Se você ouvir o barulho do motor intenso e regular em algumas horas do dia vindo do céu, em Porto Alegre, não estranhe. O tráfego nas alturas da manhã até a noite está mais movimentado mesmo. A ativação de novas rotas entre a Capital e o interior abriu um novo capítulo no transporte comercial de passageiros no Rio Grande do Sul. É a nova fase emergente da chamada aviação subregional e regional, quando as rotas ocorrem dentro do território e usam aeronaves menores, que voam mais baixo, e geram o ruído que corta o céu e as nuvens.
Você já embarcou em um avião com nove assentos que não dá nem para ficar em pé, quando se está dentro dele, e que, além de conectar rapidamente destinos, permite apreciar do alto a diversidade e as belezas naturais no Rio Grande do Sul? Ou ver contrastes, como a expansão de florestas de eucaliptos, que alimentam o complexo bilionário de celulose em Guaíba, hoje da chilena CMPC.
Prepara-se, porque a viagem que começa agora vai trazer essa experiência e muito mais.
Bem-vindo à série Plano de Voo, que percorre os destinos entre Porto Alegre e mais 12 cidades, segundo a agenda de ligações descrita a seguir.
Em cada trecho voado, há sinalizações de como foi o percurso. Até 31 de outubro, 11 conexões foram executadas. O plano original era concluir a série, pelo menos os voos, até 28 de outubro, mas a agenda teve de ser reacomodada, devido a lotações nos dias buscados. O que faz parte de qualquer plano de viagem. Para saber a conclusão, para Santa Rosa, clique aqui.
Partidas e chegadas: 12 destinos para o interior gaúcho
"Patrícia: você que vai, volta, vai, volta?"
Repórter chega ao antigo terminal do Aeroporto Salgado Filho para embarcar no Grand Caravan
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC"Patrícia: você que vai, volta, vai, volta?", questiona o agente de aeroporto da companhia aérea Azul Fabiano Silva, no portão de embarque 112 no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, pouco antes de liberar o acesso ao ônibus que levará os passageiros até a aeronave já estacionada no pátio do antigo terminal de pousos e decolagens.
A repórter do Jornal do Comércio confirma que está a postos para dar início à maratona que vai acompanhar os voos da companhia Azul que ligam a Capital ao interior gaúcho, que tiveram ampliação em agosto. Nesta segunda-feira (18), o JC embarcou nos primeiros voos para dois destinos: São Borja e Santa Cruz do Sul.
O "vai, volta, vai, volta" é porque a profissional fará os trechos, permanecendo no aeroporto do interior apenas o tempo de embarcar para retornar a Porto Alegre.
O conteúdo alimenta a série Plano de Voo, com diário de bordo com relatos do trajeto da conexão entre o aeroporto local e o Salgado Filho.
A maratona tem, em alguns dias, dois voos, com embarque e desembarque de manhã em um trecho. De volta à Capital, a jornalista volta ao portão de embarque para se dirigir ao destino seguinte.
As matérias trazem as histórias dos passageiros, motivo da viagem, como foi a experiência e comparação com outros modais, além de verificar as condições dos terminais e das pistas de pouso e decolagem dos 12 destinos regionais, da chamada aviação de interior, que estão sendo operados pela companhia Azul, por meio do braço da Azul Conecta.
A oferta de destinos foi intensificada no começo de agosto pela aérea, com mais oito rotas. Hoje as conexões ligam Porto Alegre a Alegrete, Bagé, Canela, Erechim, Pelotas, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Santa Rosa, Santo Ângelo, São Borja, Uruguaiana e Vacaria. Falta Passo Fundo, que depende do término das obras no aeroporto para retornar à malha regional.
Para a companhia, o Rio Grande do Sul concentra hoje a maior oferta de ligações internas regionais.
Os voos são feitos com aeronaves mono turbo-hélice Grand Caravan, da Cessna. O Estado, devido ao maior fluxo, receberá um novo avião do modelo da Cessna, de fabricação mais recente, parte da aquisição para a frota que a Azul anunciou em 2021.
A necessidade de reforço é explicada pela frequência de voos que aumentou, com ligação direta entre as cidades, sem rotas que passavam por mais de uma cidade na saída da Capital ou retorno. Hoje apenas aos domingos é feito voo com saída de Alegrete passando por Bagé para voar a Porto Alegre.
A expansão da malha ocorre em função de incentivos fiscais sobre o ICMS calculado no querosene de aviação. A companhia obtém maior redução da alíquota interna quanto mais assentos oferecer na malha de interior.
O voo de estreia: São Borja fica a duas horas de Porto Alegre
Série Plano de Voo - primeiro dia - 18 de outubro - saída de Porto Alegre para São Borja - avião da Azul - Grand Caravan - aviação - passageiros chegando ao terminal em São Borja vindos de Porto Alegre
fotos PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCDiário de bordo: 18 de outubro - Porto Alegre-São Borja
Pontualmente, às 7h10min, saiu o voo inaugural da série do Aeroporto Internacional Salgado Filho Porto Alegre para o Aeroporto João Manoel em São Borja. O embarque ocorreu no portão 112, mesmo local em que todos os outros 11 voos da série sairiam. Do local, os passageiros precisam tomar um ônibus da Azul até a área da pista, no antigo terminal, de onde sai o monomotor turbo-hélice Grand Caravan. O voo estava quase lotado na ida, entre passageiros de primeira viagem e veteranos, como o médico cirurgião Tiago Falcão. “A cada 15 dias pego o avião. Desembarco no aeroporto, tem uma pessoa me esperando e vou direto para a sala de cirurgia”, contou Falcão, que até agosto, quando começaram ser ofertados os voos, tinha de fazer a maratona na estrada, uma viagem de mais de oito horas. Mineiro que atua na Justiça Federal em São Borja, Victor Hugo Resende (foto) compra passagens com antecedência para ter bons preços e só não viaja quando o clima não colabora. “O aeroporto é pequeno, sei que pode ter cancelamento em dia de muita chuva. O tempo ajudou”, comemorou Victor, ao desembarcar. O perfil de passageiros é diversificado no trecho. Na volta, Clarissa de Paula, mãe do pequeno Nícolas, fazia o retorno após 10 dias na cidade. Ela teve de driblar o efeito do barulho da hélice, que incomodou o bebê de quatro meses: “Pessoal, desculpa o choro”, disse ela, após a aterrissagem. Ninguém reclamou.
O trajeto foi tranquilo. Com o vento favorável, o comandante da aeronave Francinaldo de Souza Guimarães conseguiu chegar 20 minutos antes do previsto, às 9h. Chamou a atenção negativamente as condições do Aeroporto João Manoel a precariedade do pavimento onde o avião faz embarque e desembarque.
Volta: a decolagem foi às 9h30min, com sete passageiros mais uma criança de colo. Do total, dois viajavam a trabalho (incluindo a jornalista do JC) e cinco a passeio. O voo foi tranquilo e chegou às 11h35min em Porto Alegre.
