A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) esteve entre os alvos de uma operação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e da Polícia Civil nesta quinta-feira (20). Mandados de busca e apreensão foram cumpridos contra dez denunciados por organização criminosa voltada para a prática de fraudes tributárias, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica na cidade de Saquarema (Região dos Lagos do Rio de Janeiro).
Entre eles estão o ex-prefeito da cidade Antonio Peres Alves (2000 - 2008) e o ex-presidente da CBV Ary Graça Filho, que comanda a Federação Internacional de Voleibol desde 2012. A investigação começou em 2013, um ano antes de o cartola deixar a entidade nacional após as denúncias de mau uso de verba pública que agora voltam à tona.
Ao todo, 14 mandados foram autorizados pela Justiça em endereços ligados aos acusados na capital e em Saquarema. Não havia mandados de prisão, mas o irmão do ex-prefeito, Antônio César Alves, acabou detido em flagrante por posse ilegal de arma de fogo. Ele tinha uma espingarda em casa.
De acordo com a denúncia, no mandato de Alves foram editadas leis complementares que concediam benefícios fiscais abaixo do piso constitucionalmente previsto, o que levou à criação de várias empresas "fantasmas" na cidade e permitiu um grande aumento da arrecadação municipal, além de evasão em outros municípios.
A partir disso, ainda segundo a acusação, Ary Graça usava os recursos de patrocínio do Banco do Brasil à CBV em contratos com empresas recém-criadas, sem estrutura de pessoal e estabelecidas em sedes fictícias, supostamente em Saquarema. Essas empresas pertenceriam a então dirigentes da CBV subordinados ao presidente.
Segundo a Polícia Civil, verificou-se que em dois pequenos escritórios supostamente funcionavam mais de mil empresas que recebiam benefícios fiscais. "Os valores obtidos pela organização criminosa, entre contratos não cumpridos, sublocações fictícias dos imóveis comerciais e patrimônio sem lastro financeiro, somam mais de R$ 52 milhões, que foram objeto de ordem judicial de sequestro."
A CBV mantém um centro de desenvolvimento na cidade da Região dos Lagos, onde são realizados uma série de treinamentos e torneios. Era lá, por exemplo, que as seleções brasileiras se preparavam até a última semana para a Liga das Nações e os Jogos Olímpicos de Tóquio.
De acordo com informações da Globo, os agentes apreenderam em um endereço ligado a Ary Graça no Leblon US$ 20 mil e R$ 15 mil em espécie.
Em nota, a CBV afirmou que recebeu os policiais em suas sedes na Barra da Tijuca e em Saquarema e que seus funcionários prestaram auxílio às autoridades policiais que buscavam documentos relativos ao possível esquema de fraude tributária.
"De acordo com as investigações, a CBV teria sido vítima dos seus então dirigentes, que teriam criado contratos fictícios para desviar dinheiro da instituição", declarou a entidade. "A atual gestão da confederação cooperará integralmente com a investigação e, se forem comprovados prejuízos financeiros à CBV, tomará todas as medidas necessárias para que esses valores sejam integralmente ressarcidos à comunidade do voleibol", completou.
Desde a saída do ex-presidente, a confederação é presidida pelo seu ex-vice, Walter Pitombo Laranjeiras, conhecido como Toroca. Mas houve um racha. Na última eleição, no início deste ano, Ary Graça apoiou fortemente a chapa de oposição, formada por seu aliado Marco Túlio Teixeira e pelo ex-líbero Serginho. Esta acabou derrotada pela situação, com Toroca como presidente e Radamés Lattari, que comanda a entidade na prática, como vice.
Ary Graça disse que recebeu com surpresa a busca em seu apartamento: "Ele está em Lausanne, seu local de residência por motivo de trabalho, e acionou seu advogado para tomar ações imediatas no sentido de contestar as alegações, as mesmas feitas no passado e que agora voltam à tona", afirmou a nota enviada pela federação internacional.
"Ary Graça prestou todos os esclarecimentos à época em que as alegações foram levantadas e, após seu pronunciamento, não houve qualquer ação resultante por parte da Justiça brasileira. Como anteriormente, ele se coloca à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos", completou.
Atualmente Saquarema tem como prefeita Manoela Peres, ex-mulher de Antonio Peres Alves. A prefeitura disse que a operação não é referente à atual gestão e que a lei de incentivo fiscal gerou novas receitas para o município. "Se alguma empresa usou a lei para se beneficiar de forma ilegal, não cabe à prefeitura a responsabilidade do ato." A reportagem não conseguiu localizar o ex-prefeito até a publicação deste texto.