O Rio Grande do Sul vive uma escalada na gravidade da pandemia do novo coronavírus. Nesta quinta-feira (26), o Estado bateu pelo terceiro dia seguido o recorde de internações, com 770 pessoas hospitalizadas em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e outras 1.177, em leitos clínicos.
Diferentemente dos momentos de pico anteriores, porém, o Rio Grande do Sul vive um relaxamento dos cuidados, sendo cada vez maior a quantidade de pessoas que são vistas nas ruas sem máscara, por exemplo.
Em razão desse cenário, o Jornal do Comércio questionou o Comitê de Dados Rio Grande do Sul sobre medidas que podem ser tomadas para que os números não sigam crescendo. Abaixo, as respostas enviadas pela assessoria do órgão.
Jornal do Comércio - O Comitê avalia que é necessário retroceder nas liberações já realizadas?
Comitê de Dados - A equipe do Comitê de Dados do governo do RS no enfrentamento da pandemia tem por norma o monitoramento diário dos indicadores estabelecidos pelo Distanciamento Controlado e uma permanente análise e revisão dos protocolos estabelecidos pelo modelo. Mesmo antes de consolidar o momento atual da pandemia, com a ocupação de leitos de UTI atingindo o pico do pior momento vivido no mês de agosto, o Comitê de Dados, que inclui a área técnica da Secretaria de Saúde e juntamente com a Procuradoria-Geral do Estado (PGE), já estabeleceu discussões internas sobre a necessidade de eventuais medidas restritivas para conter o avanço da Covid-19.
Quando houver um estudo conclusivo sobre quais medidas a adotar, essas serão submetidas ao Gabinete de Crise. De antemão, o grupo técnico entende que o crescimento expressivo de novos casos nas últimas semanas – e a consequente sobrecarga nos serviços de saúde -, não deve ser associado às flexibilizações que permitiram o retorno gradual do ensino e tão pouco à adoção do mecanismo de cogestão do Distanciamento Controlado com os municípios. Como essa escalada se repete em outros estados, é mais provável que essa situação decorra de um relaxamento da população para com os cuidados mínimos (uso de máscara, higienização e evitar aglomerações) e por fatores pontuais como o período da campanha eleitoral, o retorno de eventos sociais e a proximidade de dois feriadões.
JC - Em razão do atual momento, não é necessário dar um sinal para a sociedade de que a pandemia continua muito forte, e que não se pode relaxar nos cuidados, o contrário do que vem sendo feito pelo governo, como a mudança no próprio protocolo das aulas em regiões com bandeira vermelha?
Comitê de Dados - A autorização para a continuidade do processo de retorno às aulas não pode ser considerada uma flexibilização, mas sim uma decisão que coloca o bem-estar das crianças e jovens em primeiro lugar, tendo em vista os impactos negativos (pedagógico, social, saúde mental, etc) do afastamento escolar por longo período. O retorno às aulas – que é facultativo -, representa um benefício à sociedade, não o contrário. Manter escolas funcionando é manter condições para a saúde física e mental das crianças e de jovens, seu desenvolvimento pleno, protegendo quem representa o futuro do estado.
É importante renovar o entendimento que esse crescimento dos casos de Covid deva ser associado ao retorno das aulas presenciais, considerando inclusive com baixa adesão e sem notícias de surtos, assim como a maior flexibilização do comércio (que igualmente ocorreu há várias semanas epidemiológicas e sem esses reflexos que se registram agora). Muitos municípios, inclusive, nem permitiram o retorno das atividades de ensino.
O modelo por si só, a partir da atualização semanal das bandeiras para cada uma das 21 regiões Covid – com o risco sendo identificado pela cor das bandeiras -, funciona como importante alerta sobre o estágio que a pandemia se apresenta. Todos os dados que servem para monitorar os 11 indicadores do Distanciamento Controlado são públicos e auditáveis.
O governo do Estado vem realizando um grande esforço, através de campanhas publicitárias e o envio semanal de SMS para as pessoas cadastradas no aplicativo de alertas da Defesa Civil, buscando reforçar a necessidade de todos seguirem com os protocolos obrigatórios.
Desde o início da pandemia, o RS sempre esteve entre os estados com a menor taxa de óbitos por Covid-19 para cada grupo de 100 mil habitantes. Somos o estado com o mais baixo índice em termos de excesso proporcional de óbitos do Brasil. Desde o início da pandemia, a diferença entre as mortes por causas naturais supera em apenas 2,8% as projeções realizadas para o mesmo período com base nos registros dos últimos anos, ao passo que a média nacional chega a 24,7%. Se considerar apenas a população com mais de 60 anos, o excesso proporcional de óbitos no RS está em 1,32%, situação que entre os idosos do País como um todo chega até o momento a 21,9%.