Nícolas, de quatro meses, filhinho de Clarissa de Paula, chorou um pouco, e ela pediu desculpas a todos na chegada. A contadora Ivanise Bertin desembarcou aliviada porque não teve temporal, como no voo de ida na semana passada. "Estava com medo que fosse se repetir", admitiu ela.
Um terminal pra lá de diferente em Santa Cruz do Sul
Terminal envidraçado do aeroporto é uma das atrações; único na infraestrutura de aérodromos
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCDiário de bordo: 18 de outubro - Porto Alegre-Santa Cruz do Sul
É o voo mais curto das 12 rotas. São apenas 35 a 45 minutos, dependendo do tempo. Pela proximidade com Porto Alegre, é uma opção que vale a pena principalmente na conexão com ligações para outros destinos do País. Todos os passageiros que estavam fazendo o trajeto no dia em que a repórter fez a viagem pela série estavam voltando de outros estados ou viajando, no trecho de volta para a Capital, para outras regiões fora do Estado. A Azul também registra casos de passageiros que embarcam para descobrir como é o voo com o monomotor. Roberto Mohr, que fazia a segunda viagem - ele fez conexão para Belo Horizonte na ida e retornava para Venâncio Aires, vizinha de Santa Cruz do Sul -, repassou sua experiência ao estreante comerciante Donizeti Cassanji. “É bem tranquilo”, repetia Mohr. Já Cassanji só pensava que chegaria em casa ainda de dia e ainda poderia trabalhar. “Vale a pena”, concluiu. O terminal de Santa Cruz do Sul é bem peculiar, todo de vidro. “Para aproveitar a iluminação natural”, diz o administrador
Juarez de Mello. No voo de volta, o consultor técnico de vendas Maurício Bechenkamp, que tem fobia de viajar de avião, quase não decolou. A vizinha de assento, a psicóloga Andréa Collares, ajudou o jovem a superar o medo. Ela segurou a mão dele forte e foi dizendo: “Está tudo bem, tudo bem.” “Foi nervosismo total, muito tenso”, resumiu o jovem. Já o personal trainee Murillo de Castro Helmeister, que voltava para São Paulo, era só adrenalina com o seu primeiro voo.
Mohr (direita) repassa a experiência de já ter voado uma vez para Cassanji, que faz a primeira viagem
"Tranquilo", repetia Roberto Mohr, de Venâncio Aires, que voltava para casa e já fazia pela segunda vez o trajeto pelo ar. O comerciante Donizeti Cassanji, em sua primeira ligação, só pensava que chegaria em casa de dia e teria ainda como trabalhar. "Vale a pena".
Andréa (esquerda) segurou na mão de Maurício (centro) que tem fobia de avião; Murillo também deu apoio
Volta:
O voo saiu um pouco antes do previsto. Quatro passageiros abordo, incluindo a jornalista do JC. Três faziam o trajeto pela primeira vez, um a trabalho e dois a passeio. O personal trainee Murillo de Castro Helmeister, que estava retornando para casa em Paulínia, São Paulo, deveria ter feito a ligação da Capital a Santa Cruz do Sul na sexta-feira (15), mas o mau tempo atrapalhou os planos e ele foi de carro, pago pela Azul, para o destino. O consultor técnico de vendas Maurício Bechenkamp tem fobia de avião, fazia a segunda viagem na vida e em um monomotor. A vizinha de assento, a psicóloga Andréa Collares, segurou a mãe dele forte e foi conversando, até a ansiedade passar. "Foi nervosismo total, muito tenso", resumiu o jovem.
Diversidade e bom humor na subida para a Serra Gaúcha
Verza, Suélen e Saadi (esquerda para direita) mostram diversidade de motivações para viajar
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCDiário de bordo: 19 de outubro - Porto Alegre-Vacaria
Ida:
oi um dos voos com maior interação entre os passageiros. A bordo: uma dentista, um ator e um produtor de maçã. Quatro ocupantes, com a jornalista. Para completar o elenco, o comandante da aeronave, Jonas Karlos da Silva Araújo, tinha voz de locutor e cantor e admitiu que muitos passageiros perguntam por que ele não seguiu a carreira artística: “Meu negócio é aqui (aponta para a cabine do avião)”. O ator Marcos Verza e a dentista Suélen Maciel Suzin se conheciam e faziam a primeira viagem de Grand Caravan. Suélen foi fazer curso na Capital. Na ida, foi de carro e ônibus, porque não havia lugar no voo. “Na volta, consegui passagem a R$ 180,00. Chego cedo e ainda vou para o consultório”, contou ela, ao aterrissar. Verza ia festejar os 90 anos da avó e, em dezembro, voltaria à cidade para gravar um novo filme. O ator chegou a recitar poesia no voo. “Essa paisagem é uma inspiração”, justificou Verza (este momento está no vídeo que pode ser acessado pelo QR Code). O empresário de fruticultura Andrea Keller Saadi sabia da ligação aérea, mas achava que não compensava financeiramente. “Mas quando vi o preço de R$ 180,00 me convenci”, rendeu-se Saadi. Na chegada ao terminal, o agente da Azul Vinicius Vellozo aguardava para fazer o desembarque, enquanto os quatro passageiros que fariam o trecho para Porto Alegre já estavam com seus bilhetes em mãos. Como são apenas três voos na semana na ligação subregional, Vellozo sai do Aeroporto de Caxias do Sul para fazer a operação de recepção e embarque em Vacaria..
Volta:
A viagem de volta teve quatro passageiros, cinco com a jornalista. Todos com viagem para ver familiares e passear. Um tecnólogo em radiologia estava com o filho de quatro anos. A aeronave Grande Caravan não tem banheiro. A dica é resolver antes de embarcar às necessidades. Mas o pequeno não segurou. O jeito foi improvisar.
Erechim já tem clientela fiel e que quer mais voos para mais destinos
Silvio Teitelbaum se emociona ao chegar ao aeroporto, que foi projetado pelo pai Joal Teitelbaum
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCDiário de bordo: 20 de outubro - Porto Alegre-Erechim
Ida:
As conexões entre Porto Alegre e o interior do Rio Grande do Sul, pelo céu, atraem público diverso, que está adorando encurtar distâncias e que quer mais voos e aeroportos em condições de suportar, por exemplo, pousos em dias com tempo adverso, com baixa visibilidade. Passageiros de Erechim pedem agora ligação com Florianópolis, capital catarinense. Assídua no voo, a psicóloga Tania Moraes e o marido Carlos Fontanari já fizeram 12 vezes a viagem, que estreou no começo de agosto. Tania faz palestras e diz que a ligação é "maravilhosa". O terminal de Erechim foi reformado, a pista tem boas condições, mas uma dificuldade: conseguir motorista de aplicativo ou táxi. "Precisa melhorar", avisaram as irmãs Vera Lúcia e Lucimara Strada. O engenheiro Silvio Teitelbaum, que utiliza a ligação pela segunda vez para ir a Passo Fundo, conta que é uma emoção desembarcar no aeródromo; "Meu pai, Joal Teitelbaum, projetou e construir o aeroporto", conta, com orgulho. Na volta, o voo estava quase lotado, com percurso feito todo de noite, mas sem turbulências.
