A superlotação nos hospitais gaúchos não para de crescer. Nesta sexta-feira (12), o percentual de ocupação dos leitos em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) no Rio Grande do Sul é de 106,4% - 3.286 pacientes para 3.088 leitos.
Os profissionais da saúde que atuam diretamente no combate ao novo coronavírus já haviam percebido que o perfil dos pacientes que adentravam pelas portas dos hospitais necessitando de internação tinha mudado. A média de idade dos hospitalizados caiu significativamente desde o início do ano. No Hospital de Clínicas de Porto Alegre, por exemplo, a média de idade dos internados, que era de cerca de 60 anos durante todo o ano de 2020, caiu para 48 anos em março.
No Moinhos de Vento, as internações de pessoas com menos de 60 anos representam atualmente 44% dos casos no hospital. No boletim do dia 8 de dezembro, essa proporção era de 25%. Uma análise detalhada dos dados disponibilizados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS), mostra que a mudança começou ainda no mês de dezembro do ano passado.
Até o término da Semana Epidemiológica 50, no dia 12 de dezembro do ano passado, o Rio Grande do Sul tinha registrado 10.259 hospitalizações em razão da Covid-19 desde o início da pandemia. Destes pacientes, 873 (8,51%), tinham menos de 40 anos de idade, sendo que 272 (30,15%) não apresentavam comorbidades (doenças ou problemas de saúde prévios).
No boletim epidemiológico seguinte, com dados até a Semana Epidemiológica 51, no dia 19 de dezembro, os números dispararam. As hospitalizações saltaram para 29.703, indicando o crescimento da curva da pandemia no Estado. O que chama a atenção nos números é o significativo crescimento no percentual de pacientes internados com idade inferior a 40 anos: passou para 12,33% do total (3.664 pessoas), sendo que 50,43% deles (1.848) não tinham comorbidades.
Ou seja, em uma semana, a fatia de pessoas com menos de 40 anos de idade que precisaram ser hospitalizadas por causa do novo coronavírus no Rio Grande do Sul passou de 8,51% para 12,33%. O aumento da força do vírus Sars-Cov-2 se percebe também pela significativa alta na quantidade de pessoas abaixo dos 40 anos sem nenhum tipo de problema de saúde prévio que necessitaram ser internadas, índice que passou de 30,15% para 50,43% em uma semana.
Os percentuais se mantiveram desde meados de dezembro de 2020 até o fim de fevereiro de 2021, data do último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS), quando o índice de pacientes com menos de 40 anos hospitalizados caiu um pouco, ficando em 11,77%, mas a fatia destes que não tinham comorbidades também aumentou registrando 50,69%.
No que diz respeito aos óbitos, a alteração do perfil das vítimas não se deu de modo significativo, apontam os dados oficiais. No boletim relativo à semana 50 de 2021 (12 de dezembro), as mortes de pessoas com menos de 40 anos representavam 3,30% do total. No documento da semana 8 de 2021 (27 de fevereiro), o índice foi de 3,12%.
O crescimento do número de pessoas mais jovens hospitalizadas pressiona os hospitais de duas maneiras. A primeira é pela quantidade por si só. Mais gente necessita de mais leitos. A segunda se dá pelo maior tempo que pacientes com idade menor permanecem internados. Por possuírem organismos com maior capacidade de lutar contra a Covid-19, esses pacientes, ainda que evoluam à óbito, acabam ficando mais tempo no hospital.
Conforme boletim divulgado Fiocruz na quinta-feira (11), o Brasil enfrenta o pior cenário desde o início da pandemia, sendo que o país nunca alcançou uma redução significativa de sua curva de transmissão. Os pesquisadores defendem como principal medida de controle e redução da transmissão, assim como para a diminuição do crescimento de óbitos diários, a adoção de medidas de supressão ou bloqueio, com incorporação de medidas mais rigorosas de restrição da circulação e das atividades não essenciais, além do uso de máscaras em larga escala social.