A importância do cooperativismo para o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul foi o tema do painel Conexões de Negócios, promovido pelo Jornal do Comércio no dia 18 de junho. Estiveram debatendo o presidente da Ocergs/Sescoop-RS, Vergilio Perius; o presidente da Certel Energia e vice-presidente da Ocergs, Erineo José Hennemann; o vice-presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste, Márcio Port; e o presidente da Fecoagro-RS, Paulo Pires.
O evento, que integrou a programação comemorativa aos 86 anos do JC, fundado em 25 de maio de 1933, foi mediado pelo editor-chefe do JC, Guilherme Kolling, e pelo editor de economia, Luiz Guimarães. Ao longo de uma hora, os painelistas destacaram demandas e investimentos do movimento cooperativista e elencaram a intercooperação como base para crescimento econômico-social do setor no Estado.
Perius abordou um pouco da história do cooperativismo gaúcho e fez referência à primeira cooperativa brasileira fundada em 1902 em Nova Petrópolis, a Caixa de Economias e Empréstimos Amstad, hoje a mais antiga da América Latina. Conforme o presidente da Ocergs/Sescoop-RS, o conceito de cooperativismo envolve uma sociedade de pessoas, que se organizam em torno dos mesmos interesses e propostas, e atuam de forma democrática, com distribuição de renda de forma igualitária.
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"Hoje no Rio Grande do Sul contamos com 2,9 milhões de sócios, em 437 cooperativas, e mais de 63 mil empregos gerados. Esse conjunto de números já demonstra a força do cooperativismo para o desenvolvimento econômico do nosso Estado", destacou. Segundo ele, apesar do período de recessão e crise, o cooperativismo tem crescido em média 11% por ano, acompanhando o crescimento de 45% nos últimos quatro anos.
"Aumentamos o número de empregos, de 59 para 63 mil empregos esse ano, especialmente nas áreas de eletrificação rural e nos novos hospitais", disse ele, lembrando também da importância de políticas públicas para o crescimento do Estado.
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No ramo de infraestrutura, Hennemann destacou a geração e distribuição de energia e a comunicação com o meio rural oferecida às comunidades, por meio do trabalho realizado pelas 24 cooperativas em 370 municípios, dos quais 72 com suas sedes.
"Tivemos um crescimento de consumo de quase 5% e, para isso, um aporte de 130 megawatts e melhorias na distribuição de energia elétrica. Atendemos atualmente mais de 500 mil pessoas e aplicamos R$ 250 milhões em projetos de infraestrutura e de novas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no Estado", disse ele, lembrando que cinco cooperativas gaúchas estão entre as melhores do País na distribuição em energia.
Márcio Port ressaltou o protagonismo no Rio Grande do Sul no cooperativo de crédito. "Cerca de 20% das pessoas que são sócias das instituições financeiras cooperativas no Brasil residem no Estado. O Sicredi está presente em 92% dos municípios gaúchos, sendo a única instituição financeira em 99 deles", ressaltou. Vale lembrar, segundo ele, que as cooperativas além de oferecerem produtos e serviços, também consideram o interesse local e regional das comunidades, com atuação em projetos econômicos e sociais.
"São projetos na área de educação financeira, cooperativas escolares, Programa A União Faz a Vida, fundo social, que destina sobras das cooperativas para entidades sem fins lucrativos (este ano foram do R$ 14 milhões), de apoio e estímulo à sucessão familiar rural, empreendedorismo e capacitações para as micro, pequenas e médias empresas", disse ele, lembrando que um dos diferenciais das cooperativas é que são instituições financeiras mais locais e regionais, isso quer dizer que a riqueza gerada permanece na região, no Estado. "E o que há de melhor em benefício das comunidades? Justamente termos a gestão democrática, participar da distribuição de sobras, oferecer preços mais justos e ainda estimular a economia local", afirmou.
