A assinatura da Aliança para Inovação, em abril do ano passado, e a posterior composição do Pacto Alegre, constituído em novembro, podem ter sido o ponto alto de uma série de outros movimentos criados há, pelo menos, 20 anos em Porto Alegre. É o que entende Jorge Audy, superintendente de Inovação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs). Segundo ele, o desenvolvimento dessa iniciativa passa por várias tentativas de emplacar o tema na cidade.
Na visão do superintendente, ações como o Porto Alegre Tecnopole, da década de 1990, e o Inovapoa foram importantes para criar um "caldo cultural" na Capital e impulsionar o tema inovação. "O grande problema é que os projetos passados estiveram muito ligados a governos, e, quando seus líderes terminavam os mandatos, eram descontinuados", contextualiza. Por isso, Audy entende que o Pacto Alegre tem uma importante diferença para torná-lo representativo: a união das universidades, tornando a iniciativa menos propensa a sofrer com esse problema.
Este novo momento que Porto Alegre está experimentando deve vir com uma mudança de visão sobre a cidade, no entendimento de Audy. Sob o prisma da união de esforços para a resolução de problemas, o superintendente da Pucrs quer ver a transformação de uma visão individualista de importantes agentes de todos os setores da sociedade em prol de todos. "Precisamos criar valores modernos para a nossa Capital, acabar com a 'grenalização', ou seja, de que só um lado está certo. Nós, juntos, vamos construir o melhor para todos", afirma.
Além disso, outro pedido de Audy é para que a população dê tempo ao Pacto Alegre para se constituir e começar a dar resultados. "Queremos tudo para ontem. E, se não acontece, sentenciamos que deu errado", reclama. Para o superintendente, um resultado concreto pode levar até 40 anos para se desenvolver da maneira ideal - por isso, a contribuição de projetos anteriores de inovação ao pacto - e esse prazo só será diminuído com o auxílio de toda a população, engajada no projeto de inovação.
Iniciativas a curto prazo devem receber maior atenção no início
Após a constituição da Mesa Diretora do Pacto Alegre, composta pelas lideranças de cada segmento presente na iniciativa, a tendência é de que alguns projetos com prazo de execução curto devam ser colocados como prioridade. Essa é a projeção de Alsones Balestrin, pró-reitor acadêmico e de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). A busca por resultados rápidos para trazer credibilidade ao Pacto Alegre é um dos objetivos iniciais.
Para o pró-reitor, além da rapidez em dar respostas, é preciso que setores fundamentais também sejam priorizados, como saúde, educação e segurança, a fim de gerar um impacto na vida dos cidadãos porto-alegrenses. "O pacto tem um papel político e institucional muito forte. Através da Mesa Diretora, vamos buscar consenso para projetos relevantes, com importância maior na vida das pessoas", afirma. Ele relata que um dos pontos fundamentais da constituição do grupo é o fato de cada ente ser representado por sua autoridade máxima, ou seja, no caso da prefeitura, o prefeito; das universidades, o reitor; e das empresas, seus diretores ou presidentes.
Além de todas as iniciativas que surgirão ao longo dos anos em benefício da cidade e da população, Balestrin quer ver uma mudança cultural em relação aos talentos gerados pelas instituições de ensino. A evasão desses profissionais para outros estados e para o exterior é motivo de preocupação para o pró-reitor. "Ouvi de muitos alunos que não pretendiam ficar aqui, que iriam buscar oportunidade em outro lugar. É muito triste ouvir isso. O pacto também servirá para manter esses talentos, e, ao invés de exportarmos, queremos trazer mais pessoas para cá", afirma.
Cursos ministrados pelas três universidades estão em pauta
Pós-graduação, voltada ao empreendedorismo, seria o primeiro teste
UFRGS/DIVULGAÇÃO/JC
A união entre Pucrs, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, (Ufrgs) e Unisinos para a criação da Aliança para Inovação - iniciativa que desencadeou o Pacto Alegre - pretende trazer benefícios também aos estudantes. Além de ceder profissionais, estrutura e conhecimento à cidade para o desenvolvimento das ações, a abertura das universidades aos estudantes pode alcançar também o nível acadêmico, com a instituição de cursos onde o aluno tenha aula nos três campi.
O diretor do Parque Zenit - espaço destinado à inovação da Ufrgs -, Marcelo Lubaszewski, revelou que essa iniciativa está em pauta, dentro do contexto de possibilitar a qualquer integrante do setor acadêmico transitar pelos espaços das três instituições. Uma pós-graduação voltada ao empreendedorismo seria o primeiro teste. "Queremos acabar com as fronteiras entre as faculdades. Precisamos 'transbordar' para a cidade, fazer acontecer, e isso só conseguimos unidos", afirma o diretor.
O Zenit é o mais novo entre os parques tecnológicos pertencentes ao trio. Fundado em 2012, tornou concreto um projeto que, segundo Lubaszewski, teve embriões criados na década de 1990, com algumas incubadoras presentes nos espaços da Ufrgs. Segundo o diretor, um dos fatores que contribuiu para a união também foi a complementariedade de cada setor tecnológico, através das experiências geradas neles.
Uma das ações da Ufrgs será no bairro Belém Novo, na Zona Sul de Porto Alegre. Será criado um centro de recondicionamento de computadores, com a participação de jovens carentes da região. O intuito é dar oportunidade de emprego e criar um viés empreendedor para incentivá-los a abrir o próprio negócio.