Apesar de enfrentar algumas dificuldades quanto a questões de financiamento e de importação de parte da tecnologia envolvida no processo, o cenário para o biogás (oriundo de matéria orgânica) e o biometano (biogás purificado) apresenta oportunidades e casos concretos de novos empreendimentos no Brasil. Particularmente no Rio Grande do Sul, o acordo assinado recentemente pela Sulgás e pela SebigasCótica foi um divisor de águas para o setor.
A ação entre as empresas marca a primeira vez que a distribuidora de gás natural que atende ao Estado fechou um contrato de suprimento de biometano para repassar para seus clientes. “Essa assinatura tem o simbolismo de mostrar para o mercado que o modelo funciona”, destaca o diretor-executivo da SebigasCótica, Maurício Silveira Cótica. O volume inicial para os cinco primeiros anos de fornecimento prevê a entrega de 15 mil metros cúbicos ao dia de biometano, a contar de 2024.
A capacidade poderá ser ampliada para 30 mil metros cúbicos diários a partir do sexto ano, conforme previsão contratual. Para atender a essa demanda, a SebigasCótica construirá uma planta em Triunfo, que absorverá um investimento de aproximadamente R$ 150 milhões. A estrutura utilizará como matéria-prima resíduos fundamentalmente agroindustriais, como restos de processamento de frigoríficos, lodos de estação de tratamento e materiais orgânicos.
Além da intenção de aumentar, futuramente, a capacidade da própria planta de Triunfo, Cótica adianta que há planos para o desenvolvimento de uma nova unidade, em outro município, que envolverá números de capacidade e investimento semelhantes ao do primeiro empreendimento. Por enquanto, o dirigente prefere não revelar em qual cidade será construído o novo projeto.
O diretor-executivo da SebigasCótica considera o atual momento do mercado de biogás e biometano como positivo. “Realmente, estamos subindo de patamar, com diferentes investimentos e cada vez maiores”, comenta o dirigente. Um dos fatores que contribui para esse panorama, cita o diretor da SebigasCótica, são os movimentos na direção da descarbonização da economia.
Cótica acrescenta que o biometano pode ser aproveitado pelas empresas que estão comprometidas com o objetivo de substituição dos combustíveis fósseis. Outra possibilidade de uso está na troca do diesel veicular pelo biocombustível. Entre as questões que precisam ser melhor trabalhadas para acelerar o desenvolvimento de projetos no setor, o executivo indica a estrutura de financiamento.
Já a presidente da Frente Parlamentar da Matriz Produtiva dos Biodigestores, deputada estadual Zilá Breitenbach (PSDB), recorda que há cerca de dois anos foi aprovado o projeto de lei que estabeleceu o Marco Legal do Biogás no Estado. “Mas, eu entendo que deveriam ter sido dados, mais rapidamente, alguns incentivos para que se pudesse implementar mais empreendimentos”, defende a parlamentar. Entre os benefícios sugeridos por Zilá estão linhas de financiamento com taxas mais competitivas para iniciativas desenvolvidas nessa área.
Para a deputada, é fundamental proporcionar condições para que os agricultores de médio porte possam avaliar o investimento no biogás nas suas propriedades. Zilá reforça que, ao dar destinação adequada aos resíduos, como dejetos de animais, por exemplo, está se contribuindo para a manutenção da qualidade da água, do solo e do rendimento da propriedade rural. “As empresas produtoras de proteína animal estão querendo ampliar os seus investimentos e já há municípios que não podem aceitar porque não têm onde colocar os dejetos”, alerta a deputada.
Por sua vez, o diretor comercial da Folhito, Fernando Lanius, considera que a comercialização do biogás seja a parte mais simples do negócio. “Há empresas procurando, entendendo que o biometano é um gás mais sustentável que o próprio gás natural, que é uma fonte fóssil”, diz Lanius. No entanto, o executivo aponta que um problema ainda é a tecnologia e os custos envolvidos para desenvolver os projetos.
A Folhito, que atua na área de fertilizantes orgânicos, já queria ter iniciado no ano passado o aproveitamento do biogás gerado em sua unidade em Estrela para produzir energia elétrica e biometano. O cronograma inicial não foi cumprido, mas Lanius afirma que continua apostando na solução e acredita que o objetivo possa ser atingindo no segundo trimestre de 2022.
