Bacia de Pelotas não atrai interessados em leilão da ANP

Área nunca registrou ocorrência de petróleo ou gás

Por Jefferson Klein

Blocos somavam área de cerca de 5,7 mil quilômetros quadrados
Os nove blocos que ficam no setor SP-AP4 da Bacia de Pelotas, na costa gaúcha, que totalizam cerca de 5,7 mil quilômetros quadrados, acabaram não recebendo propostas em leilão de áreas para prospecção e exploração de petróleo promovido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nesta quarta-feira (13). Já havia a perspectiva de que, por se tratar de uma área próxima à fronteira marítima com o Uruguai e localizada em águas profundas, não houvesse um maior interesse pelos blocos no Rio Grande do Sul.
Até hoje, a Bacia de Pelotas, que tem uma extensão total de aproximadamente 210 mil quilômetros quadrados, indo do Sul de Santa Catarina até a fronteira com o Uruguai, nunca confirmou a ocorrência de petróleo ou gás. A área é classificada como Nova Fronteira, ou seja, tem pontos poucos conhecidos geologicamente e barreiras tecnológicas ou do conhecimento a serem vencidas. Questionado após o certame sobre os motivos para que a Bacia de Pelotas não tenha registrado propostas, o diretor-geral da ANP, Rodolfo Saboia, afirmou que apenas as empresas do setor é que poderiam dar essa resposta. O secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Rafael Bastos, acrescentou que a área poderá ser disponibilizada, futuramente, para novas concorrências.
Na abertura da sessão pública do 3º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão (OPC), Saboia frisou que a humanidade caminha para um mundo de baixo carbono, o que tem reduzido os aportes na energia fóssil e tornado as empresas do setor cada vez mais seletivas em seus investimentos. Porém, ele acrescenta que a recente alta dos preços do petróleo e gás natural, com o desequilíbrio de oferta e demanda e intensificada pelos conflitos internacionais, reforça a importância da segurança energética.
“Especialmente no Brasil, temos ainda muita riqueza a ser gerada pela indústria de petróleo e gás natural”, salienta o diretor da ANP. No total do País, o certame dessa quarta-feira disponibilizou ao mercado 379 blocos, sendo 347 em terra e 32 no mar. Foram ofertadas áreas nas bacias de Santos, Espírito Santo, Recôncavo, Potiguar, Sergipe-Alagoas e Tucano. Além do Rio Grande do Sul, os estados abrangidos foram: Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Ceará, Bahia, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Na concorrência, foram arrematados 59 blocos, representando uma área de cerca de 7,85 mil quilômetros quadrados. O bônus ofertado (montante pago à União pelas empresas que conquistaram os blocos) foi de cerca de R$ 422 milhões (ágio de 854,84%). Já a previsão do investimento mínimo na fase de exploração (PEM - uma estimativa dos valores que serão aportados nas áreas em trabalhos como perfuração de poços, levantamentos sísmicos, entre outras atividades) foi de aproximadamente R$ 406,2 milhões. Saíram vencedoras da disputa 13 empresas, oito nacionais e cinco estrangeiras.
A maior parte dos valores movimentados diz respeito apenas à negociação de áreas da Bacia de Santos, que teve alguns blocos arrematados pela companhia TotalEnergies e outros pelo consórcio formado pela Shell e Ecopetrol Óleo e Gás. Foram leiloados oito blocos dessa bacia, que significaram um bônus de assinatura de R$ 415,2 milhões e investimento mínimo previsto na fase de exploração de R$ 307,9 milhões. A área total arrematada foi de 5,47 mil quilômetros quadrados. Além da TotalEnergies, da Shell e da Ecopetrol Óleo e Gás, tiveram blocos adquiridos no leilão, sozinhas ou em consórcios, as empresas CE Engenharia, Imetame, ENP Ecossistemas, Seacrest, Petroborn, NTF, Newo, Origem, Petro-Victory e 3R Petroleum.
O certame foi questionado por organizações do terceiro setor, que chamaram a atenção para os impactos ambientais e sociais da atividade petrolífera em determinadas regiões. Manifestantes se concentraram na frente do Windsor Barra Hotel, no Rio de Janeiro, onde foi conduzido presencialmente o encontro, criticando o evento. “Estão loteando o nosso subsolo a preço de banana, em plena crise climática”, lamentou o diretor do Instituto Internacional Arayara e do Observatório do Petróleo e Gás, Juliano Bueno de Araújo. O dirigente também reclama que foi proibido o acesso da sociedade civil ao prédio durante o 3º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão.