Técnicos do governo já iniciaram nesta quarta-feira (9) o aprofundamento da análise dos indicadores da Covid-19 no Rio Grande do Sul, com o intuito de elaborar o estudo que poderá embasar a decisão de desobrigar o uso de máscaras ao ar livre no Estado. Solicitada na terça-feira (8) ao Gabinete de Crise
pelo governador Eduardo Leite, a demanda não tem prazo para ser finalizada, mas está sendo intensificada, com base na decisão de estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, que já flexibilizaram o uso do acessório de proteção. Na próxima semana deve ocorrer nova reunião do Comitê Científico de Apoio ao Enfrentamento da Pandemia, já pré-convocado, para tratar do tema.
O pré-debate seguirá até o final desta semana, com reuniões de membros do Executivo agendadas inclusive para esta quinta (10). No mesmo dia, às 14h,
a prefeitura de Porto Alegre promove encontro virtual com especialistas em saúde e representantes de universidades e das cidades da Região Metropolitana para iniciar o que o prefeito Sebastião Melo chamou de "debate da ideia com o meio científico". O chefe do Executivo municipal antecipou a discussão em relação ao Estado, mas tudo indica que as decisões, provavelmente pela liberação do uso das máscaras ao ar livre, caminharão juntas.
Melo avalia a necessidade de observar o contexto local da pandemia nos próximos 10 dias, em função da retomada das aulas presenciais e do aumento da circulação de pessoas na Capital após o período de Carnaval, para bater o martelo. "Está na hora de fazermos um debate científico sobre isso, não vamos fazer uma coisa no achismo. Então, Porto Alegre tem a obrigação de fazer esse debate, e vamos fazê-lo", disse na terça.
Especialistas atentam para a necessidade de manter os cuidados em relação à Covid-19, e ponderam que, mesmo que haja uma iminente desobrigação das máscaras no Estado, a recomendação do uso deve permanecer. Coordenadora da Rede Análise Covid-19, a biomédica e professora da Unisinos Mellanie Fontes Dutra, membro do comitê científico estadual, avalia como relevante o debate, mas prematura a adesão às flexibilizações neste momento.
Segundo ela, dependendo das medidas a serem adotadas, é possível flexibilizar ao ar livre, mas com a necessidade de manutenção dos demais cuidados e distanciamento adequado. "Acho importante ter uma certa cautela com flexibilizações como essa porque as máscaras são muito fundamentais para evitar transmissão e risco de exposição. Me preocupa o entendimento da população, pois quando se lê 'desobrigado' entendem que não seja mais recomendado, e a máscara é muito recomendada. Acho que ao ar livre, dependendo das medidas, é possível flexibilizar, mas tem de ter cuidado com distanciamentos e somar outros cuidados, e é possível que se veja um aumento de casos e hospitalizações em grupos específicos, principalmente nos mais vulneráveis ou mais suscetíveis, onde a cobertura vacinal é mais baixa", comenta.
Mellanie também teme que a retirada das máscaras ao ar livre incite uma interpretação errada de que o mesmo também poderá ocorrer em ambientes fechados neste momento. "O cerne é como as pessoas entenderão essa mensagem (da desobrigação), se não precisarão mais usar em contexto nenhum ou poderão se descuidar. Mesmo havendo uma desobrigação, a qual eu acho muito precipitada, a recomendação de uso ainda é muito importante", diz.
Ela lembra que existem estudos que mostram que sem o distanciamento correto, mesmo ao ar livre, pessoas sem máscara têm risco de se expor à contaminação. "Quando a gente fala em somar camadas de proteção é isso. Se a pessoa não quiser estar de máscara ao ar livre precisa se atentar a cumprir o distanciamento adequadamente, pois haverá o risco de as pessoas aglomerarem sem máscara e começar, novamente, um aumento de transmissão. Por isso a máscara segue sendo extremamente recomendada", completa.
Outro nome à frente da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt se manifestou via Twitter sobre o debate. Ao analisar pesquisa da Universidade de Mryland (EUA) sobre o uso de máscara, ele aponta que o Rio de Janeiro, que já flexibilizou o acessório, teve queda visível de pessoas que admitiram não usar mais máscaras na maior parte do tempo, e que essa conduta acabou culminando com o início da onda de casos da variante Ômicron, entre o final de 2021 e início de 2022. "Quando olhamos o Estado do Rio Grande do Sul, vemos um comportamento muito similar. Uma queda no uso de máscaras e uma onda subsequente (de casos)", apontou.
Segundo ele, os gráficos do estudo mostraram ainda que após o fim de restrições a tendência é de que as mesmas não voltem na mesma intensidade, se necessário for. "Espero ter conseguido mostrar que não vale a pena reduzir mais o uso de máscaras, principalmente na véspera da temporada sazonal de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave).Cuidem-se! Usem máscaras PFF2", completou Schrarstzhaupt na postagem.