Já a Naturovos começou a produzir energia elétrica a partir de biogás para atender parte do consumo da planta da empresa localizada em Salvador do Sul no segundo semestre de 2021. O diretor comercial do grupo, Anderson Herbert, informa que a geração atende a menos de 5% do consumo do complexo, entretanto anteriormente o gás acabava sendo queimado e desperdiçado. O material empregado na geração do biogás na unidade de produção de ovos é oriundo da estação de tratamento de efluentes da planta, onde se emprega um processo biológico, sem o uso de produtos químicos. “É um procedimento autossustentável”, ressalta Herbert.
ABiogás defende maior aproveitamento do biocombustível
O espaço que o biogás tem para crescer no País ainda é enorme. Conforme dados da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), o potencial de aproveitamento desse biocombustível é de 120 milhões de metros cúbicos por dia, mas se consome menos de 2% desse volume. “Esse potencial está sendo desperdiçado”, adverte o vice-presidente da entidade, Gabriel Kropsch.
O dirigente ressalta que o biogás é oriundo da decomposição da matéria-orgânica, sendo um processo natural. “Ou seja, acontece quer a gente queira ou não, a questão que sempre falamos é se vamos aproveitar o biogás gerado ou vamos jogar fora”, comenta o vice-presidente da ABiogás. Apesar de um aproveitamento ainda tímido perto de todo potencial apresentado, Kropsch destaca que o setor do biogás vem registrando expansão constante (estima-se que 2021 deve ter fechado com um incremento de cerca de 30% em volume gerado no Brasil em relação a 2020). “Ano a ano a gente vem crescendo, mas há ainda muito espaço para se desenvolver, porque é uma fonte muito recente”, frisa o dirigente.
No Rio Grande do Sul, a ABiogás estima um potencial de cerca de 6 milhões de metros cúbicos ao dia de biogás. O número representa mais do que o dobro da capacidade de entrega de gás natural do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) ao Estado. Kropsch enfatiza que, em princípio, toda matéria orgânica pode ser aproveitada para a geração de biogás. Entre os materiais que podem ser utilizados estão resíduos sólidos urbanos, de tratamento de esgoto, provenientes da agroindústria e da pecuária (toda cadeia de proteína, abrangendo criações de gado, suínos e aves). O biogás tem aplicações para geração de calor, energia elétrica e, purificado e transformado em biometano, pode ser usado como combustível veicular.
De acordo com o vice-presidente da ABiogás, para ter um maior uso desse energético, é preciso difundir o biogás e suas qualidades ambientais, já que se trata de uma fonte com pegada de carbono negativa, pois substitui um combustível fóssil e dá uma destinação adequada a rejeitos. Outro fator considerado por Kropsch como essencial para o crescimento da utilização do biogás seria a realização de leilões de energia específicos para o biocombustível. Atualmente, os certames organizados pelo governo federal para atender à demanda elétrica nacional não apresentam essa distinção para essa fonte.
O dirigente ressalta que o biogás é oriundo da decomposição da matéria-orgânica, sendo um processo natural. “Ou seja, acontece quer a gente queira ou não, a questão que sempre falamos é se vamos aproveitar o biogás gerado ou vamos jogar fora”, comenta o vice-presidente da ABiogás. Apesar de um aproveitamento ainda tímido perto de todo potencial apresentado, Kropsch destaca que o setor do biogás vem registrando expansão constante (estima-se que 2021 deve ter fechado com um incremento de cerca de 30% em volume gerado no Brasil em relação a 2020). “Ano a ano a gente vem crescendo, mas há ainda muito espaço para se desenvolver, porque é uma fonte muito recente”, frisa o dirigente.
No Rio Grande do Sul, a ABiogás estima um potencial de cerca de 6 milhões de metros cúbicos ao dia de biogás. O número representa mais do que o dobro da capacidade de entrega de gás natural do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) ao Estado. Kropsch enfatiza que, em princípio, toda matéria orgânica pode ser aproveitada para a geração de biogás. Entre os materiais que podem ser utilizados estão resíduos sólidos urbanos, de tratamento de esgoto, provenientes da agroindústria e da pecuária (toda cadeia de proteína, abrangendo criações de gado, suínos e aves). O biogás tem aplicações para geração de calor, energia elétrica e, purificado e transformado em biometano, pode ser usado como combustível veicular.
De acordo com o vice-presidente da ABiogás, para ter um maior uso desse energético, é preciso difundir o biogás e suas qualidades ambientais, já que se trata de uma fonte com pegada de carbono negativa, pois substitui um combustível fóssil e dá uma destinação adequada a rejeitos. Outro fator considerado por Kropsch como essencial para o crescimento da utilização do biogás seria a realização de leilões de energia específicos para o biocombustível. Atualmente, os certames organizados pelo governo federal para atender à demanda elétrica nacional não apresentam essa distinção para essa fonte.