Cercados por celulares que registram imagens com alta qualidade, profissionais enfrentam o desafio de se reinventar

Mercado da fotografia passa por transformações


Cercados por celulares que registram imagens com alta qualidade, profissionais enfrentam o desafio de se reinventar

O mercado da fotografia mudou muito nos últimos anos devido à popularização dos smartphones. Alguns profissionais do ramo encaram isso como ameaça, mas outros enxergam oportunidades.
O mercado da fotografia mudou muito nos últimos anos devido à popularização dos smartphones. Alguns profissionais do ramo encaram isso como ameaça, mas outros enxergam oportunidades.
"Todo mundo que tem um celular é um fotógrafo em potencial. Antigamente, poucos nomes dominavam o mercado", compara uma das donas da Fluxo - Escola de Fotografia e Cinema, de Porto Alegre, Evelyn Hunsche Ruhl.
A própria Evelyn é uma otimista do segmento. Há sete anos, ela foi contratada como arquiteta - sua formação original - para fazer o projeto da Fluxo. Apaixonou-se tanto pelo tema que entrou junto na iniciativa. Ela permaneceu no negócio e, hoje, conta com a parceria da irmã Vivian Hunsche Ruhl - que era do ramo de Recursos Humanos - na administração da empresa. 
A dupla quer mostrar que, embora os equipamentos estejam mais acessíveis, foto vai além de apertar botões, pois o fotógrafo deve estar atento à linguagem, à composição e à luz. "Pode estar numa roupa, projetada durante uma apresentação de dança", resume Vivian. "Hoje, o mundo se comunica através de imagens, e cabe a cada um de nós nos alfabetizarmos imageticamente", emenda Evelyn. 
E está aí, de acordo com elas, o novo filão. Se no passado a grande demanda era por retratos 3 x 4 e impressões 10 cm x 15 cm, agora são as marcas que necessitam de boas produções para sobreviver. Isso, no entanto, exige fotógrafos com um perfil diferenciado. "Se a foto de um produto no Instagram fica ruim, parece que o produto em si é ruim", afirma Evelyn.
Vivian ressalta que a Fluxo quer atender a esse novo tipo de profissional e aqueles que enxergam na atividade um despertar para um olhar mais sensível de vida. No local, os cursos duram entre sete horas e 48 horas, com preços de R$ 250,00 a R$ 1,4 mil. Há capacitações de fotografia para arquitetura, retrato, celular, moda e outras.
As irmãs calculam que mais de 6 mil alunos tenham passado pela escola - o que prova que há maneiras, sim, de manter a profissão atrativa. 

Os primeiros registros da vida

Foi durante uma viagem a Israel com a família, em 2011, que a arquiteta Milene Gensas, agora com 46 anos, lembrou de um desejo antigo: fazer um curso de fotografia. Quando ela voltou a Porto Alegre, se inscreveu numa especialização na ESPM-Sul. Começou, assim, a troca de carreira.
Depois da introdução às técnicas na faculdade, Milene fez várias outras capacitações. Numa delas, em São Paulo, se achou. O congresso de fotografias de recém-nascidos lhe conquistou. Ela se apaixonou pela tendência de registrar os primeiros dias de vida dos bebês - um mercado que explodiu nos últimos anos.
"A prática já faz parte da lista de afazeres dos pais", percebe Milene. Depois de ter feito cerca de 200 ensaios newborn, ela cobra a partir de R$ 720,00 pelo serviço. Vinda de outra área, vê que o segmento da foto é promissor. "É uma arte", enfatiza.
Mas é necessário preparo e repertório de vida para se destacar na profissão. Milene, mãe de dois meninos, afirma que o fato de ter vivido a maternidade é uma vantagem. "Estou sempre pensando mais no bebê que na foto. Cuido do peso da cabeça, da circulação dos pés. Há posições que eu não faço", avisa, sobre a forma que diz preservar as crianças.
Para se sentir segura no nicho newborn, Milene fez 10 ensaios gratuitos para conhecidos antes de começar a cobrar. Além disso, está sempre de olho em eventos. Como os produtos que entrega são recheados de afeto, acompanha as tendências de impressão das imagens. Por isso, oferece opções em madeira, álbuns e quadros.
Por uma questão estratégica de negócio, a fotógrafa também começou a fazer fotos de gestantes. As mães se empolgam e depois estendem a experiência aos pequenos.
Atualmente, Milene tem um estúdio na avenida Ipiranga, na Capital, e aceita trabalhos que tenham sintonia com o seu perfil. Ela faz apenas um sessão de recém-nascido por dia, por exemplo, pois ressalta que cada bebê tem seu tempo e forma de adaptação aos flashes. Entre um chorinho e outro, ela vive o sonho de viver fazendo o que ama.

Cinco décadas de atendimento personalizado

Diferentemente de alguns anos atrás, está cada vez mais difícil achar lojas que vendam acessórios, filmes e equipamentos de fotografia. A Casa do Filme, na rua Alberto Bins, nº 877, em Porto Alegre, aberta em 1969, segue firme. E com nova administração desde fevereiro.
Tiago de Souza, Jorge Xavier, Marlon Silva e Anderson Cherubim, estreantes no empreendedorismo, em pleno 2019, decidiram adquirir o ponto. Os quatro sócios apostam em atendimento personalizado e atenção às tendências. Juntos, eles acumulam quase 60 anos no ramo. "Temos muitos planos em mente, mas queremos esperar fechar um ano para colocá-los em prática", promete Tiago. Uma das ideias é montar uma consultoria para fotógrafos e interessados na área. Atualmente, esse auxílio aos clientes acontece informalmente no balcão.
A Casa do Filme está presente na internet há 10 anos com o e-commerce (casadofilmers.com.br) e em outras plataformas, como o Mercado Livre e o WhatsApp. Reformulado por Anderson, que também trabalha com computação, o site novo deve ser mais dinâmico. Essa adaptação ao mundo digital reflete na gama de produtos oferecidos. "Vendemos equipamentos para youtubers, como microfones e tripés", afirma Marlon.
Mas não é só o digital que influencia nos números da loja. "Uma vez, na novela, apareceu uma personagem em um estúdio com um ring light (tipo de luminária para foto). As pessoas enlouqueceram. Uma moça gastou R$ 800,00 para iluminar o banheiro dela", conta Marlon.
Todas essas referências estão no radar da loja que, hoje, fatura com a montagem de estúdios fotográficos. "Representa cerca de 70% das vendas", pontua Tiago.
Para o próximo ano, os sócios revelam que também pretendem fechar parcerias com importadoras para suprir um grande gargalo do setor. "Assim como tem poucas lojas de fotografia no Brasil, há poucos fornecedores especializados, então ficamos reféns", ressalta Marlon. As mercadorias, que chegam através de contêineres na maioria das vezes, ficam trancadas nos portos por problemas de logística e prejudicam o comércio.