Reunido no início da tarde desta quarta-feira (17), o comitê científico de apoio ao enfrentamento da pandemia no Rio Grande do Sul manteve a recomendação pela
suspensão da cogestão enquanto perdurar a bandeira preta no Estado. O grupo, que
no final de fevereiro já havia consolidado essa decisão, posteriormente anunciada pelo Executivo gaúcho, segue defendendo que o isolamento social é a medida mais eficaz diante do
agravamento da crise sanitária. No entanto, ciente de seu papel meramente consultivo na tomada de decisões do governo, entende a posição da administração estadual pela volta da gestão compartilhada do distanciamento controlado, prevista para ocorrer a partir da segunda-feira (22).
"A gente sabe que a medida mais eficaz nesse momento é manter o isolamento social, e que não nao há como desconectar isso das ações. Mas as evidências apontam para a volta da cogestão", comenta um membro do comitê que prefere não se identificar.
Formado por pesquisadores de universidades e autoridades cientificas de diversas áreas do conhecimento, o grupo reconhece que a pressão de entidades e setores econômicos pesa no contexto de
retomada da cogestão, mas ressalta a posição de supensão do modelo. "O comitê entende seu papel consultivo e de oferecer melhores evidências ao governo, e também entende que a decisão será fundamentada em uma série de outras variáveis", comenta a médica e reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Lucia Pellanda, que integra o colegiado.
Em reunião com empresários na noite de terça-feira (16), o governador Eduardo Leite confirmou que a cogestão seria retomada na próxima semana, mediante novas regras de horários para serviços e comércio. Nesta tarde, por
meio de vídeo, ponderou ainda que a flexibilidade poderá ser adotada para "algumas atividades", e se confirmada redução de alguns indicadores da pandemia, como o contágio da Covid-19.
Lucia reitera que, independente da decisão, o agravamento da pandemia no Estado e o esgotamento do sistema de saúde alertam para a necessidade de união de todos, setores, população e gestores, no reforço das medidas de proteção e enfrentamento ao coronavírus. "Se não houver um esforço coletivo muito grande, vamos viver o pior momento da nossa história, já estamos vivendo, mas ainda pode piorar, com falta não apenas de leitos e respiradores, mas de insumos e remédios", desabafa.
Para a reitora, enquanto parte da população seguir se descuidando e aglomerando, dificilmente os indicadores serão reduzidos dentro do limite necessário. "É preciso um grande chamamento da sociedade. Se as pessoas não mudarem e não se cuidarem, todo o esforço que vem sendo feito será em vão. A situação é realmente gravíssima", complementa.
Antes do anúncio oficial da volta da cogestão, previsto para sexta-feira (19), Leite levará o tema para análise do Gabinete de Crise, nesta quinta-feira (18), e dos prefeitos, por meio de reunião com a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e associações regionais.