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Paulo Pires destacou o bom momento do cooperativismo agropecuário gaúcho, com crescimento de 25% em faturamento e 16% em resultados em 2018. "Apesar de estarmos em um momento de transição econômica, temos boas expectativas boas para 2019 e confiança no cenário. Mesmo o cooperativo contar com mercado tão volátil, regrado pelo mercado internacional, nós temos nossas singularidades. E nesse contexto, temos trabalhado ações sistêmicas", disse ele, lembrando que uma das características locais do ramo agropecuário é que o setor produtivo, o complexo industrial, está em solo gaúcho, diferente do que ocorre em outros estados.
"Esse é momento, então, de empreendermos e aplicarmos essas ações sistêmicas. Temos um grande exemplo que é a Cooperativa Central Gaúcha de Laticínios (CCGL), pois é uma central que industrializa os produtos fabricados pelos associados de outras cooperativas. Independente da singularidade de cada cooperativa é possível fazer um trabalho integrado", assegurou.
Dirigentes defenderam políticas públicas de fomento ao cooperativismo
Questionados quanto às expectativas, demandas e pleitos dos seus respectivos ramos, os dirigentes defenderam políticas públicas de fomento ao cooperativismo. Conforme o presidente da Fecoagro-RS, Paulo Pires, o desafio do cooperativismo é justamente atender demandas que impactam a todos, e elas surgem muitas vezes de uma necessidade econômica.
"Posso citar aqui, por exemplo, o setor de armazenagem, onde atualmente as cooperativas contam com um terminal no Porto. E para as demandas em comum, acredito que a manutenção do ato cooperativo e do tratamento diferenciado. No cooperativismo agropecuário, por exemplo, não podemos ser considerados uma empresa de comércio de insumos, ou grãos. Nós somos uma associação de pessoas, somos cooperativa, com influência muito forte no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e, dessa forma, acredito que estejamos cumprindo a lei que trata a organização as cooperativas como entendes diferenciados".
Nesse sentido, o vice-presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste, Márcio Port, defende a legislação brasileira que trata da criação das cooperativas. "Acredito que o Brasil tem uma das melhores legislações para as cooperativas onde qualquer pessoa física ou jurídica pode constituir uma cooperativa", destaca. No que se refere ao cooperativismo financeiro ele revela que ainda enfrentam algumas dificuldades em relação aos bancos tradicionais.
"Existem ainda algumas travas em benefício de alguns bancos, até mesmo na questão de créditos consignados para determinados públicos. Como avanço, nesse sentido, trabalhamos para que o cooperativismo possa, de fato, ser uma opção das pessoas sem que haja uma lei que impeça um público específico de operar com as cooperativas", disse.
Na área de energia, o presidente da Certel Energia, Erineo José Hennemann, destaca que o cooperativismo teve um avanço muito grande com o Programa Luz para Todos, levando luz monofásica a todos os associados e, com isso, foi possível desenvolver a chamada transformação de rede: de monofásica para bifásica. "Precisamos de mais agilidade dos governos nos trâmites com relação à legislação de outras fontes de energia (como a solar), nos encaminhamentos e aprovação de projetos ambientais, para que possamos aplicar os investimentos", disse.
Ele reforçou também o projeto gaúcho de ações sistêmicas entre cooperativas. "Mais uma vez essa ação intercooperativa acontece com o apoio do Sicredi financiando para que as cooperativas de infraestrutura possam investir. Um dos caminhos é a intercooperação. Intercooperação é relacionamento, mas é também negócio."
No contexto mais global, opresidente do Sistema Ocergs-Sescoop-RS, Vergilio Perius, destacou a importância de políticas públicas voltadas à criação de novas agroindústrias - hoje são 62 cooperativas gaúchas, além de apoio na implementação de assistência técnica nas cooperativas. Ele citou investimentos das cooperativas em eletrificação rural e a busca por financiamentos para ampliar a rede de comunicação por fibra ótica no Interior. Além disso, destacou o investimento das cooperativas em educação financeira e de gestão.
