A indústria começou o segundo trimestre com ligeira alta, mas ainda está aquém do patamar pré-pandemia. A produção teve alta de 0,1% em abril ante março, segundo a Pesquisa Industrial Mensal divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A melhora já perdura por três meses, mas é ainda insuficiente para recuperar as perdas recentes provocadas pelos problemas que persistem tanto na oferta quanto na demanda, avaliou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
"Há melhora clara do ritmo de produção muito associada a uma volta à normalidade, a uma melhora da circulação das pessoas, ao fim da restrição de mobilidade", disse.
A produção industrial ficou praticamente estável em abril após expansões de 0,6% em março e 0,7% em fevereiro, acumulando no período um avanço de 1,4%. No entanto, em janeiro de 2022 ante dezembro de 2021, tinha havido recuo de 1,9%. Em relação ao patamar de fevereiro de 2020, a indústria em abril operava 1,5% abaixo: apenas dez das 26 atividades investigadas se mantinham em nível superior ao pré-crise sanitária. Entre as categorias de uso, a produção de bens de capital estava 7,1% acima do nível de fevereiro de 2020, e a fabricação de bens intermediários, 3,0% além. Já os bens duráveis ficaram 27,4% abaixo do nível pré-pandemia, e os bens semiduráveis e não duráveis, 6,6% aquém.
Commodities, juros e crise global levam a indústria a 'andar de lado'
Para analistas de mercado, o ritmo de recuperação da indústria vem sendo ditado pela alta das commodities (matérias-primas em dólar), pelos juros altos e pela desaceleração da economia global. A produção industrial "anda de lado", definiu Cláudia Moreno, economista do C6 Bank.
"A pequena expansão industrial registrada nos últimos meses e os dados fortes de serviço corroboram nosso cenário de PIB de 1,5% ao final do ano, mas não descartamos um crescimento um pouco mais forte", disse Moreno, em nota.
Nos próximos resultados, o desempenho da produção industrial deve ser limitado, com expectativa de retração, disse Samanta Imbimbo, analista da Tendências Consultoria Integrada.
"O cenário para o restante do ano contempla, especialmente, o quadro de desaceleração da demanda interna por bens industriais, considerando tanto o aumento da demanda por serviços, dada a normalização do quadro sanitário, quanto o cenário de menor dinamismo do mercado de trabalho, manutenção de pressões inflacionárias e alta de juros, aspectos que restringem o consumo das famílias e desestimulam investimentos. Por fim, o segmento industrial ainda enfrenta pressões de custo de produção e escassez de alguns insumos, sob efeito do desbalanço das cadeias globais de suprimentos e logística, fatores que também limitam a produção do setor", afirmou Imbimbo, em nota.
Motivo de Comemoração
Apesar de pequeno (0,1%), o crescimento na produção em abril é comemorado pelo presidente da Associação de Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Rio Indústria), Sérgio Duarte. "Com o avanço da vacinação já percebemos o mercado consumidor melhorando um pouco, mas a indústria ainda tem desafios muito fortes, como a alta dos preços das matérias-primas, um custo de energia muito alto, como gás e petróleo. Isso tudo afeta muito os custos do setor industrial. Do outro lado, temos um consumidor com perda de renda por causa da inflação, e isso afeta diretamente o seu consumo. Mas, seguimos acreditando que o setor industrial do Brasil vai se recuperar, mas com muitos desafios", afirmou Duarte, em nota.