A esperança para o fim da pandemia de Covid-19 ganhou um novo reforço. Neste sábado (8), foram aplicados os primeiros testes da vacina chinesa contra o novo coronavírus em Porto Alegre. Cinco voluntários receberam, no Hospital São Lucas (HSL) da Pucrs, receberam doses da vacina desenvolvida pelo laboratório Sinovac Biotech, com parceria no Brasil com o Instituto Butantan. Outros cinco receberão as doses à tarde.
O primeiro a receber a inoculação foi o médico Luciano Marini, 49 anos, que trabalha na UTI do HSL. “Fico muito grato em participar de um estudo muito qualificado. Temos esperança de trazer ânimo para a população com uma vacina segura, e voltar a ter uma vida normal o mais breve possível”, afirmou.
”Temos uma expectativa muito grande com esses testes”, afirmou Fabiano Ramos, líder do estudo e chefe do serviço de Infectologia do HSL. “Participar desse momento histórico é muito importante para nós. Todo mundo está esperando uma vacina para que nossas vidas possam voltar ao mais normal o mais breve possível”, destacou.
Serão 852 voluntários no total no HSL. Cada um receberá duas doses – sendo a segunda aplicada 14 dias após a primeira -, totalizando 1.704 unidades. O hospital teve inscrição de 5,4 mil pessoas - 3,6 mil mulheres e 1,7 mil homens.
Além do HSL, outros 11 centros brasileiros irão testar a vacina chinesa. No total, 9 mil pessoas participarão dos estudos no Brasil. Metade receberá a vacina, ao passo que a outra metade placebo, isto é, uma substância sem efeito algum. Somente os farmacêuticos que recebem e acondicionam os imunizantes conseguem saber o que cada seringa contém. Porém, eles não acompanham o momento de aplicação, conduzido pelos pesquisadores junto aos voluntários, que desconhecem o conteúdo das doses em questão. A estratégia permite a análise e comparação dos resultados pelos dois grupos, validando ou não o efeito da substância.
A previsão de término da aplicação da vacina no Hospital São Lucas é em outubro. Os primeiros resultados já devem ser divulgados em dezembro, de acordo com o Instituto Butantan. A projeção é de início de produção de doses no fim do ano ou começo de 2021.
Profissionais de saúde são os primeiros a participar dos estudos
Os primeiros voluntários a serem escolhidos são profissionais da área da saúde que trabalham na linha de frente ao combate ao Covid-19. Marini, por exemplo, atua desde março na UTI do HSL destinada a pacientes com o vírus. No primeiro dia de testes, também participaram membros de equipes dos hospitais Vila Nova, Ernesto Dornelles, Conceição e Clínicas.
O estresse vivido por esses profissionais foi destacado por Marini. “É um trabalho desgastante. Nos últimos meses temos recebido muitos pacientes graves, com pulmões comprometidos, que precisam ventilação mecânica, o que é muito demandante para os profissionais. Vários evoluem para disfunção de órgãos”, relata o médico.
Além disso, Marini lembra que a atenção redobrada para os cuidados necessários a fim de evitar a contaminação dos profissionais e de suas famílias também acrescenta ao desgaste sofrido pelas equipes das UTIs. “Outro fator emocional estressante é fato de que as famílias não podem ficar no hospital e visitar os doentes. Temos que passar todas as informações por telefone, o que gera ansiedade e medo”, afirma.
Além de profissionais da saúde ou que atuam em serviços no atendimento aos pacientes de Covid-19, outro fator escolhido para a prioridade nos testes é ter moradia em Porto Alegre ou próximo da Capital. Segundo o chefe do serviço de Infectologia do HSL, esse fator foi determinado pela necessidade de retorno constante ao hospital. Além da segunda dose, os participantes precisarão fazer exames, relatos de reações e testes de acompanhamento pelo período de um ano.