, a água é limpa do alto da torre e é de lá que ele observa o "Guaíba deserto, barcos que não estão".
A juventude regueira de Armandinho acordou querendo ver o mar e sonhando junto ao pôr do sol nas águas, meio perguntando, meio afirmando: "quem nunca imaginou pegar onda no Guaíba?!".
O lago é democrático e, assim como é tradicionalista na música do Conjunto Farroupilha, é popular ao ser cantado por Lupicínio Rodrigues. E, mesmo quando escondido pelo "vergonhoso muro da Mauá" lembrado por Nei Lisboa, ainda que esteja "podre" e que vá "morrer", como critica Wander Wildner, segue sendo o mais belo cartão postal de Porto Alegre.
Confira algumas canções que cantam o Guaíba:
Olhando para o rio Guaíba
Senti uma mágoa, algo diferente
Será que alguém pintou esse rio
Como vi essas águas, sinceramente
Entre o Guaíba e o Uruguai [ Noel Guarany ]
É sempre bom lembrar coisas passadas
Rever os lampiões, os ancestrais,
Singrando o Guaíba apareceram,
Os velhos fundadores coloniais
Porto dos casais [ Elis Regina ]
O Guaíba tá podre, o Guaíba vai morrer
Mesmo assim tomo banho nele. Mesmo assim bebo a água dele
O Guaíba tá podre, o Guaíba vai morrer
A sujeira me parece visível e a limpeza me parece impossível
O Guaíba tá podre [ Wander Wildner ]
Não me censurem por estar chorando
Ao contar coisas da minha cidade
É que eu agora estava recordando
Quando estas ruas eram só paz, amor e tranquilidade
O rio Guaíba nos deliciando
Nos dando banhos de felicidade
E os seresteiros só nos acordando
Quando das musas sentiam saudades
Minha Cidade [ Lupicínio Rodrigues ]
Na Zona Sul existe um rio
Nesse rio mergulha o Sol
E arde fins de tarde, de luz vermelha
De dor vermelha, vermelho anil
Amanheceu em Porto Alegre [ Engenheiros do Hawaii ]
Eu hoje acordei
Querendo ver o mar
Mas eu moro bem no meio de uma selva de pedra
O pôr do sol no rio é que me faz sonhar
Quem nunca imaginou pegar onda no Guaíba?!
Reggae Das Tramanda [ Armandinho ]
Do alto da torre a água do rio é limpa
Guaíba deserto, barcos que não estão
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Ramilonga [ Vitor Ramil ]
Rio Grande do Sul
Eu um dia voltarei
Pra rever o meu Guaíba
Pra rever meu bem-querer
Gauchinha Bem-Querer [ Conjunto Farroupilha ]
Já vejo casas ocupadas
As portas desenhadas
No vergonhoso muro da Mauá
Berlim-Bom Fim [ Nei Lisboa ]