O câncer de próstata é o tumor que mais atinge homens no Brasil, respondendo por 31% dos casos de tumores, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). No Brasil, a estimativa é de que a cada cem mil habitantes do sexo masculino, 70 desenvolvam a doença. Esse número é ainda mais alarmante no Rio Grande do Sul: a cada cem mil homens, 82 podem ter a doença.
Um dos motivos para a maior incidência no Estado, observa o médico urologista Eduardo Terra Lucas, é a genética. Lucas explica que descendentes de imigrantes europeus, em grande número no território gaúcho, e norte-americanos têm grandes probabilidades de desenvolver o tumor.
Um fator, que reforça a recomendação para antecipar a ida ao médico, é que, há 20 anos, cerca de 80% dos pacientes descobriam a doença em estágio avançado. Hoje o número caiu a 20% dos casos diagnosticados, o que amplia a chance de cura para 95% dos pacientes.
"Isso é o resultado da redução do preconceito e a ampliação das tecnologias que identificam o câncer, como o PSA que chegou ao Brasil há aproximadamente 25 anos", atribui o médico do Hospital Divina Providência, em Porto Alegre.
Em novembro, que marca o mês oficial das campanhas de alerta para a doença, Lucas e outros profissionais que atuam no hospital como a nutricionista Tatiane Carvalho Delavi e os médicos Pedro Geyer e Eduardo Gastal promovem palestras sobre cuidados e boas condutas. Ação explora o símbolo do bigode para relacionar com o crescimento da consciência sobre os riscos. "Que tal você de bigode", é a provocação construtiva.
Conforme o Inca, um homem morre a cada 38 minutos vítima da doença no Brasil. A metástase na glândula costuma aparecer a partir dos 50 anos de idade. Para monitorar os casos e diminuir o número de mortes, os médicos indicam que os homens comecem a fazer os exames de rotina, os principais são os de toque e PSA, aos 50 anos, com algumas exceções.
Homens com histórico de câncer na família e negros devem buscar um urologista aos 45 anos. Essas pessoas tem mais probabilidade de desenvolver tumores na região. "Diagnosticar o câncer antes que ele crie metástase é importante para manter a qualidade de vida do paciente", aponta o médico.
Tanto o PSA como o toque dão apenas indícios de que a próstata pode estar comprometida. Os dois exames devem ser feitos para a constatação da doença, ressalta Lucas. Caso seja identificada alguma anomalia, o urologista explica que o paciente é submetido à ecografia para coleta material para uma biópsia que confirmará ou não o diagnóstico do tumor.
Monitoramento é uma das condutas recomendadas
O controle não vai prevenir um homem de ter o câncer, mas vai facilitar o tratamento do tumor. O especialista comenta que, se diagnosticada no início, a doença pode ter diversos tipos de contenção, como o monitoramento ativo. Nesse método, o paciente tem de comparecer a cada quatro meses ao especialista para realizar os exames de rotina, o que não irá expô-lo diretamente a uma cirurgia.
"Caso haja a progressão da doença, o paciente passa pelo procedimento cirúrgico para a retirada do tumor ou por sessões de radioterapia", esclarece o especialista.
Os tratamentos são definidos de acordo com a gravidade do caso. No cirúrgico, atualmente são utilizados três tipos de cirurgia: a aberta, a laparoscópica e a robótica. A mais comum é a aberta, mas a laparoscopia, que é menos invasiva do que a aberta, está crescendo no Brasil.
O controle da doença também pode ser feito com outros métodos como a hormonioterapia, radioterapia e quimioterapia.
A disfunção erétil é uma realidade para a maioria que passa pelo procedimento, porém é tratável. Isso pode acontecer caso o paciente já tenha problemas anteriores. "No caso cirúrgico, pode ocorrer a disfunção com mais frequência, uma vez que o procedimento pode afetar vasos sanguíneos, mas, na maioria das vezes, o homem vai readquirindo a capacidade sexual com o passar do tempo. O sexo não vai mudar, porém, o homem irá deixar de ejacular por conta da retirada da próstata", explica Lucas.
Aposentado teve o tumor e virou disseminador dos cuidados precoces
Bitencourt faz tratamento de prevenção há 34 anos, teve dois tumores, mas conseguiu vencê-los
CAMILA GOTTWALD/DIVULGAÇÃO
O aposentado Guido Bitencourt faz parte do grupo de homens afetados pela doença. Ele começou a fazer acompanhamento médico para prevenção do câncer de próstata dez anos antes do tempo estimado, aos 40 anos. Por 20 anos consecutivos, frequentou as salas de exames do Hospital Divina Providência, em Porto Alegre, sem constatar a modificação na glândula.
Mas todo esse cuidado não o poupou de ser uma vítima da doença: aos 60 anos de idade, Bitencourt foi diagnosticado com um tumor em fase inicial. Quinze dias depois da confirmação da doença, foi levado para a sala cirúrgica para a retirada do tumor, o que momentaneamente sanou o problema.
Após a cirurgia, como recomendado pelos especialistas, o aposentado intensificou as idas ao urologista. De três em três meses, comparecia ao médico para fazer a coleta de sangue para identificar a quantidade de Antígeno Prostático Específico (PSA, na sigla em inglês) e também o exame de toque, que costuma povoar o universo masculino, mas normalmente como motivo de piadas.
Passaram-se dois anos do procedimento cirúrgico e em uma dessas consultas, foi constatado um aumento no PSA, o que levantou a suspeita de um novo câncer. Uma biópsia acabou confirmando o novo câncer. Desta vez, foi proposto um tratamento diferente, com radioterapia.
Hoje com 74 anos, Bitencourt continua com os monitoramentos trimestrais e critica quem brinca com o câncer de próstata e seus procedimentos. “É muito pior tu deixar de fazer os exames convencionais e quando vê está tomado pelo câncer, porque o tumor não mostra nada no início. Só pode ser constatado pelas buscas convencionais”, complementa o aposentado.
O paciente passou a ser ele mesmo um canal de disseminação das práticas para antecipar eventuais problemas. Bitencourt orienta familiares e amigos a irem ao urologista a partir dos 45 anos. "Como no meu caso, antecipar consultas e exames pode ajudar a diminuir a quantidade de casos com câncer em fases avançadas. Aí, é uma estrada sem volta", adverte o aposentado