Durante o período de isolamento social, decorrente da pandemia da Covid-19, muitas pessoas iniciaram novas atividades que pudessem ser realizadas de casa. O Google, inclusive, incluiu a expressão "Como fazer" e "DIY" (sigla para "do it yourself", que significa "faça você mesmo" em português) no ranking das buscas em 2020. Esse comportamento refletiu nas vendas de quem atua no segmento. Segundo Luana da Rocha Missaggia, dona da loja Feito à Mão Artesanatos, a procura por itens e materiais de arte cresceu muito ao longo desse tempo. A empreendedora, que iniciou no ramo em 2018, notou uma grande oportunidade de crescimento.
Há três anos, Luana passou por grandes dificuldades. Apesar de ser formada em Artes Visuais pela Ufrgs, a empreendedora estava há algum tempo desempregada e acabou buscando conforto no artesanato, prática que veio a se tornar sua profissão. No mesmo ano, decidiu enfrentar o desafio de abrir a sua própria loja, um espaço que pudesse oferecer diversos tipos de materiais para artesãos. Atualmente, a Feito à Mão Artesanatos (@feitoamaoloja) fica em Viamão, na avenida Senador Salgado Filho, nº 3820, no bairro Viamópolis.
"Eu tinha pouquíssimo dinheiro na conta. Quando abrimos, a loja estava praticamente vazia, quase sem produtos, mas eu e minha mãe, que trabalha comigo, sempre acreditamos que um atendimento mais humanizado faria a diferença, e fez", conta. Luana explica que busca deixar a clientela livre dentro da loja, para que tenha uma boa experiência e queira voltar futuramente. Ela acredita que esse é o grande diferencial do seu negócio. "As pessoas vinham procurando por uma coisa que não tinha, porque não tinha quase nada (risos), mas a gente conversava e brincava tanto com eles que acabavam comprando mesmo assim. E, até hoje, essas mesmas pessoas frequentam", afirma.
Enquanto tentava fazer o seu negócio decolar, Luana passou por uma das maiores dificuldades que empreendedores iniciantes enfrentam: economizar. "Eu moro em Porto Alegre, mas comecei a dormir na loja para não gastar dinheiro em passagem. Passava a madrugada toda fazendo artesanato para ter o que vender no outro dia, depois esticava um colchonete no chão e dormia ali mesmo. Apostei muito nela, minha vida era voltada para isso", diz. E foram dois anos assim, dormindo no chão do trabalho e economizando tudo o que podia. A empreendedora pôde, então, expandir o seu espaço. Desde que abriu, já alugou a peça atrás do seu empreendimento e, agora, está reformando o segundo andar, que será voltado totalmente para realização de cursos.
"A proposta nunca foi vender o produto pronto, mas sim apostar que as pessoas teriam mais prazer comprando o material para exercer a atividade em casa. Colocamos algumas criações próprias à venda, mas sempre no intuito de mostrar o que pode ser feito com o que vendemos aqui", expõe. Na intenção de estimular ainda mais a sua clientela a criar seus próprios trabalhos, Luana e a mãe, Beatriz, começaram a ministrar cursos de crochê, tricô e decoupagem em madeira. Durante a pandemia, as aulas tiveram de ser canceladas, mas, assim que o novo ambiente estiver pronto, a ideia é retomar com as turmas.
A empreendedora afirma que a pandemia deu um up nas vendas, porque muitas pessoas começaram a apostar no artesanato como forma de se distrair durante o isolamento social e de gerar uma renda extra. Ela ainda conta que a sua atual prioridade é crescer no espaço que já tem, mantendo o público de Viamão, que muitas vezes acaba se deslocando até o centro de Porto Alegre quando busca por materiais. "Já temos muito retorno aqui. Em um futuro distante, até penso em abrir uma filial, mas antes quero estar bem estabelecida e com a melhor loja possível onde estou", complementa. A loja abre de segunda à sexta, das 9h às 12h e das 14h às 18h, e aos sábados, das 9h às 13h.
Da arquitetura para a produção de vasos de feltro
A paixão por plantas fez com que a arquiteta Gabriela Soares Machado, 26 anos, criasse o Ateliê Amália em abril passado. A marca é especializada em vasos feitos de feltro para plantas e velas aromáticas para o ambiente. "Eu sempre tive bastante planta em casa, mas nunca gostei de comprar vaso de plástico. Desde o ano passado, resolvi reduzir a produção de lixo também", conta a empreendedora, que se inspirou em lojas de São Paulo para a criação da marca.
O foco do Ateliê está no "Urban Jungle", expressão americana para traduzir uma selva na cidade, e na sustentabilidade. "Todo lixo que produzo é reciclado. Separo e levo para uma companhia que faz o destino correto", afirma. Na equipe do Amália, estão Gabriela, responsável pelo marketing, o namorado Vanderson Friedrich, que cuida da parte financeira e da entrega, e a sua mãe, Caren Soares, que é a costureira. O feltro é comprado de forma online na capital paulista e é costurado com camadas e tamanhos necessários para plantação.
