Com a saída dos profissionais cubanos do programa Mais Médicos, em novembro, o governo federal batalha há dois meses para preencher as vagas abertas, muitas delas em municípios pequenos, do interior do Brasil. No País, os cubanos ocupavam 47% dos 18.240 postos do programa e, no Rio Grande do Sul, 52,5% das 1,2 mil vagas existentes. Destas, ainda carecem de médicos 131 vagas em 95 cidades gaúchas, o que representa um em cada cinco dos 630 postos de trabalho abertos.
Em balanço divulgado na terça-feira, a estimativa era de que 82% das vagas estavam preenchidas em nível nacional. O Rio Grande do Sul apresenta um percentual ainda mais baixo, de 79,2% das vagas ocupadas (499 das 630 abertas). Na última chamada, foram oferecidos 248 postos em 155 municípios.
O Ministério da Saúde não divulgou quais vagas não foram preenchidas, mas levantamento da reportagem do Jornal do Comércio averiguou que 95 cidades gaúchas ainda não estavam com seu quadro de profissionais completo, o que representa 61,3% dos municípios com vagas que ainda estavam abertas na segunda chamada. Destes, 78 não possuem nenhuma vaga ocupada (muitos deles municípios pequenos, com até 10 mil habitantes) e 17 estão com seu quadro incompleto.
O governo federal já publicou duas chamadas públicas para a contratação de médicos brasileiros no lugar dos cubanos. A partir de agora, as vacâncias serão preenchidas por médicos brasileiros formados no exterior e, se ainda assim houver postos vazios, estes serão oferecidos para médicos estrangeiros formados no exterior.
O presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems-RS), Diego Espíndola, afirma que o problema maior está no fato de muitos médicos não quererem trabalhar em municípios pequenos e afastados da Capital. "Nossa preocupação é colocar o médico lá no fundo do Estado, onde há dificuldade de acesso a grandes estruturas de saúde", explica.
Segundo Espíndola, o conselho tem mantido contato em Brasília com o ex-secretário municipal de Saúde de Porto Alegre, Erno Harzheim, que hoje atua como secretário de Gestão Estratégica e Participativa no Ministério da Saúde, sobre a realidade em cada cidade gaúcha. Um dos alertas a Harzheim é para o fato de haver vacâncias ocasionadas por pessoas que se demitiram de outros serviços de saúde para assumir um posto do Mais Médicos.
Para o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcelo Mathias, o não preenchimento de todas as vagas até agora se deve, principalmente, à falta de um plano de carreira dentro do Mais Médicos. "O programa, da maneira como está formatado, não é capaz de preencher essas vagas. A solução definitiva, como o próprio ministro da Saúde diz, é fazer um plano de carreira para os médicos", defende. Na opinião de Mathias, se um plano for elaborado, todas as vagas serão ocupadas.
O presidente do Simers cita como exemplo a realidade dos juízes de 1ª instância, que são designados para varas no Interior e não rejeitam a vaga, porque contam com um bom salário, plano de carreira adequado e uma estrutura melhor para exercer seu trabalho. "A falta de interessados é consequência de um sistema de saúde que não é capaz de dar condições adequadas para os médicos trabalharem", opina. Mathias acredita, porém, que trata-se de um problema temporário, uma vez que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já defendeu publicamente a criação de um plano de carreira para médicos em cidades mais distantes.