A produção nacional de GLP deverá crescer mais de 70% entre 2019 e 2031 e o Brasil poderá se tornar autossuficiente e passar a exportar o combustível antes do final da década, segundo previsão divulgada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) durante o 35º Congresso da Associação Ibero-americana de Gás Liquefeito de Petróleo (AIGLP), no Rio de Janeiro.
Durante este período, a produção do gás, que tem expectativa de aumento médio anual de 4,6%, deverá crescer mais do que a demanda interna pelo produto, que deve aumentar 1,4% em média anualmente.
Assim, o País, que hoje importa o produto, reduziria paulatinamente seu déficit na produção de GLP até se obter superávit a partir da segunda metade da década. A estimativa da empresa é de que, em 2031, cerca de 7% da produção seja destinada exportações.
O aumento na produção decorrerá, em grande parte, da parcela de aproveitamento da produção oriunda do processamento de gás natural. “Nosso aumento vem do sucesso do aproveitamento do gás natural. O gás que é produzido, ao ser processado, o que a gente chama de ‘gás rico’ tem não só o metano que a gente consome como gás natural, mas tem correntes de GLP e uma gasolina leve. No processamento, são aproveitados esses derivados. É daí que vai vir esse GLP”, explica a diretora da EPE e especialista na área de energia, Heloisa Borges.
Destaca-se, em especial, o início de operação em 2022 da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Polo GasLub (ex-Comperj), em Itaboraí (RJ), e o desenvolvimento da produção de gás natural na Bacia de Sergipe-Alagoas, na segunda metade desta década.
“Essa estimativa de aumento de mais de 70% na produção de GLP significa segurança energética. É produto disponível para a população brasileira. E este aumento de produção é sim suficiente para a gente passar a ser um exportador líquido”, afirma Heloisa.
Estima-se que a produção de GLP oriunda de UPGNs alcançará 26,8 mil m³/d em 2031, volume muito superior aos 8,9 mil m³/d produzidos em 2019 nessas unidades. Petróleo e derivados representam mais de 33% da matriz energética brasileira. O consumo residencial de GLP representa 24% de toda a energia consumida pelas famílias brasileiras.
“O setor de GLP sustentou a população brasileira durante a pandemia. Quando a gente ficou em casa, notou o quanto ele é essencial para o nosso dia a dia, e cada vez mais. É um produto extremamente importante, que representa um quarto do consumo energético das famílias e está presente na maioria dos lares brasileiros”, disse a diretora da EPE.
Ela afirma que a pandemia não afetou as vendas do produto, mas o aumento nos preços finais do GLP ao longo de 2021 afetaram o consumo do combustível nos últimos
meses, especialmente em famílias de baixa renda. A comercialização de GLP registrou queda de 1,1% no ano, em comparação a 2020.
Com o início do Auxílio Gás dos Brasileiros, de âmbito federal, e de outros programas municipais e estaduais de transferência de renda, a previsão de curto prazo da EPE é de que haja uma leve reação em 2022 (0,9%) e 2023 (0,5%).
Segundo Heloisa, esperam-se mudanças significativas no setor de GLP nos próximos anos, tanto em função do fim da diferenciação de preços, quanto em decorrência da venda de ativos de refino e de processamento de gás natural pela Petrobras.
Reflexos da guerra na Ucrânia e inovações no setor de combustíveis são debatidos em congresso
O Congresso da Associação Ibero-Americana de Gás Liquefeito de Petróleo (AIGLP) retorna em sua 35ª edição com a missão de pensar em alternativas para o que talvez seja a questão mais latente no planeta atualmente: os reflexos causados pela guerra no Leste Europeu.
O conflito envolvendo Rússia, Ucrânia, União Europeia e Estados Unidos reverbera nas cadeias produtivas de todo o mundo, principalmente, causando uma escalada de preços nos combustíveis.
“O mundo ficou pequeno. O que acontece de um lado do mundo repercute rapidamente no outro. Com a guerra, o preço do petróleo disparou, ultrapassando os US$ 130,00 por barril. Obviamente, isso afeta nossa indústria e nossos consumidores. Todos os países do mundo prevêem uma inflação alta em virtude dessas condições e muitas soluções para conter a alta dos preços têm sido discutidas pelos governos. Não existem soluções mágicas. Discutiremos, aqui, algumas alternativas”, discursou o presidente da AIGLP, Ricardo Tonietto, durante a abertura do evento que ocorre até sexta-feira (25) no Rio de Janeiro.
O congresso, que há dois anos não ocorria devido à pandemia de Covid-19, reúne especialistas das mais diversas áreas de combustíveis e terá foco em inovação e tecnologia com o objetivo de aprimorar processos e desenvolver a indústria.
“Espero que os presentes tenham a oportunidade de atualizarem seus conhecimentos quanto a novas tecnologias e equipamentos dos expositores da feira. Que troquem experiências sobre os mais variados assuntos, olhando para o futuro da nossa indústria e do nosso consumidor”, afirmou Tonietto.
O evento conta com 182 expositores que trazem soluções inovadoras para os mais diversos pontos da cadeia de produção e comercialização do GLP. Além disso, durante os dois dias de congresso, ocorrerão diversas palestras que debaterão estruturas de abastecimento primário, mecanismos para proteger o consumidor de baixa renda, condições regulatórias capazes de estimular investimento privado a atuar de forma responsável, entre outros assuntos.
Para o presidente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Rodolfo Henrique Saboia, “o evento proporcionará a oportunidade de discussão sobre um mercado de suma importância para a sociedade como é o mercado do GLP. A troca de experiências e conhecimento é um instrumento capaz de contribuir positivamente nos objetivos deste congresso”.