Demanda chinesa expande mercado de suínos, de aves e até de bovinos

Exportações atuais e as perspectivas futuras estão movimentando aviários, criatórios de suínos e pastagens gaúchas

Por Thiago Copetti

Ainda que a China não tenha como tradição colocar no prato cortes bovinos, vendas para o país asiático devem aumentar
Se há um segmento do agronegócio que anda animado e otimista, e que tem motivos para tanto, é o setor de carnes, seja de frango, de suíno ou de bovino. Apesar de o mercado doméstico seguir aquém do esperado, já que a crise e o desemprego persistente e ainda afetam o consumo interno, as exportações atuais e as perspectivas futuras estão movimentando aviários, criatórios de suínos e pastagens Estado afora.

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Negócios internos e exportações de gado em pé desaceleram no Rio Grande do Sul

Depois de alcançar cerca de 170 mil animais embarcados pelo porto do Rio Grande, especialmente para a Turquia, o volume de exportação de gado em pé a partir do Estado encolheu significativamente neste ano. No primeiro semestre, de acordo com a secretaria de Agricultura, saíram do Estado rumo ao exterior apenas 46 mil animais vivos entre janeiro e junho deste ano. Com isso, a expectativa é de que as vendas, em 2019, não devem superar as 110 mil cabeças. E é justamente esse mercado que paga acima da média nacional, em torno de 15%. De acordo com o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, a demanda arrefecida é reflexo direto da crise econômica turca.
No mercado brasileiro, o cenário não é muito diferente, também causado pela crise e pelo elevado número de desempregados. Ainda assim, no Rio Grande do Sul, o consumo segue praticamente estável, o que tem ajudado o setor ao menos a não ter perdas de valor. Mas, segundo Zilmar Moussalle, diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado (Sicadergs), com a necessidade de os produtores rurais abrirem espaço de pastagens para lavouras e precisarem vender os animais, os valores pagos aos pecuaristas tendem a cair. "É um movimento sazonal normal. Como aumenta muito a oferta nesse período que antecipa o plantio de verão, os preços costumam cair um pouco", diz Moussalle.
Ainda segundo o diretor-executivo do Sicadergs, investir em um possível e futuro mercado europeu, a partir do acordo com o Mercosul, ou com os Estados Unidos, que pode vir a retomar as compras, nem sempre é um atrativo seguro. Além de precisar direcionar para fora do Brasil o produto que tem venda assegurada no mercado interno - especialmente nos casos dos frigoríficos gaúchos -, há uma outra incerteza constante nessas vendas, além do câmbio.
"As barreiras sanitárias, ou falsas barreiras criadas externamente, podem, de uma hora para a outra, fechar as portas à carne brasileira. E aí quem se desligou ou deixou de investir no mercado interno tem dificuldade de voltar a esse porto mais seguro", avalia o executivo do Sicadergs.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Angus, Nivaldo Dzyekanski, um caminho para a pecuária gaúcha agregar valor seriam as exportações de carnes nobres. A Angus, uma das principais raças nobres nos campos do Estado, por exemplo, investe em certificações de qualidade que têm aberto portas no mercado externo, mas enfrenta um limite físico para crescer. "O consumo interno é alto, e não temos como aumentar muito os embarques devido à falta de produto mesmo", explica Dzyekanski.
Além disso, ressalta o criador, o brasileiro tem comprado e valorizado cortes gourmets de carnes nobres. Tanto que, além do programa de certificação de qualidade Angus, outras raças, como Devon, também passaram a investir em ações semelhantes.