Megaempreendimento vai mudar a cara do bairro Cristal

Área de 17 hectares permutada pelo Jockey Club do Rio Grande do Sul dará lugar a um condomínio luxuoso

Por Deivison Ávila

Com injeção financeira na entidade, Vecchio Filho prevê melhorias para atrair um novo público ao hipódromo
Um megaempreendimento imobiliário no Cristal promete dar uma nova cara ao bairro, localizado na Zona Sul de Porto Alegre. A permuta de parte da área do Jockey Club do Rio Grande do Sul, tradicional espaço do turfe gaúcho, viabilizará a construção de um luxuoso condomínio de 19 prédios que irá mudar a fotografia da região, situada de frente para o Guaíba.
Com licença já emitida pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade, a obra, a ser erguida na avenida Diário de Notícias pela Multiplan Empreendimentos Imobiliários, deve começar pela demolição das antigas cocheiras da vila hípica ainda neste mês, mais precisamente no dia 8 de maio. O empreendimento, denominado Golden Lake, será construído no local, com investimento estimado em R$ 2,5 bilhões.
O negócio consiste basicamente na permuta de 17 hectares, onde estava acomodada a vila hípica, restando ainda 38 hectares para atividades ligadas ao turfe. Em contrapartida, a Multiplan, idealizadora do projeto e gestora do BarraShoppingSul, construirá um prédio de 20 andares para a entidade - além de um novo estábulo, com capacidade para receber 500 cavalos, já finalizado.
O presidente do Jockey Club, José Vecchio Filho, acredita que o empreendimento dará mais atratividade ao bairro, além de permitir que um novo público tenha contato com o esporte. "A região vai se valorizar extraordinariamente. São apartamentos com piscinas individuais, um por andar, em construções de alto padrão. Além disso, o condomínio contará com uma praia particular", observa Vecchio Filho.
Após a demolição das cocheiras, irá começar a terraplenagem. O condomínio, construído no molde Triple A, se enquadra em um modelo que apresenta imóveis da mais alta qualidade, no que se refere aos padrões construtivos e de tecnologia de sistemas prediais, e será formado por torres escalonadas (de nove a 16). A praia particular para os condôminos terá 500 metros de extensão. No total, serão 18 blocos com 130 imóveis residenciais e um com 21 espaços comerciais e de serviços, totalizando mais de 400 mil metros quadrados de área construída.

'Queremos trazer pessoas que nunca colocaram os pés no Jockey Club', afirma presidente

Hoje em dia, o desafio de qualquer gestor de hipódromo no Brasil é tornar o local atrativo. Em sua grande parte, os Jockey Clubs são áreas que pararam no tempo, perdendo espaço para outras formas de entretenimento. No entanto, essa realidade pode ser modificada em Porto Alegre, com a entrada de capital financeiro.
"A tecnologia afastou o público. Na década de 1970, quando o Jockey Club do Rio Grande do Sul acumulou o atual patrimônio, só tinha futebol aos domingos, e as pessoas não contavam com shoppings ou praças com a estrutura que se tem hoje. As opções de lazer eram limitadas. Hoje, são muitos concorrentes", explica Vecchio Filho.
Para tentar reconduzir as famílias ao Jockey, algumas obras são necessárias. A limitação de recursos é um obstáculo, mas o imóvel que será entregue à entidade pode alterar este cenário em um prazo de, no máximo, cinco anos. Para isso, é preciso "arrumar a casa", e depois, sim, abrir as portas para um novo público.
Hoje, o Jockey Club do Rio Grande do Sul acumula um déficit patrimonial, e os pavilhões que acomodam os turfistas precisam ser restaurados. Entretanto, o fato de o patrimônio do clube ser tombado dificulta qualquer obra, encarecendo os mais variados serviços. Com a entrada de recursos, as melhorias poderão ser concretizadas e o local poderá oferecer atrações para chamar as pessoas.
O Jockey Club já vem fazendo algumas ações para se aproximar da comunidade. A atual gestão tem se preocupado com a área de responsabilidade social. Entre os projetos que estão em andamento, a entidade tem uma parceria com o Instituto do Câncer Infantil, intitulada "Chapéus do Bem", que faz toucas com cabelo para crianças em tratamento de quimioterapia. Outro projeto é capitaneado pelo músico tradicionalista Elton Saldanha, que realiza um churrasco cuja renda é direcionada para a compra de brinquedos para crianças carentes da Zona Sul. Além disso, também é realizada a Feijoada Beneficente do Lions Club, em que, a cada edição, é escolhida uma instituição para ser atendida.
"Estou muito empolgado com o Jockey Club. Fui presidente por seis anos, de 2009 a 2015. Agora, fui eleito novamente, no ano passado. A nossa empolgação parte da melhoria da vizinhança, as oportunidades que estão surgindo geram retorno para o Jockey Club. Por já ter passado pela presidência, eu conheço a engrenagem. Sei onde tem que enxugar, onde tem que investir", ressalta Vecchio Filho.
O presidente pretende trazer algo que já é realizado na Inglaterra e será feito junto ao Grande Prêmio Bento Gonçalves, programado para o dia 20 de outubro. De forma inédita, o Hipódromo do Cristal irá receber uma maratona após a realização do último páreo. A ideia é convidar escolas, grupos de corrida, academias e distribuir uma boa premiação. "Nosso objetivo é trazer  pessoas que nunca colocaram os pés no Jockey Club. O competidor trará sua família e vai movimentar o turfe. Será algo pioneiro no Brasil. Nenhum hipódromo fez isso no País e nós queremos ser precursores", completa.