A preocupação do brasileiro com a aposentadoria pode ser vista em diversos números, alguns deles divergentes, sobre o mercado de previdência privada no Brasil. Levantamento feito pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) mostra que as reservas dos planos de previdência privada aberta totalizaram R$ 787,8 bilhões no primeiro semestre de 2018, valor 13,1% superior aos R$ 696,4 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior. O semestre fechou com captação líquida positiva de R$ 16,9 bilhões. O estudo ainda mostra maior captação de recursos em relação aos resgates, o que indica uma maior prudência dos cidadãos com o planejamento futuro.
Entretanto, quando o assunto é efetivamente parar de trabalhar e curtir a vida com os proventos, oriundos tanto da Previdência Social quanto de fundos complementares, percebem-se números preocupantes - e quanto o pensamento se distancia da realidade. A Fenaprevi, em parceria com o Instituo Ipsus, realizou um estudo no segundo trimestre deste ano e identificou que 76% dos entrevistados declararam dependência exclusiva do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para se aposentar. É importante salientar que cerca de dois terços dos aposentados e pensionistas da Previdência Social recebem apenas um salário-mínimo por mês (R$ 954,00), valor muitas vezes insuficiente para cobrir despesas básicas desse período de vida, como plano de saúde, remédios e consultas.
Ainda na pesquisa, apenas 43% dos consultados opinaram ser necessária a reforma da Previdência Social, tema em debate desde o ano passado e que permeará a discussão no Congresso nos próximos meses, sobretudo após o pleito. Outros 38% afirmam não ser necessária a modificação, enquanto outros 19% não souberam ou não opinaram. Contudo, é possível perceber pelo estudo que os índices de rejeição são maiores nos adultos entre 25 e 44 anos, e quanto ao nível de escolaridades, os consultados com até a quarta série são menos propensos a aceitar as mudanças. Quanto às regiões, os pesquisados do Norte e do Nordeste são os mais resistentes, enquanto a Região Sul, com 58%, encabeça o maior percentual favorável ao ajuste proposto pelo Executivo federal
Para o presidente da Federação, Edson Franco, é preciso um entendimento por parte dos brasileiros a respeito das discussões sobre a reforma da previdência para compreender os motivos pelos quais ela é necessária. "A maioria dos brasileiros ainda não se deu conta de que o sistema caminha para o colapso, de que o modelo de aposentadorias tal como está estruturado hoje inviabiliza o reequilíbrio das contas públicas e que o adiamento da solução só tornará o problema maior e mais difícil de resolver", afirma Franco. Uma outra resposta chamou a atenção do dirigente: quase metade dos pesquisados relataram desejo de se aposentarem antes dos 60 anos. "É uma expectativa irrealista e em flagrante contradição com o quadro que se desenha."
Mesmo assim, é possível notar uma mudança de comportamento dos brasileiros em relação aos planos de previdência complementar. Ora visto como um investimento para poucos, a crescente oferta e as facilidades na hora de contratação, aliada à baixa burocracia e maior transparência atraem todas as faixas etárias. O estudo da Fenprevi/Ipsos aponta que 63% dos entrevistados entre 25 e 34 anos dizem ser necessário ter um plano complementar de aposentadoria, mesmo percentual entre os adultos com 35 a 44 anos, considerado o auge da força de trabalho. A Região Sul lidera o número de respondentes que classificam os planos de previdência como importantes ou muito importantes como estratégia de poupança de longo prazo: 78%. Franco entende que o tema está mais popular entre as pessoas.
"Temos 60% das pessoas que acham necessário ter um plano de previdência complementar para se prepararem para a aposentadoria. Acredito que sim, o tema está sendo mais debatido", relata o presidente.