Volta:
Lorien, Rosemara e Tirello: diferentes motivos para viajar e vibrando pela conexão de pouco mais de uma hora
Voo quase lotado com percurso todo de noite. Mas sem turbulências. A diretora e uma das donas da Agros, empresa de produção, consultoria e TI em agronegócio, Ana Cristina Cantele Coimbra, utiliza a conexão para reuniões na Capital e pede instalação de equipamentos para pousos em dias de tempo adverso, com nevoeiro, por exemplo.
Ana Cristina utiliza o voo para reuniões na Capital e pede melhoria das condições de operação
"É um horário bom para trabalhar e voltar, mas precisamos ter garantia de que vai sair". A servidora da Justiça aposentada Lorien Giacomazzi disse "amei" ao saber da oferta e agora pede voo para Florianópolis. Faz coro Rosemare Paz Charão, para poder viajar ao estado vizinho.
Já o profissional de TI Giovani Tirello está bem feliz com a conexão, já fez quatro vezes o destino, pagou passagem a R$ 145,00. "Muitos reclamam que é avião pequeno, mas é melhor do não ter".
Santa Maria espera expasão de voos e reforça tradição de polo de educação
Embarque no portão 12, no Salgado Filho, tem sala lotada, com grande demanda por voo
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCDiário de bordo: 21 de outubro - Porto Alegre-Santa Maria
Ida-volta:
Os 70 assentos da aeronave ATR turbo-hélice lotaram na ida e na volta. "A viagem é rápida e o horário permite conexões", diz Cleverson Perussolo, que faz a rota até três vezes no mês. Para quem vem de fora do Estado, a maior vantagem é o tempo, de 40 minutos de voo, em vez de mais de quatro horas de carro ou ônibus.
Perussolo faz o trajeto de avião entre a Capital e Santa Maria pelo menos três vezes por mês e pede mais oferta de voos
O terminal fica junto à Base Aérea e compartilha a pista da Força Aérea Brasileira (FAB). Foi o único local que a reportagem registrou monitoramento de temperatura, previsto em protocolos da pandemia, no acesso ao terminal, feito por guardas municipais.
Andréa fez pela segunda vez a conexão da Capital a Santa Maria, na primeira viagem pós-pandemia
A professora da Universidade Federal do Pampa Andréa Narvaes fez pela segunda vez a conexão da Capital a Santa Maria, onde reside. "Também foi a minha primeira viagem no pós-pandemia", conta ela, que passou uma temporada de férias em Florianópolis. No Aeroporto Salgado Filho, ela pegou conexão de ida e volta. "Me senti segura", tranquilizou-se, após voltar para casa.
Turismo domina ocupação na subida para Canela e até voar é atração
Terminal do Aeroporto de Canela tem uma área VIP graças à parceria com uma agência de viagens
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCDiário de bordo: 21 de outubro - Porto Alegre-Canela
Ida-volta:
A viagem foi de Grand Caravan, com nove assentos. Pela primeira vez na série uma mulher compõe a equipe do voo, a primeira oficial Marcia Vinholes. Ocupação teve sete passageiros na ida e a volta. Devido ao tempo nublado, houve turbulências mais fortes no trajeto da Capital para a cidade da Serra Gaúcha. O comandante do voo, Phelipe Loureiro, explicou que a navegação é prejudicada porque o aeroporto de Canela não tem equipamento para operar por instrumentos, que ajudaria.
Comandante, com a primeira oficial, explicou que a turbulência no vvo é efeito da condição para pouso em Canela
A delegada civil Camila Kassy, de Fortaleza, e a engenheira biomédica de São Paulo Letícia Lazarotto, que faziam pela primeira vez a viagem à região e na aeronave, passaram mal com as sacudidas do monomotor. "É mais fácil prender bandido", brincou Camila, para aliviar o efeito do voo.
Parte dos passageiros passou mal com a turbulência: "É mais fácil prender bandido", brincou Camila
Dos sete ocupantes na ida, apenas um era passageiros de negócios. Os demais todos turistas, perfil que dominou na volta. Letícia e a mãe Isabel reclamaram da dificuldade e tempo de espera para conseguir transporte de aplicativo do terminal ao Centro de Gramado, onde ficariam hospedadas.
Camello (à esquerda) saiu de Recife para experimentar o voo no Grand Caravan para Canela
No retorno, um perfil curioso de passageiros turistas. O advogado Alberto Camello veio de Recife apenas para conhecer e experimentar o voo de Grand Caravan, entre a Capital e a Serra. "Deixei minha esposa em Balneário Camboriú e vim", conta Camello. A vontade de percorrer o país atrás de conexões curtas, em aeronaves pequenas nasceu junto com a perda do medo de viagem aérea, depois de um grave acidente de carro.
"Desde então, não tenho mais medo, mas é uma diversão cara", admite. NO mesmo voo, o casal Cléssia e Edi Neves, de Curitiba, também tem o mesmo "hobby", e embarcou ida e volta para conhecer o trajeto e sentir as mexidas do Grand Caravan.
Voo lotado e terminal que precisa de melhorias em Santo Ângelo
Na pista do aeroporto, uma surpresa: uma mamãe Quero-Quero protege os ovinhos do fluxo
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCDiário de bordo: 22 de outubro - Porto Alegre-Santo Ângelo
Ida e volta:
A aeronave ATR turbo-hélice, com 70 assentos, lotou na ida e na volta entre Porto Alegre e Santo Ângelo. A rota tem sido muito procurada, segundo relatos. Muitas pessoas não conseguem lugar e acabam tendo de depender de ônibus, com viagem que leva de seis a sete horas. Passageiros como o casal Dario e Ivete Pollo pedem transporte público do terminal Sepé Tiaraju para o Centro.
O casal Dario e Ivete Pollo pede transporte público do terminal Sepé Tiaraju para o Centro
"Isso facilitaria muito, pois ficamos sempre dependemos que alguém nos pegue", diz Ivete.
Além disso, o terminal deve passar por obras; um dos gargalos é o pequeno espaço no embarque e falta de banheiros. Projeto contratado pelo Departamento Aeroportuário do Estado (DAP) dará conta da demanda, que depois será licitada pela Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC).
Outra queixa: falta de banheiro dentro da sala de embarque, que é bem apertada. A limitação também deve ser resolvida com obras de ampliação previstas pelo Estado, que é o gestor do terminal.
Saga mensal: Batista Filho vai a Santo Ângela, desembarca, encontra a filha e embarca de volta
A reportagem do JC cruzou com o jornalista e repórter da Band RS João Batista Filho, que faz a cada mês a mesma maratona que marcou a série.
