Supermercados adaptam-se às novidades no ramo de cafés

Em 2018, Brasil se tornou o maior consumidor de café do mundo, registrando alta venda do produto em pó, expresso e em cápsulas

Por Eduarda Endler

Gaúcho é o maior consumidor per capita de café solúvel, e lojas acompanham a tendência de gourmetização da bebida
A crise econômica no Brasil não impediu que a venda de café continuasse crescendo, através de inovações e diferenciações do mercado. Atualmente, a bebida está passando por um processo de gourmetização parecido com o que ocorreu com os vinhos e as cervejas. Segundo Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), os supermercados já comercializam cafés premium, mas sem perder o foco nos líderes de vendas com menor preço. Longo afirma que o gaúcho é o maior consumidor per capita de café solúvel do Brasil, por questões culturais e até mesmo climáticas.
Segundo o Euromonitor Internacional, o Brasil é o maior consumidor de café do mundo, deixando para trás os Estados Unidos e a Alemanha. O brasileiro toma, em média, 839 xícaras da bebida por ano, o que representa mais de duas por dia. Em pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o consumo de cafés em pó atingiu 81% e o de cafés expressos e em cápsulas, 19% do total da demanda nacional.
A produção mundial de café para a safra 2018/2019 está estimada em 174 milhões de sacas, o que representa um crescimento de 34% em relação às 130 milhões de sacas produzidas há uma década, na safra 2009/2010. O Brasil, maior produtor de café a nível mundial, colheu 61,66 milhões de sacas em 2018, em torno de 35% da produção mundial. Em segundo lugar está o Vietnã (30,4 milhões de sacas e 17,5% da produção mundial), e, em terceiro, a Colômbia (14,3 milhões de sacas, equivalente a 8,2% da produção do planeta).
A ligação do brasileiro com a bebida tem muitos significados. De acordo com Tiago Mello, gerente de qualidade do Café do Mercado, as pessoas têm uma relação de proximidade com o produto. "O café remete a momentos importantes da vida do brasileiro. Além disso, o produto de alta qualidade está associado à gastronomia, ou seja, momentos de união, confraternização e prazer", afirma Mello.
Em razão da alta procura registrada, o Café do Mercado criou a Cafeoteca, uma loja virtual de seus produtos. Um dos serviços oferecidos é a assinatura da bebida. Segundo Mello, a entrega em casa possibilita que a pessoa diversifique o leque de cafés a serem consumidos. Ele conta que a assinatura cresce, no mínimo, 10% ao mês, e o perfil do cliente é eclético, formado por homens e mulheres entre 18 e 70 anos.
No Brasil, a safra 2018 de café é de 61,7 milhões de sacas, um crescimento de 37% em relação a 2017. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o ano passado registrou a maior colheita da história. A Associação da Indústria Brasileira de Café (Abic) divulgou que o Brasil é responsável por um terço da produção mundial de café, o que confirma o País como o maior produtor, posto que detém há mais de 150 anos. Entre os principais estados que plantam a bebida estão Minas Gerais (responsável por 50% da produção nacional), Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Paraná e Rondônia. 

O vai e vem dos carrinhos de supermercado

Em constante mudança, o consumo de produtos mostra um vai e vem em vendas. Antônio Cesa Longo é presidente da Agas desde 2003 e viu, ao longo deste período, diversos produtos roubarem a cena no setor.
"O varejo é apaixonante justamente pela velocidade da mudança. Nestes anos todos, vimos muitas tendências e hábitos de consumo que se evidenciaram e depois saíram de moda. Anualmente, a indústria lança 12 mil itens nas lojas do setor, mas somente 10% sobrevivem ao crivo do cliente no primeiro ano", conta Longo.
Atualmente, se vive um momento diferente quanto às tendências de consumo. Para o presidente da Agas, há uma brincadeira de que "tendência é não ter tendência". "Há consumidores de todos os tipos, bolsos e gostos, e, por isso, varejos de diferentes formatos e operações também estão competindo em igualdade", afirma o dirigente.
Ele relata que há, também, uma preocupação cada vez mais evidente do consumidor com sua saúde e seu bem-estar. Segundo ele, o gaúcho quer adquirir produtos melhores e mais saudáveis, mas muitas vezes falta renda para isso. Entre os itens em alta nos carrinhos estão os cafés em cápsula, as bebidas energéticas e os fiambres.
 

Meios eletrônicos de pagamento estão presentes em 100% dos estabelecimentos

De acordo com o Ranking Agas, as compras pagas em dinheiro tiveram uma queda no último ano, representando um terço do pagamento nos caixas do supermercado. Em 2018, os pagamentos em espécie foram 33,5% nas lojas, enquanto, em 2017, eram 34% e, em 2016, 27,4%. O uso de cartão de crédito também está em queda desde 2016, indo de 32,8% para 29,6% e 27,7% nos três últimos anos, respectivamente.
Para Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), embora a compra no crédito tenha apresentado uma pequena queda, o cartão de débito e os meios eletrônicos em geral estão em crescimento contínuo. "Além da preocupação crescente em fugir do endividamento, há uma nítida preocupação do consumidor com sua segurança", afirma o dirigente.
Longo explica que os cartões próprios também são uma estratégia em crescimento, porque possibilitam ao varejista identificar e conhecer o hábito de compra do seu cliente: "O consumidor quer ser tratado com individualidade, e há cada vez mais soluções tecnológicas que vão permitindo, pouco a pouco, que o supermercado conheça e personalize o atendimento ao consumidor."
O presidente salienta que possuir um banco de dados dos clientes é um diferencial valioso. Segundo ele, muitos supermercados estão criando este sistema, mas vão conseguir usá-lo somente daqui alguns anos. "Os cartões próprios são uma ferramenta importante para este conhecimento do consumidor", relata.
Pela primeira vez na história do Ranking Agas, 100% dos supermercados informaram operar com meios eletrônicos de pagamento. 

Sobe e desce dos produtos

Em alta
  • Cafés em cápsula
  • Energético, cooler e ice
  • Espumantes
  • Fiambreria (autosserviço)
Em baixa
  • Cafés em pó
  • Linha festa de carnes (açougue, como aves natalinas, chesters, perus)
  • Compotas
  • Descartáveis
  • Iogurtes
  • Açúcar