Se há um setor que cresceu em 2020, é o de delivery. Impossibilitados de frequentar restaurantes e bares durante o pico de contágio da Covid-19, consumidores investiram em refeições no conforto do lar. Segundo dados da Mobills, startup de gestão de finanças pessoais, entre os meses de abril e junho, os gastos com os principais aplicativos de entrega de comida (Rappi, iFood e Uber Eats) cresceram 94,67%, ou seja, quase dobraram na comparação entre janeiro e maio de 2019. Esse crescimento deve continuar mesmo quando a pandemia for embora. Porém, ainda há desafios a serem superados.
Conforme aponta o especialista em Alimentos e Bebidas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Rio Grande do Sul (Sebrae-RS), Roger Kafkle, uma das grandes dificuldades que os empreendedores da área de alimentação enfrentam é conseguir embalagens apropriadas e baratas. "A tecnologia de embalagens ainda está se desenvolvendo. Os consumidores não entendem o preço", observa. Nessa esteira, o acesso a insumos também se mostrou ser um desafio durante a pandemia, quando a demanda cresceu repentinamente e os fornecedores não conseguiram acompanhar o ritmo.
Porém, Roger reconhece a importância que o delivery e o takeaway tiveram durante o período conturbado para os restaurantes. Segundo ele, há cerca de quatro anos já se vem observando uma alta nas modalidades. "O delivery é uma boa oportunidade para testar produtos e prototipar. Já era um canal de venda importante. Por ser a única possibilidade nessa época, cresceu", afirma. Por isso, a expansão das dark e cloud kitchens (cozinhas focadas em tele) deve ser tendência. Para fortalecer as entregas, ele destaca que os estabelecimentos devem sempre observar se o item do cardápio "viaja bem". Isto é, se a qualidade do produto não é muito prejudicada no trajeto até a casa do cliente.
Essa opinião é compartilhada pela presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Rio Grande do Sul (Abrasel-RS), Maria Fernanda Tartoni, que salienta a importância de se dedicar a uma operação de delivery bem estudada e estruturada. "Estabelecimentos que já tinham o delivery no seu DNA cresceram. E mesmo aquele que nunca pensou em trabalhar com isso teve de se adaptar", pontua.
Outra dificuldade que os empreendedores têm de enfrentar, expõe ela, é a margem que os aplicativos de entrega cobram pelo funcionamento. "Apps ficam com 10% a 30% do faturamento. Com uma logística própria, chega a 12%", ressalta.
Para fugir das porcentagens, Fernanda afirma que existem sistemas de gestão que criam links direto para os pedidos, sem necessidade de fazer download de aplicativos. Porém, esses recursos demandam um trabalho diferente.
"É uma alternativa dispendiosa, que não dá resultados da noite para o dia", afirma. Como tendência de preferência dos consumidores, a presidente pontua que os lanches (pizzas, hambúrgueres, xis, entre outros) continuam sendo a unanimidade. Porém, com a pandemia, a preocupação com a saúde aumentou, o que pode fortalecer os negócios que apostam em alimentação saudável.