Empresas optam pelo formato no atual estágio da pandemia

Modelo híbrido é tendência no mercado de trabalho


Empresas optam pelo formato no atual estágio da pandemia

Em março de 2020, quando a Covid-19 chegou ao País, as empresas se viram obrigadas a implantar um novo formato de trabalho que, até então, era somente teórico: o home office. Passados quase dois anos, estudiosos do tema afirmam que o trabalho em ambiente domiciliar veio para ficar, mas não compreenderá a totalidade do tempo da equipe, o que manterá escritórios e sedes ainda ativos. Segundo Carmen Castro, mestre em Ciências Sociais e coordenadora do Núcleo de Práticas em Negócios da Fadergs, o trabalho híbrido continuará em alta mesmo após o fim da pandemia e do isolamento social. "É um caminho sem volta", afirma.
Em março de 2020, quando a Covid-19 chegou ao País, as empresas se viram obrigadas a implantar um novo formato de trabalho que, até então, era somente teórico: o home office. Passados quase dois anos, estudiosos do tema afirmam que o trabalho em ambiente domiciliar veio para ficar, mas não compreenderá a totalidade do tempo da equipe, o que manterá escritórios e sedes ainda ativos. Segundo Carmen Castro, mestre em Ciências Sociais e coordenadora do Núcleo de Práticas em Negócios da Fadergs, o trabalho híbrido continuará em alta mesmo após o fim da pandemia e do isolamento social. "É um caminho sem volta", afirma.
"Podemos imaginar que o modelo híbrido é o melhor de dois mundos, unindo a parte presencial, extremamente importante para desenvolver uma cultura organizacional e convivência em equipe, com a liberdade do home office", explica. A autonomia e flexibilidade impostas pelo trabalho remoto são os maiores diferenciais, que possibilitam o desempenho de tarefas em qualquer lugar do mundo, desde que haja conexão à internet. Porém, de acordo com Carmen, o que pode ser uma vantagem para alguns se transforma em um grande desafio para outros.
"Para o home office funcionar bem, vai depender muito do perfil dos colaboradores e de seus gestores. Dependendo da organização de ambos, pode ser um formato muito vantajoso, resultando em maior produtividade e redução de custos para os dois lados. Mas, se esses modelos não forem conciliados da maneira correta, a qualidade do trabalho pode ser perdida", expõe.
Sendo assim, o novo formato exige um maior esforço e dedicação por parte das empresas, que também devem adaptar seus processos, pensando em novas estratégias de engajamento para seus funcionários.
Dados de uma pesquisa realizada pela Hibou - empresa de monitoramento de mercado e consumo -, em maio deste ano, revelou que 64,8% dos brasileiros entrevistados deseja manter o regime de trabalho home office no futuro. "Até pouco tempo, trabalhar em casa não era a principal prioridade para os funcionários. Hoje, está na lista de desejos. Um dos primeiros pontos em vagas abertas aos quais os candidatos se atentam está relacionado à possibilidade de trabalho remoto. No geral, as pessoas estão buscando, no mínimo, um trabalho híbrido", salienta Carmen.
Para ela, uma das questões mais importantes a ser tratada nesse novo modelo é a confiança mútua. "Pode ter sido difícil para se adaptar no início, mas agora que já foi feito, é muito improvável que voltemos atrás. O mercado de trabalho mudou e, agora, as empresas precisam acreditar que seus funcionários estão cumprindo seus horários e demandas. Além disso, o trabalho híbrido vem sendo visto pelos colaboradores como uma forma de atenção e cuidado pelos seus gestores", conta.
Segundo a professora, o fato de as pessoas serem seres sociáveis resume o porquê da preferência pelo modelo híbrido. "Uma cultura organizacional forte e o sentimento de filiação são construções nas quais a convivência é a base. Esse processo é extremamente importante para as pessoas, gerando momentos de interação e um sentimento de pertencimento, com alinhamentos de processos e rotina onde todos saem ganhando. O desenvolvimento como pessoa se dá pela troca de experiências, situação que mais sentimos falta trabalhando apenas em casa. O trabalho pode ser a distância, mas não pode ser distante. Não podemos nos distanciar como sociedade", conclui.
Três dicas de preparação para o contexto atual
1 Mantenha um ritmo de trabalho funcional, seja onde estiver. A organização e o comprometimento são fatores-chave.
2 Construa vínculos de confiança entre colaboradores e gestores, abrindo portas para uma comunicação sincera e transparente.
3 Pratique auto avaliação profissional. Procure entender se você é mais produtivo em casa ou no ambiente organizacional.

