Quem disse que é preciso fincar pé em grandes cidades para virar uma marca global? No Rio Grande do Sul, diversas empresas do Interior têm aumentado sua presença no mundo, embora continuem gerando empregos e riqueza onde iniciaram sua trajetória.
A Run More, antiga Rolamoça, aberta em 1996, ocupa um pavilhão de 10 mil metros quadrados em Estrela, com 128 pessoas trabalhando. A indústria de moda feminina esportiva exporta 7% da sua produção para países de cinco continentes, incluindo Austrália, Bolívia, Chile, Costa do Marfim, Equador, Espanha, Estados Unidos, Grécia, Holanda, Itália, Japão, Nova Zelândia e Paraguai. Também estão em negociações destinos como Irlanda, Portugal, Senegal e Uruguai.
A internacionalização, aliás, gerou a troca do nome para o inglês recentemente. Run, que significa correr, tem justificativa, conforme Ana Dullius, diretora de Comunicação e Marketing, 24 anos, filha única dos fundadores, Lia e Alexandre Dullius.
"Nossa empresa quer estar com as clientes nas corridas da vida. Seja a corrida por um aperfeiçoamento profissional ou do meio esportivo", explica, acrescentando que a estamparia brasileira é um diferencial.
Ana diz que, hoje, a conquista de novos clientes pelo planeta ficou facilitada pela tecnologia. A jovem, formada em Moda pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), ressalta, no entanto, que a presença de lojas físicas em pontos estratégicos continua ajudando nesse processo.
"Nossa franquia de Gramado, que já tem duas décadas, e a unidade de Itapema, em Santa Catarina, são vitrines do Brasil que geram contatos internacionais", afirma. A primeira representante estrangeira da marca foi uma empresa do Paraguai em 2006. De lá para cá, várias outras parcerias foram chegando, motivadas, muitas vezes, pela busca dos próprios brasileiros que moram no exterior pela grife.
Uma das missões de Ana, na continuidade do negócio da família, é expandir fronteiras. Por isso, nesta semana, participa de uma feira de inovação em Dubai e já ganhou uma bolsa em Paris. Todas essas experiências refletem no dia a dia do empreendimento.
"Viajamos muito por pesquisa, para agregar à empresa. Estamos sempre olhando o que acontece em volta", expõe. Uma das provas de que o entorno inspira é a novidade da Run More para março: abrirá um outlet ao público em sua fábrica, às margens da BR-386. O motivo é o aumento de turistas na região por conta do Cristo Protetor em Encantado.
A dica para fazer sucesso, tanto fora quanto em território nacional, segundo Ana, é achar um foco, permanecer no mesmo ramo e aprender com os erros cometidos. E, independentemente da língua que fala, se cercar de uma equipe rica.
Grãos de Lagoa Vermelha chegam a mesas distantes
A Naturale, de Lagoa Vermelha, também é uma empresa do mundo. O negócio realiza exportações para o Uruguai, Paraguai, Argentina, República Dominicana e Japão. Para esses países, são enviadas aveias, granolas, barras de cereais, barras nuts, cookies, além de vendas institucionais, ou seja, em sacaria. Foi preciso persistência para estar há 22 anos no mercado. É o que afirma Cristiano Dolzan, diretor da Naturale. Comemorando os resultados dos últimos dois anos, mesmo em meio à pandemia, a meta é crescer de 15% a 20% neste ano.
Mensalmente, 3 milhões de quilos de aveia são usados na produção de derivados do cereal e como ingrediente comercializado para inúmeras empresas produtoras e envazadoras de granolas, barras de cereais e aveias pelo globo. A produção para outras marcas representa hoje, segundo Cristiano, 25% do negócio. "Estamos entre as cinco maiores fabricantes de aveia, granola e barras de cereais do País", afirma. E essa produção expressiva acontece em Lagoa Vermelha, no nordeste do Estado. "No começo, foi bastante difícil porque é um município do interior, cerca de 300 km de Porto Alegre, com menos de 30 mil habitantes, e havia dificuldades de mão de obra mais especializada. E mesmo nós da administração tínhamos dificuldade de acesso ao mercado, conhecimento com as grandes redes varejistas", lembra Cristiano sobre o início do negócio criado pelo seu pai, Antonio Carlos Motta Dolzan, em 2000.
