Para o head de câmbio da Acqua-Vero, Alexandre Netto, sinais de que o governo pode recuar em alguns pontos da reforma tributária, aliados ao ambiente externo favorável ao risco, abriram espaço para uma correção natural no mercado de câmbio, a despeito dos ruídos em Brasília.
"A questão da reforma foi um dos principais 'drivers' para a piora no câmbio. Nos últimos dias, houve sinais de que a proposta vai ser alterada, o que trouxe certo alívio", afirma Netto, que não vê, contudo, espaço para uma rodada mais forte de apreciação do real. "Parece que a alta dos juros já está 'precificada' no câmbio e o ambiente político ainda é muito ruim, com a corrida eleitoral parecendo cada vez mais próxima".
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem sinalizado que aceitará a retirada de "maldades" do texto. É ventilada a possibilidade de queda da proposta de taxação de dividendos entre empresas e a manutenção da isenção para fundos imobiliários.
Do lado do comércio exterior, a balança comercial registrou superávit de US$ 2,013 bilhões na segunda semana de julho, levando o saldo positivo acumulado no mês a R$ 3,563 bilhões. Em 2021, a balança comercial tem superávit de US$39,750 bilhões.
Os resultados comerciais podem dar mais sustentação ao real no curto prazo, desde que os exportadores optem por internalizar recursos, em vez de mantê-los no exterior. A expectativa é que, com o aumento da taxa Selic ao longo dos próximos meses, as empresas passem a fechar mais contratos de câmbio, por conta do aumento do custo de oportunidade.
Em sua videoconferência, Serra, do BC, afirmou que recursos de exportações estão sendo utilizados para pré-pagamentos de dívidas no exterior, o que retirou um pouco de liquidez do mercado de câmbio. Para o diretor do BC, esse fenômeno é temporário e será revertido em breve.
Em relatório, a Armor Capital afirma que, após cinco semanas sem internalizar recursos, os exportadores trouxeram US$ 893 bilhões ao país na última semana de junho. Embora saliente que esses dados devem ser vistos com cautela, a gestora afirma que "se essa reversão for mantida e o exportador continuar trazendo recursos deve haver um fôlego para o câmbio".
Lá fora, o dólar teve um comportamento misto em relação às principais divisas emergentes, com queda frente ao peso colombiano e a lira turca, alta na comparação com o rand sul-africano e certa estabilidade ante ao peso mexicano, considerado o principal par do real.
O mercado aguarda a divulgação, amanhã, do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em junho, e discursos do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell (na quarta e na quinta-feira) para calibrar as expectativas em torno do início da redução do volume de compra de ativos.