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Empreendedores do carvão defendem uso do mineral para fabricação de fertilizantes
Guerra entre Rússia e Ucrânia desequilibrou oferta global de insumos agrícolas
O conflito bélico entre Rússia e Ucrânia e a dificuldade que o evento resultou quanto ao fluxo das exportações de fertilizantes tem feito o Brasil pensar em opções para aumentar a produção interna desses insumos do agronegócio. Uma das possibilidades defendida pela Associação Brasileira de Carvão Mineral (ABCM) é o aproveitamento do carvão nacional para essa finalidade.
O presidente da entidade, Fernando Zancan, ressalta que ninguém sabe quando os problemas gerados com a guerra irão terminar. “Isso pode ocasionar até a falta de comida no planeta, ficará tudo mais caro”, alerta o dirigente. Para amenizar os reflexos de situações como essa futuramente no País, ele cita duas alternativas para o uso do carvão na cadeia dos fertilizantes: pela carboquímica (com a gaseificação do mineral) e pela produção de sulfato de amônia através da dessulfurização de termelétricas.
A primeira rota tecnológica estava prevista dentro do projeto da Copelmi para a Mina Guaíba, no município gaúcho de Eldorado do Sul (o empreendimento hoje se encontra estagnado e teve seu processo de licenciamento arquivado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental - Fepam). Já a segunda solução, comenta Zancan, está sendo avaliada para ser empregada no complexo de energia de Jorge Lacerda, localizado na cidade catarinense de Capivari de Baixo.
Contudo, o presidente da ABCM admite que o desenvolvimento de uma cadeia de fertilizantes a partir do carvão passa pela adoção de uma política pública nesse sentido e a garantia de um contrato de compra de longo prazo. Mas, o dirigente salienta que o mineral, com a crise da Rússia e Ucrânia, voltou a ser algo levado em consideração. Ele prevê que a questão geopolítica sobre energia não será a mesma após a guerra. “Então, é o momento de sentar com o governo brasileiro e dizer que temos condições de produzir fertilizantes a partir do carvão”, enfatiza o presidente da ABCM.
Já diretor científico e técnico da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Francisco Milanez, critica a possibilidade da utilização do carvão para a produção de fertilizantes devido aos impactos ambientais que a mineração desse insumo acarreta. O ambientalista, que na segunda-feira (21) dará o curso “Desarrollo Saludable”, promovido por Fundación Cepa, Unesco e Foro Latinoamericano de Ciencias Ambientales, também sustenta que é preciso manter a vigilância no Rio Grande do Sul para que o projeto da Mina Guaíba não seja retomado. Ele frisa que se trata de um empreendimento extremamente poluente, próximo a uma região metropolitana.
Ainda na área carbonífera, sobre a recente manifestação do governador Eduardo Leite, durante missão aos Estados Unidos, que as usinas gaúchas a carvão deverão ser desativadas gradativamente, Milanez considera que é uma mudança de declaração motivada por ambições eleitorais, pois no passado o político apoiou iniciativas nesse campo. “Ele quer ser presidente do Brasil, então está tentando limpar o passado equivocado, mas o que ele fez nunca será esquecido”, afirma o integrante da Agapan.
Sobre esse assunto, o presidente da ABCM argumenta que a transição energética não pode ser uma política do governador Eduardo Leite, mas de Estado. Zancan diz que é necessário seguir um marco regulatório sobre o tema e acrescenta que um processo de transição levará mais de dez anos em razão das questões econômicas e tecnológicas envolvidas.