O retorno para o mercado de trabalho após a maternidade nem sempre é fácil, especialmente para mulheres com empregos fixos e carga horária rígida. Foi exatamente isso que a publicitária Luciana Cattony, 41 anos, sentiu quando voltou, há 8 anos, para a agência que trabalhava antes do nascimento do filho. A vivência de um episódio trágico na família a fez repensar a sua carreira. "Perdi uma prima de 1 ano de idade e isso mexeu comigo.
Se eu morrer amanhã, o que eu vou levar dessa vida? Então decidi pedir demissão para passar mais tempo com o meu filho." Foi então que criou o projeto Real Maternidade, a fim de ajudar outras mães. Em 2017, foi convidada para participar de uma pesquisa internacional sobre carreira e maternidade. O resultado desse estudo foi o berço do projeto
Maternidade nas Empresas, criado em 2018 junto com a sócia Susana Zaman, 35 anos, engenheira de produção e especialista em RH.
GeraçãoE - O que motivou a criação do projeto Maternidade nas Empresas?
Luciana Cattony - A maternidade torna a mulher uma profissional melhor e as mães não sabem disso. Conhecia a Susana e sabia que ela também tinha vontade de mudar essa realidade. Quando ela ficou grávida da primeira filha, não voltou para o mercado de trabalho porque o ambiente não estava preparado para a receber como mãe. Iniciamos o projeto para trabalhar esse tema dentro das organizações. Essa mensagem dentro das empresas tem um potencial muito grande. A maternidade ainda é um dos principais obstáculos para as mulheres seguirem na carreira.
GeraçãoE - Quais serviços vocês oferecem para as empresas?
Luciana - Temos três pilares de atuação: educação e fomento, ciclo de vida do colaborador e conteúdo estratégico. Realizamos palestras, workshops, cursos on-line e soluções voltadas para o gestor, porque ele não sabe como a gestante ou a mãe que volta da licença se sente. No ciclo de vida do colaborar, fazemos worskhops de cocriação para tornar a empresa mais atrativa para mulheres e para mães com o objetivo de reter os talentos femininos dentro das organizações. No pilar de conteúdo, transformamos o que falamos nas palestras em material para as empresas.
GeraçãoE - Por quantas empresas o projeto já passou?
Luciana - São oito clientes recorrentes. Passamos na Yara Brasil, Discovery, Lojas Lebes, Renner, Dell, Whirlpool, Gerdau e AGCO. Acreditamos que o papel das empresas mudou. O futuro será feito por organizações que entendem a equidade de gênero como instrumento para alavancar os ambientes e os negócios.
GeraçãoE - O que as mães e mulheres sentem quando o projeto chega nas empresas?
Luciana - É incrível. Muitas se emocionam e dizem que não imaginavam que eram isso tudo. A mãe é excluída em termos profissionais. A sociedade encara a licença maternidade como um movimento de descer um degrau na carreira. Através da nossa palestra, elas enxergam que são profissionais ainda melhores depois de serem mães. Mais produtiva, com melhor comunicação, gestão de recursos, gestão de crise. O segredo é como eu transporto isso para a minha carreira. Quando eu preciso ensinar algo para o meu filho, eu abaixo, olho nos olhos, mostro pra ele como faz, deixo ele errar, comemoro quando ele acerta. Quando vou ensinar algo para um colega, no entanto, mando um e-mail. Eu posso olhar nos olhos de uma pessoas no meu ambiente trabalho, posso celebrar quando ela acerta. São essas habilidades que as mães levam para o ambiente corporativo.
GeraçãoE - De que maneira gestores e colegas podem acolher as mulheres que estão nesse momento?
Luciana - Tem que ter empatia para se sensibilizar com a situação do outro. As pessoas, às vezes, agem de maneira equivocada por desconhecimento, e não por mal. A partir do momento que a gente mostra a maternidade como uma habilidade, todo mundo olha de uma maneira diferente. É questão social, e não um problema da mulher.