Embarca em Porto Alegre, chega a Santo Ângelo, encontra a filhinha Maria, de cinco anos, no salão pequeno, e se encaminha com ela para o embarque, raio-x de novo e volta à Capital. "Só na pandemia, que não teve voos, que tive de encarar ônibus, mais de sete horas de voo", recorda o jornalista.
Bagé e o sonho de ter aviões maiores para voar mais longe
Aeroporto, apesar de ser internacional, não tem raio-X e outras condições para voos maiores
JONATAN SILVA/DIVULGAÇÃO/JCDiário de bordo: 27 e 28 de outubro - Porto Alegre-Bagé:
Ida e volta:
No Aeroporto Internacional Gustavo Kraemer, em Bagé, não há, por exemplo, raio-X, exigido para voos com mais assentos. Hoje a Azul faz o trecho para o Salgado Filho apenas com a aeronave Grand Caravan, com nove lugares, que não exige o rastreamento.
A futura concessionária está levantando necessidades dos três aeródromos gaúchos, dentro da transição para assumir as operações em 2022. O Jornal do Comércio encontrou, em Bagé, embarcando para a Capital e depois para o Rio de Janeiro, o engenheiro e consultor Luiz Maneschy que concluiu levantamento de necessidades dos três terminais.
Bagé não tem raio-X para embarque e nem posto para abastecimento de aeronaves, gargalos a serem resolvidos
Bagé, por exemplo, não tem posto de abastecimento de querosene de aviação, o que limita a oferta de ligações com aviões maiores, podendo conectar cidades fora do Estado. Também sinalização e estrutura de combate a incêndio estão na lista de carências. Maneschy comenta que os três aeroportos gaúchos têm grande potencial a ser desenvolvido por estarem em pontas da malha.
Passageiros esperam mais voos e melhorias no aeroporto de Uruguaiana
Uruguaiana (foto), Pelotas, Santa Maria e Santo ?ngelo est?o no radar
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCDiário de Bordo: 28 de outubro - Porto Alegre-Uruguaiana:
Ida e Volta:
Esteira de bagagem, raio-X para embarque, posto de abastecimento de aeronaves e mais opções de voos, de preferência para destinos fora do Estado, estão na lista de expectativas sobre melhoria na operação de aeroportos do Rio Grande do Sul que passarão ao setor privado em breve.
A série Plano de Voo, que acompanha as ligações aéreas entre o Aeroporto Internacional Salgado Filho e 12 cidades do interior gaúcho, passou entre essa quarta-feira (27) e quinta-feira (28) pelos aeroportos de Bagé e Uruguaiana. Nesta sexta-feira (29), será a vez de Pelotas.
Os itens que devem entrar na pauta do futuro concessionário, a Companhia de Participações em Concessões (CPC), do grupo CCR e que administra as rodovias federais gaúchas 290, 101, 386 e 448, que arrematou os terminais de Bagé, Pelotas e Uruguaiana, geridos pela estatal Infraero, em leilões em abril deste ano. Também estão no Bloco Sul vencido pela CCR, Curitiba, Foz do Iguaçu, Bacacheri e Londrina, no Paraná, e estruturas em Navegantes e Joinville, em Santa Catarina.
Componentes de uma esteira para bagagem ainda não foram instalados no desembarque em Uruguaiana. Fotos: Patrícia Comunello/JC
Na chegada do avião ART da Azul, com 70 assentos e quase lotado, a Uruguaiana, chama a atenção dos passageiros o equipamento de esteira de bagagem coberto por uma lona preta. Segundo o segurança que monitora a saída da área, o material deve ser montado, mas não há prazo.
Sem a esteira, as malas são colocadas pelo transporte manualmente no salão. As pessoas chegam e retiram a bagagem.
O terminal teve ampliações nos últimos anos, diz o agropecuarista Luiz Alberto Regatti, que se divide há dois anos entre negócios da família na cidade e em Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso. Ele é cliente assíduo da ligação aérea da Capital para a fronteira com a Argentina.
Regatti faz a conexão Porto Alegre-Uruguaiana e pede ligação da cidade da fronteira direto com São Paulo
"Venho umas quatro vezes no ano. Vou ao Rio de Janeiro e pego conexão", descreve Regatti. Para o passageiro, o terminal "era bem ruinzinho, e agora embarque e banheiro melhoraram".
"Com a retomada da pandemia, podia ter mais voos diretos de Uruguaiana a São Paulo. Seria bem interessante", propõe o agropecuarista.
Passageiro frequente das ligações, o presidente da Assembleia Legislativa, Gabriel Souza (MDB), diz que as rotas ajudam no desenvolvimento da região.
Gabriel Souza usa ligações aéreas para encurtar distâncias e aponta que é preciso melhorar estruturas em muitos locais
"Leva apenas uma hora e meia, de ônibus, seriam oito horas, (avião) encurta muito as distâncias", compara Souza, que aponta demandas que podem ser olhadas pelo futuro concessionário, como mais serviços aos usuários no terminal, e melhores instalações para passageiros e quem acompanha, na partida ou chegada de voos.
O deputado acrescenta que é preciso investir na aquisição de equipamentos para auxilio nos pousos, que estão na lista das obrigações do grupo que venceu o leilão.
Primeiro atraso da maratona; nem a fé ajudou na saída para Pelotas
Passageiros já tinham embarcado, tiveram de voltar ao portão 112 para depois reembarcar
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC/Diário de bordo: 29 de outubro - Porto Alegre-Pelotas
Ida e volta:
Porto Alegre a Pelotas foi a ligação mais atípica após 11 dias de série Plano de Voo. Foi a primeira viagem que teve um certo suspense. O voo atrasou para verificação, por protocolo de segurança, de algum dano no motor da aeronave.
Ventava muito na Capital na tarde do dia 29 de outubro. O destino também seria inusitado: o Aeroporto João Simões Lopes Neto tem a melhor infraestrutura entre todos os aeródromos que estão na série.
A saída da Capital atrasou mais de uma hora. Em vez de decolar às 15h55min, saiu às 17h16min. Teve passageiro que desistiu de viajar, como o pastor da Igreja Assembleia de Deus Juliano Vidal, que iria fazer uma reunião para levar a palavra de Deus aos jogadores do Brasil de Pelotas, em situação periclitante na Série B.
Com o atraso, Vidal disse que não chegaria a tempo. O voo acabou decolando às 17h16min, chegou pouco mais das 18h em Pelotas. A reunião do pastor seria às 19h. Se ele tivesse tido um pouco mais de fé, teria conseguido chegar a tempo.
O estudante de pós-graduação em Odontologia, que vinha de Campinas para visitar a família em Pelotas, João Pedro Caetano, torcedor do Brasil de Pelotas, até vibrou em ter o pastor para dar uma força ao sei time. No fim, Caetano foi para o destino.
A professora Maria Cecília Leite manteve a calma. Cansou de pegar ônibus que levava muito mais temo, mesmo com o atraso do avião. Para ela, a ligação é um roteiro muito usado.
