Com o incentivo a uma política de isolamento social agressivo, o Canadá tenta frear a pandemia do coronavírus, que aumentou em 50% no último final de semana, registrando cerca de 2 mil casos e mais de 20 mortos no total. Gaúchos que residem em cidades diferentes daquele país já enfrentam restrições, fechamento de escolas e não se surpreendem com a falta de gêneros alimentícios, como carne, nos principais supermercados.
Morando em Gatineau, na província do Quebec, há seis anos com o maridos e os três filhos, a educadora física Maria Helena Jacob relata que as últimas semanas têm sido de aumento das restrições e isolamento total em casa. Com as férias escolares estendidas por conta da pandemia, shoppings e restaurantes fechados e o trabalho sendo feito remoto, o desafio tem sido entreter as crianças, entre seis e 11 anos. Aos finais de semana, segundo ela, o governo realiza pronunciamentos para explicar a situação do país e os desdobramentos da covid-19. No domingo (22), foi confirmado o fechamento das escolas até pelo menos 1º de maio, informado que reuniões de grupos com mais de cinco pessoas que não forem da mesma família estão sujeitas a intervenção policial e que há possibilidade de fechamento de fronteiras municipais. "O governo está apostando no isolamento social agressivo para barrar a pandemia. Pede constantemente que as pessoas fiquem em casa e evitem ao máximo o contato e incentiva as compras on-line", relata.
A gaúcha ainda não notou a falta de produtos nos supermercados,mas percebeu aumento de preços em alguns itens que costuma comprar, como feijão.No país, assim como no Brasil e demais nações, os reflexos econômicos têm sido sentidos com o fechamento de indústrias e demissões em massa devido ao coronavírus. Na sexta-feira (20), o governo canadense divulgou que cerca de 500 mil pessoas haviam solicitado seguro-desemprego por conta da pandemia, números só vistos por lá durante a Grande Depressão de 1932.
Carne já começa a faltar nos supermercados de Toronto
Técnico da área de Tecnologia da Informação na Herzing College Montreal, na cidade de Montreal, no estado de Quebec, Bruno Almeida Filho conta que a universidade, que funcionava todos os dias da semana, está totalmente fechada e sem aulas há duas semanas e há possibilidade de prorrogação até setembro dessa determinação. "Aqui já está um caos, o governo anunciou duas semanas com ninguém trabalhando e as aulas foram canceladas, porém, no meu setor atuamos com escala reduzida. As ruas estão tomadas de gente com máscara, metrô praticamente vazio. Uso luvas para mexer nos teclados e não encontrei luvas e álcool gel nas farmácias para uso pessoal. As compras tenho feito apenas on-line, mas vejo supermercados cheios e muitas pessoas carregando sacos de papel higiênico nas ruas", conta o gaúcho de Porto Alegre, que registrou filas nas farmácias nesta segunda-feira (23).
Segundo ele, a cada dia menos pessoas circulam nas ruas, atendendo às orientações do governos, que tem sido sido bastante atuante na prevenção e informação à população. "Os casos estão crescendo exponencialmente e estamos assutados. O governo anunciou até uma ajuda de custo aos infectados", revela.
Cartaz na universidade onde Bruno Almeida trabalha, em Montreal, orienta prevenção ao coronavírus
Estudante em Toronto, Daniela Vargas conta que há cerca de um mês começou a receber orientações a respeito da covid-19, mas desde 13 de março os comunicados para isolamento e fechamento de escolas e comércio se intensificaram. As fronteiras foram fechadas no final da semana passada, inclusive aos americanos, abrindo a circulação apenas para trânsito de mercadorias. A população foi orientada a comprar comida suficiente para duas semanas e o prazo para declaração do Imposto de Renda, que encerraria dia 30 de abril, foi estendido. "A preocupação do governo é que as pessoas tenham dinheiro pra se manter nesse período", comenta.
Ela conta que precisou ir a três mercados para finalizar as compras e já não achou carne nas prateleiras. "Os funcionários não conseguem ter tempo pra repor e o cenário assustava, as prateleiras vazias. Com tudo fechado na rua e as pessoas trabalhando home office a gente fica angustiada, porque parece que isso vai levar mais tempo do que o previsto, mas estamos acompanhando os cuidados e pronunciamentos do governo", ressalta.