Grupo com maior risco de letalidade devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19), os idosos demandam políticas públicas e ações especiais para prevenir sua infecção pela doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a letalidade entre pessoas de 40 a 49 anos é de 0,4%. De 50 a 59, o risco sobe para 1,3%. Para idosos de 60 a 69 anos, as chances de letalidade aumentam para 3,6%. Entre 70 a 79 anos, é de 8%. Já entre idosos acima de 80 anos, o risco cresce para 14,8%.
A fim de informar e dar insumos à sociedade para poder entender os desafios de proteger essa parcela da população, a Fundação Getulio Vargas (FGV), através de seu centro de política social (FGV Social) lançou a pesquisa “Onde estão os idosos?”, que dimensiona a população acima de 65 anos no Brasil e analisa os impactos sociais do covid-19 sobre esse grupo.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, compilados pelo FGV Social, em 2018 o Brasil possuía 10,53% de sua população com 65 anos ou mais de idade, um aumento de aproximadamente 20% em relação à taxa registrada em 2012.
O estado com com maior taxa de idosos é o Rio de Janeiro (13,06%), seguido pelo Rio Grande do Sul (12,95%), São Paulo (11,27%) e Minas Gerais (11,19%). A capital fluminense é a que possui maior percentual de moradores acima de 65 anos (14,5%), e também possui a periferia metropolitana com a maior taxa (11,9%). Em seguida, vem Porto Alegre (14,05%) e sua região metropolitana (10,67%).
Apesar da liderança do Rio de Janeiro no ranking de estados, em nível municipal o Rio Grande do Sul se destaca. Dos 20 municípios brasileiros com maior taxa de idosos na população, os 19 primeiros colocados são do Rio Grande do Sul. Coqueiro Baixo, no Vale do Taquari, é o que possui a população mais idosa, com 30,77% dos seus pouco mais de 1.500 habitantes possuindo mais de 65 anos. Em seguida, vêm Coronel Pilar (26,93%) e Mato Queimado (25,35%). "Isso mostra que o Rio Grande do Sul precisa ter um cuidado especial com sua população, especialmente em pequenos municípios, que contam com uma parcela ainda maior de seus habitantes dentro de um grupo de risco", afirma o economista e diretor do FGV Social, Marcelo Neri, coordenador da pesquisa.
O estudo aponta que as pessoas com mais de 65 anos representam 19,3% das pessoas de referência dos lares, ou chefes de família, responsáveis pelo sustento de todos que vivem em seus domicílios. Como seria de se esperar, quase a totalidade dos avós são idosos (91,5%) mas também boa parte dos sogros ou sogras (69%) e dos pais e mães (61,2%) também estão neste grupo de risco. Segundo a pesquisa, isso sugere uma dificuldade na política de isolamento domiciliar. Por outro lado, domicílios com idosos são 25,6% menores em números de pessoas do que a média brasileira.
Além disso, pessoas de 65 anos ou mais representam 16,42% da parcela dos 10% mais ricos da população, e são apenas 4,26% entre os 40% mais pobres. Assim, os idosos são mais presentes nas classes mais abastadas, representado 15,54% da AB e 13,07% da C.
Segundo a pesquisa do FGV Social, esse grupo também é menos exposto à pobreza: apenas 2,37% do total de idosos, contra 11,5% da média nacional ou 20,29% das crianças de 0 a 4 anos. De acordo com Neri, esses números são explicados pela abrangente rede de proteção social oferecida aos idosos. Eles recebem 59,64% das aposentadorias da previdência social e 40,78% dos Benefícios de Prestação Continuada (BPC), programas que pagam pelo menos um salário mínimo. Porém, praticamente não recebem renda do Bolsa Família (0,89%).
Em relação à ocupação, 28,7% dos inativos possuem acima de 65 anos. Entre os ocupados, os maiores percentuais de idosos estão nos empregadores (8,51%) e contas próprias (7,43%).
Entretanto, o coordenador da pesquisa alerta para um dado importante na definição de campanhas de comunicação para o público idoso: a baixa educação de grande parte desse grupo. Cerca de 30% dos analfabetos no País são idosos. Entre as pessoas com apenas de 1 a 3 anos de estudos, a taxa de idosos chega a 16,6%. "É preciso pensar em campanhas de conscientização com uma linguagem mais simples e compreensível para esse público. Além disso, são importantes as ações de comunicação analagócas: dos brasileiros sem acesso à internet, 22,47% são idosos", destaca Neri.
A próxima etapa da pesquisa do FGV Social deverá detalhar o perfil de quem mora com idosos.