RS será um dos estados mais afetados com fim de incentivo para a indústria química

Medida Provisória publicada pelo governo federal na virada do ano determinou extinção do REIQ

Por Jefferson Klein

Empresas do polo petroquímico de Triunfo estão entre as mais impactadas pela extinção do regime especial
A Medida Provisória (MP) 1095/21, editada nas últimas horas do ano passado e que teve como objetivo dar término imediato ao Regime Especial da Indústria Química (REIQ), afetará particularmente o Rio Grande do Sul, adverte o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Ciro Marino. Além dos gaúchos, serão duramente impactados com a medida São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, por causa da operação dos polos petroquímicos nessas localidades.
O REIQ é um mecanismo que previa, até dezembro, a redução de 2,92% do PIS/Cofins incidente sobre a compra de matérias-primas químicas básicas da primeira e da segunda geração, como nafta, eteno, butadieno, polietileno e polipropileno. O regime vinha tendo o seu benefício reduzido gradativamente, mas o corte intempestivo pegou o segmento químico de surpresa. “Nós estamos, na verdade, perplexos”, afirma o presidente da Abiquim.
Marino frisa que o tema do REIQ foi um processo extensivamente negociado entre as empresas do setor, governo federal e Congresso, para que não fosse feita uma descontinuidade abrupta do incentivo e sim um término gradual, em quatro anos. “Isso foi há poucos meses e, de repente, no calar da madrugada, no dia 31 (de dezembro) para o dia 1º (de janeiro), é publicada a MP 1095/21 que causou um espanto”, ressalta o dirigente.
Conforme Marino, o governo, aparentemente, não tem percepção do dano que está causando, além do financeiro, na questão da segurança jurídica para os empreendedores que pretendem investir no Brasil. O presidente-executivo da Abiquim acrescenta que a associação irá discutir a questão até as últimas opções e, apesar de não considerar a melhor alternativa, ele não descarta uma ação judicial. Marino ainda tem a expectativa que o governo mude de opinião ou que após 120 dias a MP seja derrubada no Congresso.
Segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) e apresentado pela Abiquim, a retração da produção total da cadeia química com o final do REIQ pode chegar a algo em torno de R$ 11,5 bilhões por ano, significando uma perda de R$ 5,5 bilhões anuais no PIB, além de uma diminuição bruta de R$ 3,2 bilhões na arrecadação. No Rio Grande do Sul, o impacto na arrecadação poderia alcançar até R$ 360 milhões anuais. Já a perda de postos de trabalho diretos e indiretos no Brasil com o término do REIQ pode chegar até 85 mil vagas, sendo que no Rio Grande do Sul o reflexo poderia ser de até 9 mil vagas.
No Estado, empresas como a Braskem e a Innova, que têm plantas no polo petroquímico de Triunfo, estariam entre as companhias mais prejudicadas com a extinção do REIQ. Em março do ano passado, o vice-presidente de Olefinas e Poliolefinas para a América do Sul da Braskem, Edison Terra, estimava em torno de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões por ano o impacto do fim do mecanismo para a companhia.
O presidente-executivo da Abiquim adverte que, não havendo uma reversão da decisão do governo, esse ônus será repassado para os custos, tendo um impacto na inflação. Outro problema é a possibilidade de aumentar a importação, diminuindo a arrecadação de impostos no País e transferindo empregos para o exterior, alerta Marino. Ele destaca que o Brasil, até novembro do ano passado, já registrava quase 50% do seu mercado químico nacional atendido por importações.