A estudante de Medicina de Curitiba Isabela Souza achou que o dia não estava para sorte. O avião que traria ela da capital paranaense para a Capital acabou sendo cancelado devido às condições climáticas que são bem complicadas na região do aeroporto. Isabela conseguiu um voo que encaixava direitinho para embarcar em Porto Alegre.
"Não acredito. Hoje não é o meu dia", desabafou a estudante, quando o comandante pediu que todos os passageiros deixassem o ATR, para a checagem do motor. No portão 112, ela só torcia para que não cancelassem o voo.
Pelotas está prestes a começar uma nova etapa na operação do seu aeródromo, que homenageia um dos principais nomes da literatura rio-grandense. O complexo vai ser assumido pela CCR em janeiro de 2022, com um conjunto de investimentos e mais melhorias na operação.
'Vou chegar voando à minha terra', diz bancária que nasceu em Alegrete
"Tô com o coração acelerado. É muita emoção", descreve Eliziane Marques, ao embarcar na Capital
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCDiário de bordo: 30 de outubro - Porto Alegre-Alegrete
Ida e volta:
O voo direto Porto Alegre-Alegrete, que é feito em uma pequena aeronave com apenas nove assentos pela companhia Azul, emocionou os passageiros que fizeram o trecho neste sábado (30). A série Plano de Voo, que começou em 18 de outubro, acompanhou a reação antes do embarque, durante o voo e após o desembarque. Foram pouco mais de duas horas de duração. De ônibus, seriam mais de sete horas.
"Pela primeira vez vou chegar na minha terra natal voando. Tô com o coração acelerado. É muita emoção", descreve Eliziane Marques, que mora em Brasília há 10 anos, ainda no portão 112, de onde seguiria depois em um ônibus pelo pátio das aeronaves do Aeroporto Internacional Salgado Filho antes de embarcar na aeronave.
"Vou ver o Pampa e Alegrete de cima", completa Eliziane.
Até o começo do ano, ela pegava ônibus da Capital até a cidade para visitar os pais e demais familiares. "O avião é mais rápido, são duas horas. O ônibus mais de sete horas", compara.
"Vi pela internet quando o prefeito inaugurou o aeroporto, que tem até porteira. Tô curiosa para ver como é. Para quem é alegretense, ter o aeroporto é inovação. Vai deixar Alegrete mais perto do mundo", arremata a bancária.
A estreia da conexão, em agosto deste ano, virou até Meme nas redes sociais, com repertório que costuma ser falado no sistema de som das aeronaves pela tripulação adaptado a gírias da fronteira.
Passageiros e tripulação posaram para foto para marcar o voo entre a Capital e Alegrete. Fotos: Patrícia Comunello/JC
Mais sete pessoas estavam no voo que saiu às 7h10min do Salgado Filho. O trecho faz parte da malha operada pela Azul Conecta, braço da Azul para a aviação subregional, quando é atendida por pequenas aeronaves.
Depois de descerem, tirarem fotos e receberem os familiares na pista os familiares que aguardavam no terminal, alguns passageiros quase esquecem das malas no compartimento interno do Grande Caravan. Eliziane levou o afilhado David para conhecer a área interna da aeronave.
"Ele sonha em viajar de avião", conta a bancária. David já escalava a escadinha do Grand Caravan.
Rezende conseguiu encaixar a agenda de trabalho e horário para ver a família em Alegrete. "Vou testar a ligação"
O advogado Leonardo Rezende trabalha na Capital, mas a família mora em Alegrete. Ele fez pela primeira vez a rota: "Não tinha conseguido encaixar nos mesmos dias e horários. Vou testar. Pelo menos são só duas horas", diz ele. Ao descer no terminal na cidade, mulher e filhos aguardavam atrás da tela que separa da pista.
Maria Lúcia Gomes de Souza, 72 anos, e o filho Lúcio Américo Gomes dall Forno também fizeram pela primeira vez o trecho. Eles moram em Florianópolis, pegaram conexão a Campinas e chegaram no começo da madrugada ao Salgado Filho.
Maria Lúcia e o filho Lúcio cochilaram no aeroporto, vindos de Florianópolis, à espera do voo a Alegrete
"Fizemos um cochilo aqui no aeroporto mesmo", conta Lúcia, que não se incomodou com o cansaço e só pensava em embarcar para a aventura.
"Foi minha prima que falou dos voos. Não tem nada melhor que avião. Na próxima, vamos reservar voo direto para a Capital", projeta ela. "É uma emoção. É um avião com pouco lugares né", comenta Maria Lúcia. No Grand Caravan, ela mostrava com sinal de positiva que estava tudo bem. "Muito lindo", resumiu a alegretense, de volta à terra, mas agora em um avião.
Rio Grande do Sul tem 14 aeroportos operando voos comerciais
Aeroporto de Caxias do Sul é o segundo em operação, com voos diretos ao estado de São Paulo
LEONARDO PORTELLA/DIVULGAÇÃO/CIDADESO Rio Grande do Sul tem hoje 14 aeroportos com voos comerciais que, até setembro deste ano, transportaram um total de 3,018 milhões de passageiros, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A série Plano de Voo percorreu quase todos eles para mostrar como está a operações e quem está embarcando nas viagens.
Há dez anos, a malha aeroviária chegou a ter mais aeródromos em operação. Saíram de cena Rio Grande e Ijuí, enquanto Passo Fundo está sem operar. Torres teve oferta no verão ligando Porto Alegre, mas, por enquanto, não há previsão de retorno
Dos quatro terminais, o de Passo Fundo é o mais emblemático. Devido à demora em obras e homologação das mudanças e instalação de equipamentos para melhorar pousos na pista, a operação completa nove meses de paralisação este mês. Em 2020, o terminal chegou a ser o segundo em fluxo de passageiros, somando 74.993 passageiros, entre embarques e desembarques, ou 2,19% do total da malha no ano passado.
Caxias do Sul, que ostentava o segundo lugar até 2019, atrás do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, e primeira posição no interior, somou 51.585 passageiros, 1,52% do fluxo. A pandemia pode ser uma das causas, mas a restrição afetou igualmente as instalações. Este ano, Caxias do Sul é o primeiro em transporte de passageiros, após o Salgado Filho.
Passo Fundo teve um aumento de tráfego para novos destinos, na temporada de verão de 2020, antes da eclosão da crise da sanitária, que foi a ligação direta para Florianópolis. Outro aeroporto que saiu de cena, mas em 2013, é o de Rio Grande. O terminal estava na sexta posição em embarques e desembarques, mas entre 2010 e 2012 chegou a ser o quarto, ainda embalado pela demanda do polo naval, que foi desmontado e agora indica que pode ressurgir, com novos contratos em estaleiros.
Passageiros aprovam ligações aéreas no interior no RS e pedem mais ligações
Comandante (esquerda) ouviu de passageiros pedidos de mais voos para mais destinos
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCAs conexões entre Porto Alegre e o interior do Rio Grande do Sul, pelo céu, atraem público diverso, que está adorando encurtar distâncias e que quer mais voos e aeroportos em condições de suportar, por exemplo, pousos em dias com tempo adverso, com baixa visibilidade.