O diferencial do feltro em relação aos vasos de plástico ou de barro está no crescimento sustentável. De acordo com a arquiteta, os outros materiais sufocam a raiz, podendo prejudicar a planta, enquanto o feltro permite entrada de ar, impedindo que ocorra corte químico. Outra questão é a camada de drenagem necessária dentro do vaso. "A água depositada na planta precisa escorrer. Neste tipo de tecido, ela não evapora tão rápido, além de haver uma cobertura contra graminhas e bichos", explica. Em relação à durabilidade, o feltro é mais resistente. "O tecido é antimofo e suporta mais sol. A única coisa que pode danificá-lo é o tipo de lavagem não adequada. É possível trocar apenas quando o vaso fica muito pequeno para a planta, já o de plástico e o de barro podem quebrar", complementa.
Os vasos e as plantas são vendidos a partir de R$ 16,00, com tamanhos variados, além das velas aromáticas de baunilha. Para adquirir, é necessário entrar em contato pelo Instagram (@amaliatelie) ou pelo WhatsApp. Sem pagamento antecipado, as encomendas são entregues por motoboy ou aplicativo.
Gabriela é empreendedora de primeira viagem e conta que não foi fácil sua adaptação no mercado. "No começo, eu não tinha organização e tive que me ajustar aos processos. O financeiro foi o que mais me prejudicou, mas consegui ter apoio do meu namorado que cursa Ciências Contábeis", reconhece. A arquiteta também já trabalhou com marketing, experiência que lhe ajuda. "Eu tinha uma empresa de design gráfico com uma amiga, então fazer o layout e interagir nas redes sociais, não foi difícil", conclui. Por mais que o início tenha sido difícil, a empreendedora pensa em seguir apenas com o Ateliê. Como um ato de coragem, Gabriela está apostando no e-commerce, mas não descarta as possíveis feiras nos finais de semana. "Iniciamos na pandemia e as vendas online cresceram muito. Tem gente que compra quase todos os meses. Agora, estou participando de várias feiras e deixo avisado no Instagram quais vou estar presente. Quero ir para o Bom Fim ou Cidade Baixa, tento não ficar sempre no mesmo lugar", admite.
O que Gabriela também não descarta são os diversos aprendizados que teve durante o ano. "Nem tudo dá para fazer sozinha. Para chegar nas pessoas, é preciso postar muito. Tive que estudar sobre plantas, marketing e financeiro. Minha maior conquista no mercado foi a aceitação das pessoas. Recebo muitos elogios nos retornos. Fico feliz porque é resultado de todo trabalho e preocupação que tive para entregar um bom produto", celebra.
Instagram como vitrine de quem começa
Foi em 2020, em meio à pandemia da Covid-19, que Nathália Maciel, 20 anos, decidiu se aventurar e aprender a fazer crochê. "Me apaixonei por uma bolsa de fio de malha que vi na internet, e como a minha avó é costureira, pedi para ela fazer. Com toda a função da pandemia e do isolamento social, acabei me interessando por entender mais sobre os processos de costura", conta. Algum tempo depois, a jovem criou um perfil no Instagram dedicado para anunciar e vender as suas peças: @crochedanath_. Agora, ela também participa de feiras de artesanato em Porto Alegre.
"Aprendi o básico com a minha avó, como pegar na agulha e fazer alguns pontos, mas eu gostei tanto que decidi aprender mais por conta própria. Assisti muitos vídeos no YouTube e fui me aprofundando nas técnicas, até que notei que aquilo poderia virar uma fonte de renda", explica.
A empreendedora conta que a dificuldade em encontrar um estágio na área que estuda, Processos Gerenciais, somado com o estudo à distância, foi fundamental para que ela investisse no seu próprio negócio.
Outro fator essencial para tirar o sonho do papel, segundo Nathália, foi todo o apoio que recebeu de amigos e familiares. "Eu tinha medo de que, por ser muito nova, recebesse muitas críticas, mas foi bem pelo contrário. Minhas amigas e família me ajudaram muito nesse processo, sempre me incentivando", afirma. Recentemente, a jovem participou da sua primeira feira, na Praça da Encol.
"Amei a experiência. Poder sair do Instagram e ver pessoas, ter esse contato humano e físico foi incrível", expõe. Em 14 de novembro, ela participou da feira Tô na Rua, na avenida Bento Figueiredo.
Os planos são, para o futuro, abrir uma loja que venda mais do que as suas peças, como materiais de artesanato e outros itens, mas Nathália não tem pressa para fazer essa expansão. "Ainda não penso em prazos, eu sonho fazer isso e sei que, quando der, vai acontecer", completa a empreendedora.