Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.
Presidente do Grêmio: 'Futebol poderia ser exemplo de comportamento adequado no combate à pandemia'
'O futebol poderia ser exemplo de comportamento adequado para combater a pandemia', propõe
LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA/Reprodução/JC
Patrícia Comunello
O futebol foi poupado da volta das restrições mais duras para o combate à pandemia em Porto Alegre. Treino físico está mantido, mas coletivo não há nenhuma previsão, para desespero da dupla Grêmio e Inter. Em live no Grenal da Pandemia, pelo Instagram do Jornal do Comércio na quinta-feira passada (18), o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Jr, desabafou, ao ser questionado sobre o dia a dia da preparação:
Quer continuar lendo este e outros conteúdos sérios e de credibilidade?
Assine o JC Digital com desconto!
Personalize sua capa com os assuntos de seu interesse
Acesso ilimitado aos conteúdos do site
Acesso ao Aplicativo e versão para folhear on-line
Conteúdos exclusivos e especializados em economia e negócios
O futebol foi poupado da volta das restrições mais duras para o combate à pandemia em Porto Alegre. Treino físico está mantido, mas coletivo não há nenhuma previsão, para desespero da dupla Grêmio e Inter. Em live no Grenal da Pandemia, pelo Instagram do Jornal do Comércio na quinta-feira passada (18), o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Jr, desabafou, ao ser questionado sobre o dia a dia da preparação:
"Vamos falar um português normal, colonial, o português de boteco? Os jogadores estão de saco cheio de fazer só exercício físico. Estão de saco cheio", disse Bolzan, de forma direta, simples e honesta, jeitão que consagra o dirigente tricolor. A mensagem resume o que, para Bolzan, é um esgotamento da preparação física e uma necessidade de inserir novas etapas nos treinos, ligadas a especificidades do esporte.
O dirigente, aliás, defende que o futebol tenha um tratamento diferente dos demais setores da sociedade. Para Bolzan, o rigor dos protocolos adotados por Grêmio e Inter poderia servir de exemplo de como se comportar e ter proteção na pandemia. O experiente dirigente, que já foi prefeito por quatro mandatos em Osório, no Litoral Norte, revela que está preocupado com a falta de uniformidade entre os estados para aceitar a volta de treinos e jogos.
"Isso me deixa bastante preocupado e desconfiado. Me permita dizer com franqueza isso por uma razão muito simples: neste tipo de coisa não tem de ter dois entendimentos. Ou trata o assunto corretamente, equivocadamente ou com insegurança", adverte o presidente do Grêmio. Confira o que Bolzan Jr falou na live do JC Explica no Instagram em 18 de junho.
Jornal do Comércio - Qual foi a proposta de Grêmio e inter para o prefeito de Porto Alegre na semana passada?
Romildo Bolzan Jr - Discutimos protocolos para evoluir para treinamentos com contato. Hoje eles são sem contato. Nossa proposta foi criar condição para evoluir progressivamente nestas atividades, dois a dois, três a três, cinco a cinco. Não os 11 contra 11. Organizar uma forma que tivesse .minimamente o contato porque isso faz parte do prosseguimento dos treinos. Ele ficou de examinar e dar uma posição (resposta é esperada para esta semana, mas aí surgiram as novas restrições devido à evolução da pandemia)
JC - É possível pensar na volta dos jogos no Rio Grande do Sul, como vemos em outros estados?
Bolzan Jr - O calendário estadual depende do governo do Estado permitir praças para termos jogos. Neste momento, não tem previsão. A Federação Gaúcha de Futebol (FGF) teve reunião com o governo e aguarda resposta sobre o protocolo.
JC - Qual a sua expetativa sobre a real possibilidade de voltar os jogos? O vice-presidente do Inter, Alexandre Chaves Barcellos, disse, na outra live do Grenal da Pandemia, que a segurança dos protocolos adotados pelos times só tem referência em um hospital.
Bolzan Jr - Lamentavelmente, o futebol está num conceito geral de combate à pandemia ou de preservação de convivência. Se trabalhares com a ideia que, no futebol, pode adotar protocolo específico e de excelência e isolar isso do contexto geral da população, é possível trabalhar rapidamente este tema. Podemos voltar aos treinos e jogar logo em seguida. É menos problemático reunir 20 a 25 jogadores para treinar do que pegar uma linha de ônibus com 30 pessoas dentro. No clube, está todo mundo testado, os jogadores chegam protegidos, vêm diretamente da sua família, com todas as recomendações de já virem fardados, não tem mistura de fardamento e higiene, não tem banho e vestiário compartilhado, não tem nada. É tudo separado. Termina o treino, o jogador, sujo mesmo, embarca no carro e vai embora fazer a higiene em casa. Se tratarmos o futebol como se fosse consequência do contexto social em que vivemos, não vamos voltar rapidamente. Mas se tratarmos o futebol em seu conceito específico podemos voltar na semana que vem.
JC - Isso é suficiente para conseguir avançar nas liberações?
Bolzan Jr - Depende muito como politicamente os governos vão entender e justificar isso. O futebol poderia perfeitamente ser utilizado para exemplo de comportamento adequado para combater a pandemia, dar reflexos à população de como protocolos são bem feitos e da prevenção no uso de máscara, álcool em gel e vestuário. Se virem no futebol um exemplo de bom comportamento para melhorar a convivência, é muito melhor do que simplesmente isolar ou colocar o futebol no meio comum. Daí nunca vamos voltar. Vamos ficar no futebol gerido e decidido por conta da pandemia no cárter geral da sociedade, que custará a retornar. Se isso não for trabalhado diferentemente e com todos os protocolos, não vamos jogar este ano. A decisão não está mais nas mãos dos clubes, que já fazem a sua parte. A decisão está na sensibilidade dos governantes em entenderem estes processos.