Uma das conexões pedidas é Porto Alegre para Cachoeira do Sul. Passageiros de Erechim pedem agora ligação com Florianópolis, capital catarinense. "Já tem mobilização na cidade para ter voos", avisa a psicóloga Tania Moraes, que, com o marido Carlos Fontanari, é cliente habitual na ligação da Capital e Erechim.
As irmãs Vera Lúcia e Lucimara Strada também pedem mais opções, incluindo conexão direta para fora do Estado.
Pelo perfil dos passageiros apurado pela reportagem, as razões das viagens se dividem entre trabalho e negócios, visita a familiares e turismo, que domina a rota de Porto Alegre para destinos no Norte e na Serra Gaúcha.
Três aeroportos aguardam por operador privado
O Aeroporto Internacional de Uruguaiana tem hoje apenas voos da Azul para Porto Alegre
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCA concessão de três aeroportos gaúchos para uma operadora privada está prestes a decolar e deve trazer maior oferta de voos e rotas e integração à malha da aviação regional em diversas regiões do País.
A projeção é feita pelo comando da CCR Airports, que vai assumir em janeiro de 2022 os aeródromos de Bagé, Pelotas e Uruguaiana, hoje ainda sob gestão da estatal federal Infraero.
O investimento é previsto em R$ 206 milhões nas três estruturas ao longo dos próximos anos. As concessões são por 35 anos. Em nota, em resposta a questionamentos do Jornal do Comércio, a CEO da CCR Airports, Cristiane Gomes, adianta que já deu início a "conversas sobre novas rotas e destinos" com as companhias aéreas.
A executiva reforça que a empresa vai analisar as vocações de cada estrutura para "potencializá-las". Este "potencial" terá um ganho automático na conectividade que a infraestrutura que estará nas mãos da companhia vai permitir.
São nove aeroportos no leilão do bloco Sul. Além dos três gaúchos, tem os de Curitiba, Foz do Iguaçu, Bacacheri e Londrina, no Paraná, e Navegantes e Joinville, em Santa Catarina. Mais seis no bloco do Centro, com São Luís e Imperatriz, no Maranhão, Teresina, no Piauí, Petrolina, em Pernambuco, Palma, em Tocantins, e Goiânia, em Goiás. Além disso, a CCR já tinha o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte.
"É importante destacar que a operação conjunta dos 16 aeroportos, a partir de 2022, proporcionará ganhos decorrentes da escala e da integração entre eles, inclusive possibilitando o incremento de novas rotas e destinos, incluindo o aproveitamento do potencial de cargas do Brasil", lista a CEO. "As sinergias certamente irão contribuir para o desenvolvimento das regiões onde esses aeroportos estão inseridos", arremata ela.
O contrato entre a empresa, que pertence ao mesmo grupo que detém hoje quatro rodovias no Estado (BRs 101, 290 - Osório-Eldorado do Sul, 448 e 386), foi assinado em outubro com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que regula o setor e fiscaliza o cumprimento da concessão.
Para dar a largada nos processos da transição até assumir completamente a gestão, que deve ocorrer ocorrer até o fim do primeiro trimestre de 2022, falta a cerimônia de celebração da assinatura, que é organizada pela Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC), do Ministério da Infraestrutura, e que deve ter a presença do presidente Jair Bolsonaro. O ato foi adiado na semana passada e pode ocorrer até sexta-feira (12).
Sobre execução de obras e adaptações, a concessionária prevê começo em 2022 e ainda vai divulgar o cronograma. Pelo contrato, demandas pontuais de cada local devem ser resolvidas na chamada fase I-B, como adequação da capacidade de usuários e bagagens, implantação de áreas de segurança de fim de pista e sistema visual de aproximação do tipo Papi (os três aeroportos gaúchos têm) para pouso.
O Papi é exigência para operação de jatos, por exemplo. Pelotas deve ter voos com Boeing da Gol em janeiro para Guarulhos. Hoje tem ligação com bimotor turbo-hélice da Azul para Porto Alegre.
Uruguaiana tem conexão à Capital com turbo-hélice também da Azul, e Bagé, com avião monomotor com nove assentos, da Azul.
As condições dos três aeroportos foram mostradas na série Plano de Voo, que percorreu 12 destinos entre o interior e Porto Alegre. O de Bagé é o mais limitado e que vai exigir mais adaptações, se for receber aeronaves maiores.
Cidades estão ansiosas por melhorias e mais ligações
Bag? ? uma das estruturas que vai precisar de mais melhorias
JONATAN SILVA/DIVULGA??O/JCAs prefeituras das três cidades que terão aeroportos privatizados não veem a hora que o novo gestor entre e comece a fazer mudanças. Mais voos incluindo rotas para Argentina e Uruguai, são velhos sonhos, principalmente de Bagé e Uruguaiana. Pelotas, por exemplo, espera atrair mais eventos e fluxo de negócios, com oferta de voos diretos para outras localidades fora do Estado, além de Porto Alegre.
"Será uma nova era para o aeroporto e a região", resume o prefeito de Uruguaiana, Ronnie Peterson Colpo Mello. Ele espera que a CCR Airports agilize as obras na pista para receber aeronaves de maior porte e instale a esteira de bagagem. O equipamento está no local, mas não foi instalado. Mello aposta na oferta de voos ao país vizinho e a outros estados.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (SDI) de Bagé, Bayard Paschoa Pereira, também quer ver aeronaves pousando e decolando da pista para o Uruguai. "Bagé teve voos internacionais em 2001", cita ele. A pasta fez pedido à Azul para ofertar ligações a Montevidéu, usando bimotores. "Temos empresários com negócios aqui e no país vizinho", cita. O terminal terá de ter melhorias, mas Pereira avalia que podem ser feitas rapidamente.
"A ampliação terá impacto em toda a região e tem efeito social, econômico e cultural", associa o secretário de Bagé. O terminal precisa de posto de abastecimento de querosene de aviação. "Já temos um investidor para instalar, só depende da concessionária", avisa Pereira. Mesmo com a operação com avião pequeno para a Capital, o secretário garante: "Bagé é uma antes e depois da retomada dos voos".
Situação de cada aeródromo e na concessão
Aeroporto de Bagé terá mais ações para colocar o terminal e pista em condição de receber voos
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCBagé: Aeroporto Internacional Comandante Kraemer
- Pista atual: 1,5 mil metros.
- Terminal atual: capacidade para 200 mil usuários/ano.
- Investimento previsto: R$ 69 milhões.
- Estrutura no terminal e apoio: não tem raio-X (aparelho existe, mas não está instalado), esteira de bagagem, área de embarque e posto de abastecimento de combustível para aeronaves (maiores).
- Voos: ligação com Porto Alegre, de domingo a segunda, com aeronave Grand Caravan (9 assentos), operado pela Azul.
