Ícone da noite de Porto Alegre, Caverna do Ratão fecha ponto após 66 anos de atividades

Postagem no Instagrem informa que estabelecimento seguirá atendendo por telentrega

Por Fernanda Crancio

– CAVERNA DO RATÃO SEÇÃO HISTÓRIAS DO COMÉRCIO.
Um dos ícones da boemia de Porto Alegre, o bar Caverna do Ratão, no bairro Petrópolis, fechou as portas na noite desta sexta-feira (25), após 66 anos de funcionamento. Um comunicado dos proprietários no grupo de WhatsApp da vizinhança da casa confirmou que seria a última noite de atividades presenciais.
Nas redes sociais, nenhuma informação foi incluída nos perfis do bar na sexta, mas frequentadores marcaram o local em postagens para lamentar o fato. "Soube agora que hoje (sexta) o Caverna do Ratão fechou as portas. Porto Alegre ficou menor. Era o boteco-referência para mim", destacou um seguidor da casa. Muitos outros enfatizaram a qualidade do chope cremoso - com três dedos de colarinho- e dos petiscos tradicionais, como o famoso sanduíche aberto, o bolo de carne recheado e o crocante bolinho de bacalhau.
Chope cremoso e bolinhos são marcas registradas do estabelecimento. Crédito: João Mattos/Arquivo/JC
Na tarde deste sábado (26), um anúncio oficial foi publicado no Instagram do bar, informando uma "nova fase da história" do bar, com serviços de entrega sendo mantidos via plataforma de aplicativo.
O texto diz: "É com profundo pesar que escrevo esse texto. Todo Carnaval tem seu fim, e, após 66 anos localizada na Protásio Alves 1.709, a Caverna do Ratão encerra suas atividades presenciais. Agradecemos cada pessoa que compartilhou seus momentos conosco, cada brinde realizado dentro de nossas paredes e cada boa companhia que tivemos. Por hora, manteremos nosso serviço pelo iFood. Que essa nova fase da história possa ser tão linda como foram os últimos 66 anos. OBRIGADO!"
O bar vinha sendo administrado pelo casal Charles e Vera Cunha, filha do fundador Aristides Saldanha, falecido na década de 1990. A casa, situada na esquina da avenida Protásio Alves com a rua Eça de Queiroz, havia passado por uma reforma nos anos 2000, que garantiu um salão maior para os clientes, com espaço especial para as fotos antigas e peças da memória da casa.
Reportagem publicada no Jornal do Comércio em 2015, quando o local completou 60 anos de funcionamento, enfatizava o público eclético e famílias inteiras que frequentavam o bar ao longo dos anos. Segundo Vera, o atendimento tranquilo e amigável era um dos grandes diferenciais. "Meu pai sentava junto com os clientes para conversar, e buscamos manter esta receptividade”, disse na época.
Uma curiosidade dos tempos em que o patriarca comandava a casa era a proibição de beijos entre namorados. Aristides achava que constrangia os frequentadores, e pedia para que parassem com as demonstrações de afeto. Na redes sociais, o fato também foi relembrado por um cliente, no Facebook. " O único bar de POA onde os casais não podiam se beijar... grande perda para a cidade".
Nos áureos tempos, segundo relatou a empresária nas comemorações do 60 anos, a casa chegava a vender três barris de chope no inverno, e o dobro nas noites de verão. Desde o início da pandemia, como a maioria do setor de serviços e gastronomia, o Ratão vinha tentando se adaptar ao esquema de telentrega e retirada no local, mas tudo indica que as dificuldades do período e as restrições sanitárias colaboraram para a decisão de encerrar as atividades presenciais.
Em 2020, boatos de fechamento do bar chegaram a circular nas redes sociais, mas foram desmentidos pelos proprietários, que seguiram com o negócio. Segundo Vera, a queda de movimento dos últimos anos pesou na decisão de encerrar o atendimento presencial e priorizar a telentrega. "Estamos finalizando nossa longa temporada marcando presença nas noites da Protásio Alves. Infelizmente, assim como outros comércios, fomos vítimas da baixa de movimento dos últimos anos. Temos grande carinho por todas as pessoas que construíram as histórias dentro do nosso estabelecimento e, a princípio, mantemos nossos serviços pelo Ifood e, em breve, outras plataformas", disse.