Empresa busca resgatar interatividade perdida durante período de isolamento

Tendo como um dos principais pilares da marca a troca de experiências, a Zallpy Digital, empresa de tecnologia e inovação, foi obrigada a aderir ao home office durante o período de pandemia. Segundo a sócia e head de pessoas da organização, Lisiane Breyer, o formato acabou prejudicando a sociabilidade e integração da equipe. Sendo assim, quando as atividades presenciais começaram a retomar, a Zallpy decidiu aderir ao modelo híbrido de trabalho.
“Esse ano, nós realizamos uma pesquisa com todos os nossos funcionários, sobre como eles gostariam de trabalhar. Cerca de 80% dos colaboradores optaram pelo modelo híbrido, então atendemos essa solicitação da equipe. Agora, trabalhamos três dias da semana em casa e dois na empresa”, conta Lisiane.
Segundo a sócia, foi realizado um investimento no departamento de recursos humanos, contratando mais colaboradores, e esse feito foi a peça fundamental para que o trabalho remoto funcionasse da melhor maneira possível. “Embora o trabalho do endomarketing tenha sido árduo nesse tempo de pandemia, ele também apresentou excelentes resultados. Estamos conseguindo manter uma proximidade entre pessoas que estão fisicamente distantes, o que é incrível”, afirma. A empresa adotou novas técnicas, como realização de lives, webinários e programas online, buscando manter a equipe integrada.
A Zallpy iniciou o formato híbrido no fim de agosto, e mesmo que seja um curto período de tempo, a empresa afirma que a satisfação da equipe é notória. “A nossa empresa tem um DNA e cultura muito interativa, acreditamos que o ambiente de trabalho de todas as nossas sedes estimula essa troca de experiência e engajamento, então esses dias presenciais estão sendo essenciais”, diz.
Lisiane afirma que o grande diferencial desse modelo é que os colaboradores podem, ao mesmo tempo, usufruir tanto das vantagens que o ambiente empresarial oferece, quanto dos seus lares. “É uma flexibilidade muito maior. Eles não precisam mais gastar tempo de deslocamento e horas no trânsito, e ainda atendem a necessidade de contato social e troca de experiências, afinal, o ser humano é feito de relacionamentos”, expõe. A dica para empresas que estão pensando em optar pelo híbrido ou voltar ao presencial, segundo Lisiane, é planejar tudo com muita antecedência, dando tempo para os colaboradores se adequarem a essa nova rotina.

Negócio de software já atuava com flexibilidade

Alguns meses antes do início da pandemia da Covid-19, quando o mundo precisou se adaptar ao trabalho remoto, a SMark CRM, empresa de software focada em vendas, já optava pelo equilíbrio entre o home office e o presencial. Segundo o CTO e um dos sócios da organização, Fábio Beckenkamp, o novo formato foi adotado quando a sede da empresa trocou de espaço. A mudança ocorreu de um prédio no centro de Porto Alegre para o Parque Científico e Tecnológico da Pucrs. "A nova localização ficou bem distante para alguns colaboradores, que precisariam pegar de duas a três conduções para chegar lá. Então, conversamos e decidimos que alguns dias da semana o trabalho seria remoto e outros, presencial", explica.
De acordo com Fábio, a transição ocorreu de maneira muito tranquila, sem necessidade de grandes adaptações em seus processos diários. "Como somos uma empresa de tecnologia, já vínhamos praticando esse processo de digitalização há muitos anos, estava tudo na nuvem, então estar ou não no escritório não faria diferença. Diria que nós já estávamos uns 95% preparados para o trabalho remoto", conta. Questões de segurança, como senhas e acessos, precisaram ser reforçadas. Por contarem com uma equipe relativamente pequena, cerca de 15 pessoas, o CTO afirma que o monitoramento do trabalho remoto é realizado de uma forma humanizada. "Nós conversamos muito com a nossa equipe, é um acompanhamento bem frequente sobre como estão as suas rotinas. Nós enfrentamos alguns problemas relacionados à falta de motivação e saúde mental, mas tudo foi resolvido com um diálogo muito aberto", expõe.
Desde que aderiram ao formato híbrido, Fábio conta que alguns setores foram visivelmente beneficiados, mas outros, nem tanto. "Sabemos que, dependendo da área de atuação, o online pode ser melhor ou pior. Com a equipe de desenvolvimento de software, por exemplo, notamos uma maior produtividade e foco no trabalho. Já a equipe comercial foi o contrário, até por ser um trabalho que requer uma relação mais próxima", diz.
De acordo com ele, o principal ganho do home office é poder contratar pessoas de lugares distantes, porque não existe mais a necessidade de morar perto da empresa. "Quando eu comecei a trabalhar, morava a 1h30min de distância do meu emprego. Meu sonho sempre foi morar a, pelo menos, algumas quadras do trabalho. Se, naquela época, eu tivesse um trabalho remoto, meus sonhos seriam muito diferentes", brinca. A economia também é apontada pelo gestor como uma das grandes vantagens, tanto para a empresa, quanto para os colaboradores.
 

Empresa colocou piloto em prática

A Bebidas Fruki tinha um projeto piloto de home office, que teve de ser acelerado devido à pandemia. Com o surgimento do novo coronavírus, foram mapeadas as operações que poderiam permanecer em casa de acordo com a atividade exercida. Desde então, uma nova rotina se estabeleceu. Ana Luisa Herrmann, gerente de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Bebidas Fruki, afirma que esse movimento é uma tendência global. "A flexibilidade faz parte de uma gestão alinhada, trazendo benefícios, como tempo de deslocamento e custos, e a possibilidade do profissional ter uma vida integrada entre o trabalho e a família", diz.
Segundo a gerente, depois de seis meses, uma pesquisa foi realizada para entender como as pessoas estavam se sentindo trabalhando em casa. O resultado foi que alguns funcionários sentiam a falta do vínculo com os colegas de trabalho. Nesse caso, o modelo híbrido fez mais sentido. "Tratamos de uma forma muito aberta esse formato, em que o líder, junto com o profissional, vem compondo um modelo de trabalho que garanta as entregas e que o time se sinta confortável para realizar suas atividades diárias."
A empresa, inclusive, intensificou a comunicação interna, buscando aproximar seus profissionais. "Fez muito sentido ficarmos próximos. Fizemos um trabalho de endomarketing para incentivar o cuidado da mente e da saúde dos nossos profissionais e teve excelentes resultados", diz a gerente.