Pelotas: Aeroporto Internacional João Simões Lopes Neto
- Pista atual: 2 mil metros.
- Terminal atual: capacidade para 800 mil pessoas/ano.
- Investimento previsto: R$ 71 milhões.
- Estrutura no terminal e apoio: tem raio-x, esteira de bagagem, sala de embarque, brigada de incêndio e posto de abastecimento.
- Voos: diário para Porto Alegre, operado pela Azul, com aeronave ART 72 (70 lugares). A Azul vai ofertar de 20 de dezembro de 2021 até 28 de janeiro, voo direto três vezes na semana (segundas, quartas e sextas) para Florianópolis. A Gol deve ofertar, em janeiro, ligação direta com o Aeroporto de Guarulhos (SP), com jato 737-300.
Uruguaiana: Aeroporto Internacional Rubem Berta
- Pista atual: 1,5 mil metros.
- Terminal atual: capacidade para 300 mil passageiros/ano.
- Investimento previsto: R$ 66 milhões.
- Estrutura no terminal e apoio: tem raio-x, sala de embarque, brigada de incêndio e posto de abastecimento e não tem esteira de bagagem (existe equipamento, mas não está instalado).
- Voos: diário para Porto Alegre, operado pela Azul, com aeronave ART 72 (70 lugares). A Azul vai ofertar, de 26 de dezembro de 2021 a 30 de janeiro, voo direto aos domingos para Florianópolis. A Gol deve ofertar, no primeiro semestre de 2022, ligação direta com o Aeroporto de Guarulhos (SP), com ATR 72.
Maior aeroporto do interior gaúcho está fechado há nove meses
Novo terminal, que deve ficar pronto em 2022, e melhorias na pista ampliam capacidade
DAP/SECRETARIA DE TRANSPORTES RS/DIVULGAÇÃO/JCUm dos aeroportos gaúchos com mais fluxo de passageiros depois do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, mas quando funciona, aguarda aval de órgãos aeronáuticos e reguladores para retomar a operação.
Desde começo de janeiro de 2021, o aeródromo de Passo Fundo Lauro Kortz, no Planalto e em uma região produtora de grãos e sede de grandes indústrias, está fechado. São nove meses sem voos. Em outubro, 14 aeroportos gaúchos tinham voos comerciais. Passo Fundo, que tinha ligações aéreas para São Paulo, ficou fora da série por estar sem voos e por não ser ligação de interior, mas vale o registro pelo impacto de não ter a operação na malha regional.
Mesmo antes da conclusão das obras do novo terminal, previsto para ficar pronto até maio de 2022, o Estado quer reativar as ligações das companhias. A pista sofreu mudanças e novos equipamentos de navegação já foram instalados, mas precisam ser homologados por órgãos como Cindacta II de Curitiba, vinculado ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).
"Está todo mundo esperando", diz o diretor do Departamento Aeroportuário do Rio Grande do Sul (DAP), ligado à Secretaria Estadual de Transportes, Leandro Taborda, sobre aéreas e passageiros. Taborda não fala em data, mas acredita que a reabertura "está próxima". "Vamos retomar o mais breve possível", acalenta o diretor.
"A Azul não vê a hora de voltar a Passo Fundo, inclusive para voar com aeronaves maiores", diz o gerente de Planejamento, Vitor da Silva, que evita falar em prazo de retorno e lamenta a perda de seis a oito meses devido à demora nas obras e homologações. A previsão da empresa era voltar a voar em julho. Fala-se em novembro, mas Silva adota cautela:
"Vamos aguardar agora o Estado dar uma data. Quando ficar oficial, enviamos equipe de segurança para ver se é tranquilo operar", explica o gerente. A companhia terá de contratar pessoal para solo. Para 2022, a meta é operar com aeronave A320, com 174 lugares, ou o E2, com 136 assentos. O executivo não tem segurança se até dezembro tudo estará pronto. A aérea quer voltar com ligação direta para Florianópolis, no verão.
Nesta terça-feira (26), Taborda teve reunião na sede do Cindacta, na capital paranaense, para verificar a situação da análise dos requisitos técnicos e prazos. Adiamentos sobre a conclusão dessa etapa ocorrem desde maio, diz Taborda.
A documentação incluem as novas especificações da pista, que teve redução de 1.700 metros para 1.680 metros de extensão para abrir espaço para a resa, a área de escape das aeronaves, e instalação dos Papis (Precision Approach Path Indicator, da sigla em inglês), que compõem a sinalização de aproximação das aeronaves.
Também será analisado o Plano Básico de Proteção, com obstáculos no entorno, e estrutura da pista que foi reforçada para suportar o peso de aviões maiores. A Agência Nacional de Aviação (Anac) também terá de validar as novas especificações.
Azul e GOL operavam no local, com voos para fora do Rio Grande do Sul. A Azul voava com Embraer-195, com 118 lugares, e a GOL, com Boeing 737-700, com 138 assentos.
Já a construção do terminal, que terá 2 mil metros quadrados, está na fase de cobertura. O diretor do DAP informa que falta menos de 30% da execução total. Junto à estrutura, ficam as novas pistas de táxi aéreo. Depois de concluída a obra, o aeroporto passará a ter capacidade de transportar 300 mil passageiros por ano. A configuração antiga era de um fluxo de até 200 mil pessoas por ano.
A placa instalada na frente ao Aeroporto Lauro Kortz indica que a obra já deveria ter sido concluída no último dia 21 do outubro. A largada da ordem de serviço foi em outubro de 2020, com coordenação do governo estadual. O investimento total é de R$ 50,7 milhões, sendo R$ 43,2 milhões da Secretaria de Aviação Civil do Ministério de Infraestrutura, e R$ 7,5 milhões do orçamento do Estado.
Passo Fundo se mobiliza para reabrir aeroporto fechado há nove meses
Placa no canteiro de obras aponta que o término era previsto para outubro de 2021
gustavo mansur/Divulgação/JCSem voos há nove meses, o Aeroporto de Passo Fundo Lauro Kortz faz falta a uma das regiões com maior produção agrícola e industrial do Rio Grande do Sul. A série Plano de Voo mostra como está a situação no aeródromo.
Para tentar acelerar a reabertura ainda para este ano, que depende de aval técnico de órgãos da aviação, militar e civil, a prefeitura da cidade criou um grupo com cinco pastas da gestão local que vai acompanhar de perto a tramitação que ocorre no Departamento Aeroportuário do Rio Grande do Sul (DAP), ligado à Secretaria Estadual de Transportes.
"A prefeitura tem atuado para garantir que as operações sejam retomadas o quanto antes", disse, por nota, o prefeito Pedro Almeida. Estão na força-tarefa as secretarias de Gestão, Planejamento, Obras e Desenvolvimento Econômico e a Procuradoria-Geral do Município (PGM).