"Temos cerca de 2,9 milhões de sócios gaúchos e sabemos da importância dessa cultura, visto que o próprio associado é administrador do seu recurso." Ele entende e participa desse processo cooperativo, democrático e igualitário, e desta forma, também investe na gestão da cooperativa. No ramo financeiro, proporcionamos a distribuição de R$ 1,8 bilhão no sistema de crédito no Estado", disse.
Participantes defendem investimentos, qualificação e mais prazos para novos investimentos
Neste ano, no ramo de energia foram investidos recursos nas melhorias em subestações. "Contamos com tecnologia avançada nas centrais de operações e toda infraestrutura em concreto. Em todo sistema operacional foi investido R$ 1,3 bilhão nas 32 PCHs", disse o presidente da Certel Energia, Erineo José Hennemann. Ele reforçou que o momento requer intercooperacão dos ramos, qualificação de pessoas e mais prazos, por meio das linhas de créditos oficiais, para novos investimentos no setor.
O vice-presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste, Márcio Port, lembrou que nesse momento em que os bancos têm fechado suas agências no Estado, em contrapartida as cooperativas estão abrindo novos postos de atendimento. "Como disse anteriormente, o Sicredi está em 92% dos municípios gaúchos e neste ano estamos trabalhando no planejamento para a cobertura dos 8% restantes no próximos anos. O Sicredi pretende inaugurar 200 novas agências no País esse ano", falou.
Ele ressaltou, ainda, que o Sicredi também está fazendo investimentos na plataforma tecnológica, com avanço na digitalização das operações. "Esses projetos contam com aporte de R$ 700 milhões e previsão de conclusão em 2023. É um processo que já está em andamento e a plataforma digital já está sendo entregue em partes".
No que se refere ao sistema agropecuário, o presidente da Fecoagro-RS, Paulo Pires, afirma que o setor tem tido uma produção crescente e também em expansão de área. "As cooperativas têm se preocupado com a questão de armazenagem, área em que se investiu muito no passado, mas que ainda depende do crédito oficial. Em uma atividade na qual fechamos, no ano passado, com crescimento de 25% do faturamento, mas margem líquida na média de 2,5%, não temos como suportar uma condição de juro livre. Não se constrói armazém para armazenar grãos com juros livres", relata.
Segundo ele, o processo industrial é a grande oportunidade do cooperativismo. "Temos cooperativas com processo bem avançado e resultados bons, e temos as centrais. No entanto, também há uma equação que não gostaríamos de ouvir quando propomos o projeto industrial intercooperativo: quando a cooperativa está comprando e vendendo matéria-prima, está tendo melhor resultado que a indústria. Essa crise de resultados da indústria brasileira tem que se resolver. Temos que pensar em investir sempre, mas precisamos desburocratizar o processo, tornar o crédito real, conforme a atividade, o sistema cooperativo desde que se defina as regras, está caminhando para isso", disse ele, defendendo a aprovação da Reforma da Previdência para que novos investimentos possam ser feitos no País.
Quanto às expectativas dos painelistas com relação à retomada do crescimento no Estado, cada um elencou suas prioridades. No agronegócio, por exemplo, de uma forma geral as cooperativas não estão imunes à crise, conforme o presidente da Fecoagro. "Para isso, o instrumento do Sescoop e a capacitação de técnicos e dirigentes é fundamental", destaca.
Conforme o vice-presidente do Sicredi, atualmente 23% do Produto Interno Bruto (PIB) é oriundo do agronegócio, considerada uma força muito grande. "Qualquer ação que o governo promova impacta diretamente no PIB nacional. E, felizmente, temos tido estímulo para que as pequenas e médias propriedades se mantenham nas suas atividades. Hoje, 50% da carta de crédito do Sicredi é oriunda do agronegócio", informa.