"Eu considero uma falha se, na modelagem de um projeto de PPP, não houver uma cláusula que motive o parceiro privado a investir em tecnologia e inovação", aponta Peter Cabral, expert da SingularityU Brazil em mobilidade digital.
Quanto mais atrativo for o projeto e mais pessoas interagirem e gerarem dados, maior o ganho de todos. "Se não for para ser assim, não precisaria privatizar e usar a Lei 11.079, bastaria a Lei da Licitação, que é totalmente analógica", avalia.
Dentro do modelo de PPP, existe a possibilidade de os players desenvolverem projetos que permitam a exploração de uma receita acessória. E é aí que entra a digitalização. "O setor privado tem o direito de criar modelos de negócios que viabilizem uma infraestrutura digital, com protocolos de comunicação, Internet das Coisas e conexões máquina-máquina. É a partir disso que as rodovias começarão a poder dialogar com as pessoas que todos os dias trafegam ali", explica.
A verdade é que as estradas precisam ser pensadas, desde já, para serem capazes de novo futuro próximo poderem explorar todas as possibilidades geradas pelas novas tecnologias. Isso significa ter uma rede de dados e sensores em cima da peça de infraestrutura que gerem dados que permitam ao condutor saber, por exemplo, onde tem posto de gasolina caso ele esteja ficando sem combustível. Uma das expectativas é que a chegada do 5G vai potencializar as oportunidades de digitalização das estradas e dos veículos.
Cabral comenta que, se pensarmos historicamente, o desenvolvimento econômico nasce no ser humano e depois é propagado para cidades. "A estrada é uma peça de infraestrutura que une as cidades. Hoje ainda olhamos para ela de forma analógica, mas a digitalização das rodovias será uma consequência histórica", aponta.
O business head da Marcopolo Next, Petras Amaral Santos, diz que é preciso criar uma visão em conjunto entre a iniciativa privada e o poder público sobre esse tema. "Precisamos pensar em como serão as cidades daqui 20 anos. Os projetos já devem ser pensados considerando colocar inteligência de dados nas vias e Inteligência Artificial para termos uma maior capacidade de predição de cenários futuros", relata ele.
Para ele, é preciso pensar no modelo multimodal. Isso significa um cenário de mobilidade que contemple rodovias, ferrovias e hidrovias, por exemplo. "Temos hoje uma sobrecarga do transporte de mercadoria nas estradas e uma competição com a de passageiros. Essa demanda não vai diminuir, temos que organizar esses sistemas com modais", alerta.