“O aeroporto beneficia não apenas Passo Fundo, mas toda a região e o Estado", reforçou Almeida. O Lauro Kortz foi o segundo no fluxo de passageiros em 2020, atrás apenas de Porto Alegre. Em 2021 e até 2019, o aeroporto de Caxias do Sul ocupa a segunda posição, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
A série Plano de Voo, que retrata a aviação regional, mostrou na edição de ontem que a companhia Azul vai esperar uma data oficial para definir a oferta da ligação com Campinas e ainda para Florianópolis, na temporada de verão e que teve grande procura no fim de 2019 para 2020. A estimativa da Azul é ter voos só em fevereiro de 2022. A GOL também aguarda a reabertura para voltar a fazer a ligação com Guarulhos. O prefeito informou que a GOL diz que pretende ter mais frequência no retorno.
Nessa terça-feira (26), representantes do DAP, com a presença de secretários de Passo Fundo, tiveram reunião com o 2º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II), em Curitiba. O órgão analisa as condições da pista e de navegação para homologar a operação.
O aeródromo passa por obras, com aporte de R$ 50,7 milhões. A intervenção na pista, que mudou a extensão e ganhou reforço da base para suportar aeronaves maiores e recebeu novos equipamentos, como os Papis (Precision Approach Path Indicator, da sigla em inglês), para sinalização de aproximação das aeronaves, foi concluída e precisa ser homologada. Falta concluir a construção do terminal, prevista para ocorrer até maio de 2022. A meta é reativar antes disso, usando o terminal antigo.
O diretor do DAP, Leandro Taborda, informou que o Cindacta apresentou "pendências técnicas e orientações que devemos atender". Taborda não detalhou o que ainda terá de ser feito para atender às exigências. "Não foi definido prazo para a reabertura do aeroporto. A intenção é atendermos o mais rápido possível e ir seguindo no processo de homologação", comentou o diretor.
Na semana passada, técnicos da Anac inspecionaram o aeródromo nas áreas com obras para verificar as condições de operação. Um Relatório de Inspeção Aeroportuária (RIA) será emitido, mas não há prazo. O RIA será enviado ao departamento estadual. Mesmo que seja positivo, o laudo da Anac não é suficiente para liberar os voos. É preciso a homologação do órgão aeronáutico.
Como é feita a série Plano de Voo que percorre ligações aéreas no RS
Em cada dia de voo, o roteiro entre o check-in, checagem de voos e embarque no portão 112
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JCA série Plano de Voo busca mostrar como é a aviação comercial regional no Rio Grande do Sul a partir da experiência de percorrer as ligações existentes em outubro de 2021, ofertadas pela companhia Azul. A ideia é viver a mesma situação que passageiros encaram ao embarcar em Porto Alegre e seguir para o destino, um dos 12 que são ofertados, e também no caminho inverso, para seguir à Capital.
Enquanto os passageiros comuns, com diferentes motivos para viajar, descem da aeronave e seguem para seus compromissos, a jornalista Patrícia Comunello acelera o ritmo para tomar depoimentos, registrar imagens em vídeos e fotos dos terminais e pista. O conteúdo une as duas dimensões do transporte aéreo: a demanda e a infraestrutura.
Repórter conta a seguir como surgiu a ideia e a execução:
"Desde que a Azul passou a operar as rotas regionais dentro do Rio Grande do Sul, ou as rotas chamadas de subregionais, desde 2019 e com mais força em 2020 - depois teve interrupção por causa da pandemia -, e voltou com tudo em agosto deste ano, vinha pensando em fazer a reportagem. Mas teria de ser vivenciando, entendendo como é fazer cada rota. Chegar no aeroporto, fazer check-in, passar pelo portão de embarque, mostrar o bilhete e subir na aeronave.
Não tinha ideia de como seria isso para uma malha com este perfil e ainda mais usando aviões menores, com motor turbo-hélice. Além, é claro, da curiosidade ara saber quem estava embarcando nestas "aventuras" de retomada da aviação de interior, aquela que a antiga Varig percorreu nos primórdios.
Em agosto, fiz a cobertura da largada de oito destinos do braço da Azul Conecta, a partir do voo inaugural para Bagé, no Aeroporto Internacional Salgado Filho. Foi uma cerimônia com discursos e expectativas. Estavam o governador Eduardo Leite, deputados, secretários, representantes da Fraport Brasil, concessionária do Salgado Filho, e executivos da Azul. Claro, também os primeiros passageiros. A matéria está aqui.
Naquele dia, provoquei o assessor da Presidência da Azul para Assuntos Institucionais, Ronaldo da Silva Veras: "Tenho uma super vontade de percorrer todos os destinos para ver como é". De pronto, Veras, que pela primeira vez me via e falava comigo, assim como eu, respondeu: "Vamos fazer". O que eu precisava era desse sinal verde: poder fazer os voos, sem custo. Para a companha, também despertou interesse porque seria um jeito de mostrar a aviação em plena ativação, podendo atrair mais usuários.
Bom, a partir dali comecei a imaginar o roteiro. Em função de outras agendas e coberturas, o Plano de Voo, nome singelo e exatamente com a pegada do que pensei em fazer e que precisaria, afinal, ter um mapa de como executar. Em outubro, contatei um dos assessores de imprensa da Azul, enviei o "plano", com dias e cada destino, alguns deles previa mais de um no mesmo dia. Minha ideia era fazer tudo em dez dias, considerando que, em alguns deles, não seria possível, pois os voos não são diários.
A série "pegou vento", como diz o nosso editor-chefe, Guilherme Kolling, porque a Azul ampliou a frequência dos destinos para semanal e alguns até diários. Ou seja, o painel de voos da aérea só me beneficiou. Fazer mais de um destino em 24 horas e engrenar uma sequência de percursos seriam viáveis.
Confesso que não foi tão fácil montar a agenda do Plano de Voo. Tudo porque precisava encaixar os dias e horários e ainda a disponibilidade. Sim, tem destinos que lotam. Hoje são dois tipos de aeronaves que fazem a malha: o ATR de 70 assentos, um típico avião para rotas regionais, e o Grand Caravan, da Cessna, com nove lugares.
Em 14 de outubro, o assessor deu o ok (os dias anteriores foram tensos, pois havia mandado a agenda, com os 12 voos, e o Bruno não tinha visto na escalada de mensagens no WhatsApp - achei que meu Plano de Voo não iria nem decolar). O assessor super confirmou, e o primeiro sairia no dia 18, quatro dias depois, às 7h10min, para São Borja. No mesmo dia, outro para Santa Cruz do Sul. Ia ser emocionante!
O resumo ou melhor a construção da pauta, que teria de ter os voos, é este. De 18 a 22 de outubro, fiz sete destinos. Na semana seguinte, teriam de vir mais cinco. Algumas dificuldades surgiram, devido à lotação de voos e também para conciliar dias e frequências, mudou um pouco o calendário inicial: em vez de encerrar em 28 de outubro, a série, pelo menos o que é no ar, vai até 2 de novembro, com a última escala prevista para Santa Rosa, de Grande Caravan, em grande estilo.