A
pesquisa da Universidade Feevale que mostra a presença do coronavírus no esgoto de Porto Alegre e da Região Metropolitana gerou grande repercussão e dúvidas entre os leitores do
Jornal do Comércio. Afinal, esses rastros do vírus da Covid-19 geram riscos à população? A equipe da Feevale, responsável pelo estudo, esclarece. Nesta terça-feira (30),
LIVE do
#JCExplica, às 19h, no
Instagram do JC, com a coordenadora da pesquisa, Caroline Rigotto, vai ajudar a tirar dúvidas sobre a pauta.
Os questionamentos mais recorrentes dos leitores foram enviados para Caroline Rigotto, professora do mestrado em Virologia da Feevale, que esclarece e explica ainda mais sobre os riscos e impactos da detecção do novo coronavírus no esgoto.
Dúvidas sobre riscos do vírus da Covid-19 no esgoto e na água:
O vírus encontrado nas amostras de esgoto é ativo? Ele sobrevive?
Sabemos que o novo coronavírus está presente e ativo, viável nas fezes, mas a rota de transmissão do vírus presente no esgoto ainda não sabemos. Nas superfícies como ferro, madeira, etc, já se sabe que ele pode ficar ativo por até três dias. Essa rota de transmissão fecal-oral ainda não está bem esclarecida para o novo coronavírus, sabemos que é uma rota para outras viroses, como diarreias. No esgoto, vários fatores podem contribuir para inativar o vírus. A gente espera que ele não sobreviva no ambiente por muito tempo, mas esse tempo de sobrevivência ainda não se sabe, nem o risco de transmissão, pois é muito recente. Então, deve-se trabalhar com a hipótese de que sim, e as pessoas precisam se cuidar ao entrarem em contato com o esgoto.
Qual é o risco de transmissão do vírus do esgoto para uma pessoa?
O risco de transmissão em relação ao esgoto ainda não se sabe. Sabemos que o vírus está presente ali, pois detectamos o material genético do SARS-CoV-2 (nome científico). Não sabemos ainda se é capaz de causar a doença nesses ambientes. No caso da pesquisa, amostras foram enviadas para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para fazer testes mais amplos. Espera-se que dê negativo e que nesse ambiente o vírus não traga riscos.
Há algum estudo sobre amostra positiva em água potável? Há perigo em tomar a água que sai das torneiras?
Não encontramos o vírus ativos em amostras de água que chega às casas das pessoas. A pesquisa analisou, além das estações de esgoto, uma de tratamento de água, que recebe cloro e é injetada na rede e chega às torneiras. Nessa água não encontramos positividade e já esperávamos não encontrar. Nenhum estudo do mundo mostrou a presença do vírus em água de consumo humano, pois o cloro é extremamente eficiente para eliminar o vírus. Então, a água que chega nas nossas casas é segura e de qualidade. Mas outras fontes de água, como de bica e subterrânea, não temos informação, é preciso investigar.
Quais cuidados devemos ter ao manusear o esgoto e como devemos proceder em locais que não têm tratamento?
Existem vários tipos de vírus presentes nestes ambientes com esgoto a céu aberto. Por isso, é preciso ter cuidado ao estar em regiões sem tratamento e que são uma realidade de muitas comunidades em vulnerabilidade. Os córregos que cortam as cidades recebem grande despejo de esgoto. Qualquer pessoa em contato com essa água corre risco de contrair inúmeras doenças, inclusive as causadas por vários vírus.
Se já aparece amostra de coronavírus no esgoto da cidade é por que há muito mais gente contaminada do que divulgam?
Os números que se divulgam são de pessoas que são testadas - porque tiveram agravamento da doença ou porque são profissionais da saúde testados na rede pública ou privada. Isso entra nos dados da Secretaria Estadual da Saúde e do Ministério da Saúde. Então, há pessoas que têm síndromes gripais e não procuram atendimento e podem estar positivas, outras que nem mesmo apresentam sintomas e podem estar positivas. Se o vírus está presente no esgoto, queremos calcular a estimativa de quantas pessoas estão contaminadas, de acordo com a carga viral encontrada no esgoto. O projeto quer levantar a probabilidade e anteceder surtos, avaliando a circulação do vírus no ambiente e podendo estimar quantas pessoas estariam infectadas naquela localidade.