JC - O senhor vê esta sensibilidade nas autoridades para aceitar essas diferenças?
Bolzan Jr - Estamos tentando convencê-los disto, fazendo força. Mas te confesso que vejo neles extremo receio de liberar o futebol e muita dificuldade de entender que o protocolo do futebol é diferente do social. Está difícil de convencer, enquanto isto estamos rigorosamente obedecendo às regras. Nosso processo não é de desafio, não é de confronto, não é de criar divisão, mas simplesmente de convencer naquilo que a gente entende que é possível fazer. Não queremos jogar neste momento. Estamos falando em treinar. Só isso.
JC - Mas começar a treinar é um passo para chegar mais perto do que é o jogo. As autoridades não podem encarar como pressão para isso?
Bolzan Jr - Estamos submetidos ao interesse geral e eles sabem que, quando o futebol voltar, será sem público nos estádios. Isto tudo já é consenso. Não queremos atrapalhar nada no conceito de que seja uma inspiração para as pessoas se cuidarem e de preservação da vida. O que neste momento a gente quer, pois estamos há seis e sete semanas em treinos, é que a continuidade do treinamento não pode ser massacrante ao jogador. Só a parte física não resolve. Eles precisam correr atrás da bola, criar uma forma de fazer o futebol de alto rendimento a partir do campo, correr e criar resistências orgânicas e pulmonares. O futebol se movimenta a partir do esforço físico do jogador correndo. Sem isso acontecer, não vai ter preparação plena do jogador. Estamos muito seguros que é possível fazer isso com segurança dentro dos centros de treinamento (CTs).
JC - Como é este dia a dia de treinos e quanto esta situação que o senhor descreve afeta os jogadores?
Bolzan Jr - Vamos falar um português normal, colonial, o português de boteco? Os jogadores estão de saco cheio de fazer só exercício físico. Estão de saco cheio! Esgotou essa parte e precisam ter minimamente motivação. O jogador é movido a que: pura competição. Eles são preparados para serem competitivos. O treino, quando eles disputam uma cesta básica e quem perde, é uma coisa competitiva. Está na hora de avançar. Estamos nos orientando no protocolo médico que garante que é possível fazer.
JC - O que vai acontecer se continuar neste ritmo e com estas limitações? Será preciso outra estratégia?
Bolzan Jr - O Grêmio vai continuar em seu protocolo, vai fazer as coisas um pouco mais diluídas, não vamos exigir demais. Essa fase da preparação já está no fim, já praticamente terminou. Temos de evoluir no protocolo de preparação. Se não conseguirmos uma situação nova, vamos ter de dar uma interrompida e espaçar mais os tipos de exercícios porque daqui pra frente começa a ser perigoso para lesões.
JC - Quanto os times do interior vão conseguir alcançar o mesmo nível de segurança que a dupla tem? É possível bancar isso?
Bolzan Jr - O primeiro protocolo a ser feito é o de sanidade absoluta. Quem andar, quem viajar, quem jogar tem de estar completamente testado e monitorado. Os clubes que não tiverem condição de fazer, a FGF que organiza o campeonato vai ter de ofertar as condições e bancar para que eles entrem com protocolos completamente em dia. Se não tiver isso, é impossível.
JC - Estamos vendo o Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas gerais voltarem ou planejarem a volta aos jogos, mas há oposição de alguns times. É é possível ter consenso entre os clubes, já vislumbrando a retomada de uma competição nacional?
Bolzan Jr - Não há condições de fazer um protocolo único (país). Nem os estados estão equalizados em suas políticas. Essa é uma crítica que fazemos. Não temos nacionalmente uma uniformidade de entendimento. Santa Catarina e Rio de Janeiro vão jogar. Minas Gerais tem protocolo mais avançado em treinamentos e perspectivas de jogar. Outros estados trabalham nisso e tem lugares que nem abriram para treinos. Para tratar da mesma matéria e no mesmo tema com as mesmas informações científicas da própria doença e pandemia, é razoável que tenhamos tantas formas de entendimento da matéria? Isso nos dá um pouco de descrédito naquilo que seria a forma mais uniformizada de trabalhar. Está faltando cientificamente um protocolo mais uniformizado. Vou expor jogadores, mas preciso saber se lá pode e aqui não pode. Por que há estas diferenças se o nível que estamos atuando tem as mesmas consequências, pois estamos envolvidos em um mesmo problema? Isso me leva a suspeitar de que algumas decisões têm conteúdo político, disputa local, falta de entendimento. Isso me deixa bastante preocupado e desconfiado. Me permita dizer com franqueza isso por uma razão muito simples: neste tipo de coisa não tem de ter dois entendimentos. Ou trata o assunto corretamente, equivocadamente ou com insegurança. Neste momento, estou completamente inseguro no futebol por conta dessas visões diferentes tratando o tema. Então, os protocolos não estão sendo apenas avaliados apenas cientificamente, mas por outros conteúdos que podem ser de ordem política, de disputas ou qualquer outra coisa. Isso não me surpreende porque este é o mundo político que vivemos.