As mulheres ainda são minoria em cargos estratégicos nas empresas, ocupando apenas 20% das funções de liderança no mundo, segundo a Análise de Governança Corporativa Global 2018, realizada pela multinacional Alexander Hughes, empresa de recrutamento executivo presente em 41 países. Enfrentando esses números negativos, a engenheira civil Paula Bulla está à frente da gestão da Coleurb, uma das empresas que realiza o transporte público de Passo Fundo. Com 60 anos de atuação, a Coleurb transporta 1 milhão de passageiros por mês. Nesta entrevista, Paula fala sobre os desafios de sua gestão e como incentiva outras mulheres a buscarem cargos de liderança.
GeraçãoE - Qual o desafio de ser uma gestora mulher?
Paula Bulla - Você precisa amar o que faz, sentindo-se desafiada todos os dias. A profissão que escolhi há 22 anos, Engenharia Civil - considerada, de certa forma, masculina -, me auxiliou no desenvolvimento de atividades e de supervisão que, até então, eram ocupadas por homens. Não posso dizer que foi fácil enfrentar os questionamentos, porque ser mulher sempre exige mais em todos os aspectos, sobretudo na comprovação da "competência", lamentavelmente. Hoje, mais mulheres estão ocupando cargos diretivos em empresas de transportes e isso é ótimo, pois mostra que elas são tão capazes quanto os homens. Um dos grandes desafios não é o gênero, cor ou orientação sexual, e sim trabalhar com equipes com diferentes conhecimentos e aprender com isso. A escuta e a observação são habilidades que procuro praticar dia a dia, pois meu papel, como líder, é propiciar um ambiente plural e buscar desenvolvimento para a companhia e colaboradores.
GE - Como incentivar outras mulheres da empresa a buscarem cargos de liderança daqui em diante?
Paula - Quando cheguei na Coleurb, em 2001, a empresa era gerida pelas duas sócias (filhas do fundador Eloy Pinheiro Machado, já falecido) e fui muito bem recebida e respeitada como profissional. Isso também me incentivou a crescer dentro da empresa. Sou grata às sócias, e, como retribuição, tenho oferecido espaços importantes na empresa para as mulheres.
GE - Que benefícios uma gestora que começou em cargos de base da empresa tem na hora liderar a equipe?
Paula - Passei pelo setor de tráfego e pela gerência antes de chegar à direção. Isso me deu a possibilidade da vivência diária, do contato com os problemas e com a construção das soluções. É uma vantagem enorme na hora de liderar, pois você sabe o que funciona e o que não funciona na prática. Você conhece o colaborador e aprende com ele. E o funcionário respeita o fato de você ter passado pelo "chão da fábrica".
GE - Qual dica daria para quem está entrando em uma empresa e deseja ascender a um cargo de gestão?
Paula - Primeiro é amar o seu trabalho e respeitar as pessoas, independentemente da função e do cargo que exercem. Para isso, é necessário estar aberto a ouvir, a aprender e a se envolver no projeto corporativo. Não tenha medo de ousar, de experimentar, de errar e de tentar novamente. Eu prefiro trabalhar com pessoas que procuram resolver situações e erram do que com pessoas que não resolvem nada, não tentam. É imprescindível você confiar na sua equipe. Não é fácil, mas é o caminho. Persiga suas metas com disciplina e você vai alcançá-las.