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Pandemia molda novas relações comerciais
Presidente da Federasul vê com preocupação a paralisação das atividades econômicas
A Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) vê com extrema preocupação o atual momento da economia, agravado pela pandemia de Covid-19, principalmente, no Rio Grande do Sul. A instituição informa que, só no seu quadro associativo, que reúne 158 afiliadas e mais de 98 mil empresas, mais de 9 mil estabelecimentos comerciais e indústrias de diversos tipos já fecharam as suas portas em definitivo e mais de 100 mil gaúchos perderam o emprego.
Em meio a este cenário, a Federasul está constatando o surgimento de um empresário mais adaptado aos novos tempos e às novas relações de consumo da sociedade.
De acordo com a presidente da Federasul, Simone Leite, o quadro que se apresenta para os empresários é de incertezas. A dirigente diz que o setor empresarial assimilou e vem cumprindo rigorosamente os protocolos sanitários. Em função disto, a instituição, logo no início do aparecimento dos primeiros casos de doentes pelo coronavírus no Estado, passou a oferecer curso de prevenção contra a Covid-19, que já foi ministrado a mais de 30 mil colaboradores, justamente para poder atender de forma segura nos seus estabelecimentos de atuação.
Simone Leite reitera as ações do setor empresarial e vê com preocupação a paralisação da atividade econômica do modo como vem sendo feita no Rio Grande do Sul. Ela salienta que a medida causa um prejuízo real para a economia. "Temos bares e restaurantes que não podem atender os clientes. Nós sabemos que não há nenhuma comprovação científica de que é nos estabelecimentos comerciais, que se tem o contágio da Covid-19. Pelo contrário, a gente tem protocolo e seguimos de forma rigorosa nas nossas empresas", argumenta.
Simone Leite destaca que a Federasul vem realizando todas as semanas videoconferências com as lideranças políticas e os presidentes das Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACIS) para discutir as medidas que estão sendo adotadas em cada uma das regiões do Rio Grande do Sul. Ela também destaca a realização de encontros virtuais com os prefeitos gaúchos para mostrar, especialmente, o prejuízo de manter a atividade produtiva parada.
Para passar pelo atual período, Simone Leite, diz que os empresários devem fazer o seu tema de casa: reduzir custos, renegociar contratos de aluguel, renegociar com os prestadores de serviço e também chamar os seus colaboradores e mostrar a eles a realidade e as dificuldades impostas pela pandemia.
Para Simone Leite, "da crise sairá um empresário forjado a tempos difíceis"
Jornal do Comércio - Que iniciativas foram implementadas pela Federasul para minimizar os prejuízos da pandemia?
Simone Leite - Estamos fazendo encontros semanais, discutindo com as lideranças políticas (prefeitos, secretários municipais) e os nossos presidentes de entidades as medidas que estão sendo adotadas em cada uma das nossas regiões. De efetivo, nós lançamos já lá no mês de abril, um curso on-line de prevenção à Covid-19. Então é um curso, uma plataforma educacional que todos os gaúchos, enfim, os funcionários das nossas empresas devem fazer para estarem aptos a receber o público, atender diante destes protocolos sanitários colocados pelo governo. Então, de forma prática, muitas empresas aderiram, formando mais de 30 mil colaboradores.
JC - Junto às empresas, como tem atuado a entidade?
Simone - Pela aproximação com os presidentes das Associações Comercial, Industrial e de Serviços (ACIS) através de videoconferência, de reuniões virtuais, ouvindo as suas demandas e agindo. Então, o que a gente fez? Estamos promovendo também encontros virtuais com os prefeitos, mostrando para eles, especialmente, o prejuízo de manter a atividade produtiva parada. Também estamos fazendo videoconferências, trazendo especialistas para poder orientar os nossos empresários de como agir, especialmente, na gestão de seus negócios em um momento que as atividades estão com menos movimento.
JC - E quanto às questões legais, trabalhistas?
Simone - Estamos orientando muito em relação às políticas do governo federal de redução do número de horas dos funcionários. E com relação à busca de crédito, entidades financeiras, os bancos, enfim. Então, há uma orientação permanente com especialistas. E a gente via a dificuldade que os empreendedores tinham de compreender todos os novos decretos. Foi algo muito, muito importante, porque os nossos empresários, de forma geral, não dominam as questões judiciais.
JC - A Federasul está mais próxima do empresário, então?
Simone - Antes, nós fazíamos uma reunião a cada mês com os nossos líderes - mas, diante de todas estas dificuldades e mudanças que vieram a acontecer, estamos nos reunindo todas as semanas. As pessoas estão buscando mesmo estes grupos até para se apoiar e muitas vezes para desabafar e, especialmente, para conduzir os seus negócios, porque a principal dificuldade que nós temos hoje é a questão da previsibilidade - não se sabe se demite, se adere ao programa do governo, e aí também tem o ônus de não poder tomar decisões. A gente não sabe se amplia o estoque, porque talvez a gente esteja em bandeira vermelha e não vai poder abrir a loja, o restaurante. Então, a imprevisibilidade é o fator que mais complica na hora de tomar a decisão.
JC - Quais são as medidas mais importantes a serem adotadas pelos empresários?
Simone - É um tema de casa: reduzir custos, renegociar contratos de aluguel com os prestadores de serviço e chamar os seus colaboradores, colocando para eles toda a realidade do momento e as dificuldades impostas por tudo isto. Então, a gente percebe que lá no início houve muitas demissões e ali pelo mês de maio e meados de junho nós não tivemos tantas - agora, em função deste novo momento de mais bandeiras vermelhas e desta parada que está acontecendo em algumas cidades, com tendência de se ampliar para todo o Estado, houve novamente demissões.
JC - E como está o acesso ao crédito
Simone - Um outro ponto é a falta de dinheiro. Hoje, a maior dificuldade que se tem é acessar as instituições financeiras para conseguir capital de giro, porque a taxa de juros no mercado aumenta, apesar da taxa Selic baixar. Também a exigência de garantias é muito grande - a maior queixa dos nossos empresários é que, de fato, eles não estão conseguindo acessar estes recursos financeiros.
JC - Como será o empresário pós-pandemia?
Simone - Nós estamos nos reinventando, não acredito que surgirá um novo empresário, mas um empresário mais forjado para momentos difíceis. Tempos difíceis exigem o melhor de nós. Nós não podemos ficar no meio do caminho. A gente tem que fazer este enfrentamento para passar este período de pandemia. Infelizmente muitas empresas já ficaram pelo caminho - mais de 9 mil empresas que já fecharam os seus negócios e aí vem outra questão: o governo não vai conseguir arrecadar impostos de empresas que fecharam, aí nós vamos ter um problema ainda maior, com o agravamento da crise fiscal no Estado do Rio Grande do Sul.