A família sempre esteve próxima da produção agrícola e foi daí que nasceu o desejo de expandir o horizonte. "No fim dos anos 1990 e início dos 2000, optamos por buscar alternativas na agregação de valor aos produtos produzidos na nossa própria propriedade, especificamente da aveia", explica Cristiano, que observa uma mudança no mercado ao longo desses 20 anos. "No início, trabalhávamos especificamente com aveia. Com o passar dos anos, desenvolvemos novos produtos, como granolas, barras de cereais, aveias saborizadas e cookies. Para aumentar a longevidade, a qualidade de vida de todos nós, as necessidades básicas são atividade física e uma alimentação saudável e, nessa área, entra muito a linha dos nossos produtos, porque trabalhamos com itens minimamente processados", pontua.
A crescente preocupação das pessoas com a alimentação nos mais diversos destinos do planeta, acredita Cristiano, foi um dos fatores que fez a empresa crescer mesmo em meio à pandemia, registrando números positivos em 2020 e 2021. "Felizmente, conseguimos, no primeiro ano da pandemia, crescer 20,5% e, em 2021, crescemos 16%. É óbvio que tem um trabalho de lançamento de produtos, conquista de novos clientes, mas pessoas estão buscando uma alimentação mais saudável, então, foram fatores que nos levaram a conseguir crescer mesmo em anos difíceis", acredita o diretor.
Recentemente, a Naturale conquistou o Prêmio Carrinho Agas 2021, na categoria Melhor fornecedor de produtos naturais e integrais, a partir de uma pesquisa espontânea entre 250 supermercados do Estado. O feito é comemorado por Cristiano, que pontua que a falta de conhecimento de mercado foi uma das maiores dificuldades enfrentadas na hora de consolidar o negócio de forma nacional e internacional. É essa, inclusive, a lição que ele compartilha com quem deseja empreender. "Tivemos resiliência, muito foco durante os anos. Foram muitas dificuldades por falta de conhecimento, de preparo. Sou engenheiro agrônomo, mas não tínhamos conhecimento do mercado. Trabalhamos muito, foram altos e baixos, mas tivemos que ter muito foco", garante o executivo.
A história da indústria moveleira que nasceu para ser 100% exportadora
A Madesa nasceu há 45 anos para ser uma empresa 100% exportadora, conta Pedro Cini, CEO do negócio e neto do fundador, Aldo Cini. Seu avô tinha outra indústria de móveis na época e, ao fazer uma visita à Europa, enxergou a oportunidade de enviar o que era produzido no Rio Grande do Sul para a Escandinávia. O negócio, então, foi montado, em 1977, para seus filhos. "Era para ser a empresa da próxima geração", narra Pedro.
Foi, realmente, da geração seguinte, como seu Aldo havia previsto, e agora está no comando da terceira, sob os olhos de Pedro, que fará 32 anos neste mês. O jovem conta que o mercado nacional, no entanto, cresceu tanto que, agora, a exportação representa 10% da produção da Madesa. O objetivo é chegar a 15% até o fim de 2022.
A matéria-prima principal dos móveis da Madesa são chapas de madeira, MDP, MDF e madeira processada. O negócio exporta para diferentes países, atendendo a América do Norte, Europa, Ásia, África e América do Sul.
Pedro revela que os produtos são customizados para cada mercado. Nos Estados Unidos, por exemplo, os racks precisam ser altos, pois os norte-americanos usam o móvel para colocar a televisão em cima. Enquanto na Europa, quanto mais básico e menor, melhor, já que a TV é fixada na parede.
Há diversas estratégias para chegar ao cliente estrangeiro. Uma delas é fazer ofertas em sites de e-commerce dos países, e, claro, no idioma falado pelos moradores. "Temos um posicionamento forte na venda pela internet na exportação. Estamos nesse trabalho de se aproximar do consumidor final internacional", afirma. Os times, inclusive, cresceram por conta disso na Madesa, que dobrou o número de funcionários desde o início de 2020, passando de 400 para 750.
O carro-chefe na América do Sul são as cozinhas, mas a pandemia impulsionou o ramo de escritórios. Para atender a demanda de fora, a companhia incentiva cursos de línguas entre os funcionários. "O mercado externo é mais desafiador que o mercado nacional. Tem que ter preparo para lidar com pessoas de outros países", percebe Pedro.
Entre os desafios da exportação, está a logística, principalmente devido ao volume do nicho que a Madesa atua, mas a tecnologia ajuda. O executivo conta que, recentemente, montou operações nos Estados Unidos e na Europa sem ninguém ter precisado ir a nenhum desses destinos, tudo remotamente.