Com alto poder de transmissão e contágio,
a variante Delta do coronavírus se espalha pelo Rio Grande do Sul, onde já há 15 casos confirmados, pelo menos mais 49 em investigação, e
surtos localizados nos hospitais Vila Nova e Conceição, com quatro vítimas fatais. Apesar do avanço no Estado, a exemplo de outras localidades, especialistas apontam que ainda há dificuldade e demora na identificação da cepa, e reforçam que qualquer sintoma semelhante ao de gripe e resfriado deve ser considerado e indicar a necessidade de testagem para a Covid-19. Para evitar o agravamento que uma nova onda da pandemia possa causar ao sistema de saúde, a orientação é reforçar o uso da máscara e não relaxar nos cuidados nem na prevenção, inclusive entre os imunizados.
"Até o momento, qualquer sintoma de gripe é suspeita de Covid", alerta o infectologista Paulo Gewehr Filho, coordenador do núcleo de vacinas do Hospital Moinhos de Vento.
Segundo ele, não há outra forma de identificar a contaminação pela variante Delta, a não ser pela testagem. Diferente do contágio pela P1,
até então cepa dominante no País e no Estado, não são comuns registros de perda de olfato e paladar entre os sintomas da nova linhagem, que tem febre, dores de garganta e de cabeça, tosse, coriza e fadiga entre as principais características comuns a gripes e resfriados.
Chefe do setor de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), o médico Eduardo Sprinz explica que, diante desses sintomas, o ideal é que o paciente se isole, por pelo menos 10 dias, procure avaliação médica e testagem para a Covid-19. " É imprescindível que, diante dos sintomas, se faça o teste, pois ele será o divisor entre a Covid e um resfriado ou gripe. Se queremos diminuir a transmissão e a incidência de novos casos é necessário que as pessoas com suspeita ou Covid confirmada sigam isoladas", enfatiza.
Os testes rápidos (antígeno) para detecção do coronavírus são aqueles com coleta de amostra a partir da introdução de um cotonete no nariz, o procedimento é indolor e tem resposta a partir de 15 minutos. Farmácias, laboratórios e unidades de saúde realizam o exame.
Para identificar a Delta, no entanto, o diagnóstico é mais demorado, pois os testes passam primeiro pelo Laboratório Central do Estado (Lacen/RS) e são, posteriormente, encaminhados para confirmação na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, onde é feito o sequenciamento genético completo. Por conta disso, os especialistas apontam que a tendência é de que o RS tenha muito mais casos da variante do que o comprovado até então.
Segundo a mais recente atualização do boletim genômico do Estado, realizada no dia 6 de agosto, quase 11% das amostras sequenciadas na semana anterior já indicavam a presença da Delta. "A gente pode esperar muitos mais casos ocorrendo, porém, sem identificação, seja por essa dificuldade ou pelos sintomas gripais considerados comuns. E isso é mais um desafio, porque as pessoas estão circulando mais, as medidas de proteção individual e de distanciamento estão tendo relaxamento e flexibilização, observa-se maior contaminação por outros vírus respiratórios e as pessoas vacinadas acham que estão totalmente protegidas da Covid", comenta Gewehr.
Sprinz destaca ainda que as regras de evitar aglomerações e transitar muito em locais fechados seguem valendo como nunca, principalmente nesses meses de inverno, nos quais as pessoas tendem a ficar menos na rua. E ressalta que estão mais vulneráveis à infecção as pessoas que ainda não se vacinaram ou receberam apenas a primeira dose. "O que não quer dizer que quem se vacinou com as duas doses está imune à Covid, pois ainda não se sabe a intensidade exata da proteção das diferentes vacinas administradas", lembra.
Além disso, inclusive pessoas com esquema vacinal completo, mesmo que assintomáticas, podem se infectar e seguir transmitindo a Covid-19.
Até o momento, uma notícia mais positiva em relação à Delta, embasada por estudos preliminares, dá conta de que, apesar de altamente transmissível - até 1,2 mil vezes mais do que as outras variantes-, a cepa possui menor grau de letalidade em relação a outras variantes.
A ameaça de uma terceira onda da Covid-19 no Brasil com o avanço da cepa, a exemplo do que vem ocorrendo em outros países, infelizmente, não está descartada."Esse é mais um capítulo da pandemia, mas estamos mais otimistas porque já conhecemos mais o vírus, e estamos melhor preparados para enfrentar uma nova onda. Além disso, acreditamos que ela possa ter menos impacto, em função do avanço da vacinação", avalia Gewehr.
"Vamos torcer para que as coisas continuem no patamar atual, que não haja grande aumento da incidência da Delta, e que as vacinas, de fato, tenham efeito sobre ela", complementa Sprinz.
Sintomas da infecção com a variante Delta do coronavírus:
- Dor de garganta
- Tosse
- Febre
- Dor de cabeça
- Fadiga
- Coriza
- Obstrução nasal
- Mal-estar
- Dor no corpo
Cuidados para evitar a contaminação:
- Adotar medidas de prevenção
- Se vacinar contra a Covid-19
- Usar máscara corretamente
- Manter a ventilação de ambientes
- Não aglomerar