O mercado da construção civil procura se reconstruir após o fim da crise econômica no País. Com a retomada gradual da economia brasileira, o setor também projeta encontrar sua estabilidade no mercado. A queda nas taxas de juros e a retomada de confiança por parte dos investidores trouxeram novos ares de otimismo para o segmento em 2019.
Para o presidente do Sindicato da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Aquiles Dal Molin Júnior, o próximo ano poderá ser dividido em duas etapas. Segundo ele, o primeiro semestre será de crescimento no ânimo para a produção, devido à estabilidade política, à melhoria de crédito e à aprovação da Lei do Distratos, que depende ainda de sanção presidencial e visa proteger as construtoras em caso de desistência via desistências pelos compradores. Já para o segundo semestre, Dal Molin prevê uma consolidação desses aspectos, mas explica que o novo governo terá que criar condições para o desenvolvimento do setor, pensando nas reformas da Previdência e tributária. Mesmo com um terreno propício para o crescimento, o presidente do Sinduscon-RS afasta a possibilidade de um crescimento abrupto, como foi em 2010: "o próximo ano marcará um período de criar condições para o desenvolvimento". Além disso, Dal Molin projeta que, após a preparação em 2019, o crescimento real será em 2020.
Como um ano de preparação e estabilização da economia, assim como em 2018, o termômetro da construção civil para o próximo ano pode ser analisado no Produto Interno Bruto (PIB) do País. No comparativo com os últimos três trimestres, o PIB geral teve um crescimento de 0,8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto o PIB específico da construção civil cresceu 0,7%. A relação entre a economia geral e a construção civil também pode ser visualizada em outros cenários: em 2010, no auge do setor, o PIB brasileiro teve aumento de 7,5%, enquanto o PIB da construção civil cresceu 13,1%. Quando a conjuntura não se mostrou efetiva, a relação também se manteve: em 2014, último ano em que o PIB brasileiro registrou variação positiva até então, de 0,5%, a construção civil teve queda de 2,1%.
Mesmo demonstrando um crescimento, a economia, em 2018, não facilitou os lançamentos para o setor. Na avaliação de Gian Tagliari, gestor comercial no Sul da MRV, embora o cenário apresente um aquecimento, em função do longo tempo de aprovação para os projetos, muitos empreendimentos acabaram adiados para 2019: "a demanda acabou ficando represada por causa da crise, e, na oferta, as empresas acabaram segurando os lançamentos para um quadro mais aceptivo do mercado", resultando em um preparo das empresas já para o próximo ano.
Além dos novos agentes investidores, como os bancos privados se inserindo com maior aporte financeiro para o crédito imobiliário, o sócio-diretor da Melnick Even, Juliano Melnick, relaciona a possível estabilidade política com a expectativa de crescimento para o próximo ano: "existe uma grande expectativa do País em relação à mudança de governo, porque antes tínhamos um governo de transição, e, independentemente do viés político, é um governo que tem mais dificuldade de capital político, impedindo certos avanços".
A volta dos investidores no setor já reflete em uma maior estabilidade para o próximo ano. Segundo os dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), outubro deste, último dado divulgado pela entidade, marcou o segundo melhor resultado do ano dos financiamentos imobiliários com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). No acumulado do ano até o último estudo, o montante de R$ 46,5 bilhões é 27,9% superior em comparativo com o mesmo período de 2017. Como o mercado da construção civil é dependente de crédito, os números traduzem parte do otimismo do mercado e das construtoras.
Construtoras gaúchas analisam as possibilidades do setor no Rio Grande do Sul
Mesmo com a estabilidade nas taxas de juros - que desde março de 2018 estão em 6,5% ao ano -, o que ajudou a retomar a esperança das construtoras no Estado, de outubro de 2017 a setembro de 2018, houve uma redução de 11,1% na venda de unidades na comparação com os 12 meses anteriores. Conforme os resultados da Pesquisa do Mercado Imobiliário, realizada pelo Departamento de Economia e Estatística do Sindicato da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), foram negociadas, no Estado, 2.956 unidades, enquanto, no ano passado, foram vendidas 3.328.
Segundo o Sinduscon-RS, nos últimos 12 meses, o acumulado de lançamentos foi de 2.740 unidades, ou seja, um incremento de 9,08% se comparado com o mesmo período anterior, quando foram lançadas 2.512 unidades.
Os novos ares para o setor constroem um ambiente de confiança para as construtoras. Conforme o diretor financeiro da Rotta Ely, Pedro Ely, o planejamento da construtora é de atuar com maior presença nos próximos anos: "dentro do nosso planejamento, projetamos lançamento de R$ 450 milhões para os próximos 24 meses".
Juliano Melnick, sócio-diretor da Melnick Even, também projeta crescimento, mas a empresa aguardará o novo momento de financiamento para estudar: "certamente agora os bancos estarão mais seletivos com as construtoras nas quais eles farão o financiamento. Será um diferencial competitivo a empresa estar sadia e forte para ser uma parceira do banco", analisa.
Para 2019, o gestor comercial do Sul da MRV, Gian Tagliari, aposta em uma retomada efetiva, devido às preparações ocorridas neste ano: "já entramos em 2019 com uma taxa de juros muito boa para financiamento imobiliário, com os bancos estimulando e aumentando até a capacidade". O aumento do teto para o uso do FGTS - que antes era de apartamentos de até R$ 450 mil - para R$ 1,5 milhão em Porto Alegre é outro dos fatores que influenciam essa retomada. Relacionado a isso, o mercado específico do programa Minha Casa Minha Vida - que, recentemente, aumentou suas faixas para famílias com renda até R$ 9 mil - acompanha a tendência de crescimento do resto do setor. Para 2019, são previstos R$ 4,6 bilhões para o programa, número 10% inferior do que o sugerido em 2018, mas 6% acima do que foi efetivamente autorizado neste ano.