Júlia Fernandes

A ideia é valorizar o negro, seja como empreendedor ou como consumidor

Loja de roupas típicas africanas abre em Porto Alegre

Júlia Fernandes

A ideia é valorizar o negro, seja como empreendedor ou como consumidor

Consone vem do verbo consonar, que significa harmonizar, conceituar e aceitar. Dessa proposta, foi inaugurada uma loja de moda africana com esse nome em Porto Alegre (Galeria do Rosário, no Centro, sala 1311). Mais um empreendimento que mostra o potencial do público negro, tanto para empreender quanto para consumir.
Consone vem do verbo consonar, que significa harmonizar, conceituar e aceitar. Dessa proposta, foi inaugurada uma loja de moda africana com esse nome em Porto Alegre (Galeria do Rosário, no Centro, sala 1311). Mais um empreendimento que mostra o potencial do público negro, tanto para empreender quanto para consumir.
O lançamento, há dois meses, teve um desfile com um elenco 100% composto por pretos, na Casa de Cultura Mário Quintana. A idealização partiu de Agossou Djosse Ignace Kokoye, africano conhecido como Kadi, de 30 anos. Ele é engenheiro agrônomo e bancário, e decidiu apostar no mundo da moda após perceber no Rio Grande do Sul uma certa carência de marcas que pensassem na identidade de pessoas negras.
Kadi veio ao Brasil em 2010. Natural de Benin, país situado na África ocidental, usava as roupas de seu país, o que rendia olhares na rua. “Lembro que, em 2016, as coisas começaram a mudar. O movimento de empoderamento, o conceito de beleza, a identidade afro se afirmando”, comenta o empreendedor.
LUIZA PRADO/JC
Ele acredita que a cena do mundo pop contribui para que essas afirmações se consolidem. Entre os artistas que dão visibilidade à temática estão a cantora Beyonce, com seu álbum Lemonade usando roupas africanas e suas coreografias da cultura africana, e o rapper norte-americano Kendrick Lamar. “Mais recentemente, podemos citar o filme Pantera Negra, em que colocam nossa cultura como algo vindo de reis, algo da realeza e isso tudo contribui”, ressalta.
Depois de uma visita a Benin, voltou com o desejo de trazer as roupas para os gaúchos. E o mais curioso: ele queria encontrar uma forma de usar as peças no outono e inverno.
Alguns modelos vendidos pela Consone são confeccionados em países como Togo, Benin, Costa do Marfim e Nigéria. Segundo o empreendedor, as taxas de importação dificultam o negócio. Para driblar isso, ele até já tentou produzir versões por aqui, porém se decepcionou com as costureiras parceiras, que não conseguiam seguir o modelo correto do molde. “Já teve pessoas que estragaram mais de oito metros de tecido, e isso é um prejuízo.”
Antes de abrir a loja, Kadi fez uma pesquisa para entender a demanda, até porque não tinha um estoque grande até então. “A gente não planeja há anos. Foi assim: ‘Vamos fazer? Vamos’. E deu muito certo”, comenta.
Nesse momento, entendeu o quanto a população negra da Capital esperava por algo do tipo. “As pessoas precisam, além de se identificar, mostrar isso, usar algo que caracterize elas”, afirma o africano.
A sócia de Kadi, Iyá Inajara T’Yemonjá, 21 anos entrou para o negócio quando viu a necessidade do amigo em ter um espaço físico para armazenar a mercadoria. Ela já tinha uma sala comercial no Centro Histórico. E os resultados estão acima do esperado. “Na semana que ocorreu o desfile, vendemos mais de 30 peças”, comenta Kadi.
Eles têm, ainda, planos de distribuírem para outras lojas. Pedidos começam a chegar de Caxias do Sul, Pelotas, Santa Cruz, entre outras cidades. “Tudo que a gente fez está voltado para beleza negra. Mostrar que a pessoa negra tem uma beleza única, uma beleza que não tem definição, uma coisa que nasce e é natural”, ressalta Kadi. “A Consone é isso, mostrar que a gente pode dar valor à nossa própria beleza”, detalha.
Além de exaltar beleza afro, a marca tem a preocupação de fomentar toda a cadeia. “Acho importante que a gente coloque nossas confecções nas mãos de pessoas negras para que nosso dinheiro venha de pessoas negras e vá para pessoas negras”, afirma o afroempreendedor.
LUIZA PRADO/JC
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