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Falta de insumos afeta setor eletroeletrônico
Problema, agravado agora com ano novo chinês, impacta produção
A falta de insumos para a produção de eletroeletrônicos segue preocupando a indústria brasileira. Dados da nona edição da pesquisa promovida pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) mostram que a quase totalidade das empresas entrevistadas (95%) estão enfrentando dificuldade de fornecimento de matérias-primas. Além disso, foram observados aumentos na ordem de 10% a 40% no preço dos insumos, o que poderá refletir nos preços ao consumidor ao longo do ano.
A expectativa é que essa situação não se resolva antes de três a seis meses. A escassez de componentes tem impedido a produção de itens que vão desde lâmpadas, computadores, peças para automóveis e até respiradores, tão necessários na pandemia. Como consequência disto, os preços dos eletroeletrônicos já apresentam alta para o consumidor final. "Componentes que comprávamos a US$ 1 chegam a custar agora US$ 2,50, e já tem fábrica parada por desabastecimento", diz Ricardo Helmlinger, CMO da Standard America, indústria de placas eletrônicas.
Ele conta que a empresa está recebendo comunicados de indústrias de componentes de todo o mundo informando sobre novos prazos de entrega e reajustes de preços em todos os tipos de componentes. "As entregas, que eram previstas para 60 dias, agora são combinadas com o cliente para prazos de até 90 dias - e o mercado todo está respondendo da mesma forma", relata.
Faltam insumos fundamentais para todos os tipos de placas eletrônicas, como capacitores e resistores - sem esses componentes, não é possível deslanchar a produção. Alguns varejistas estão retirando das prateleiras as linhas de áudio, por exemplo, por falta de produtos. "Trabalhamos com metade das pessoas em janeiro, e não por falta de pedidos, mas de materiais para montar os equipamentos", conta o gestor.
Para piorar, iniciou o ano novo chinês, que dura cerca de duas semanas. "Com isso, vai acumular ainda mais produtos para embarque e, com poucos voos em função da pandemia, os prazos vão ser ainda mais afetados e o custo do frete se elevará", acrescenta Helmlinger.
Isso está acontecendo porque a pandemia provocou uma desaceleração da produção, na contramão de tudo que vinha acontecendo até então. Nos primeiros meses de 2020, plantas foram enxugadas e equipes demitidas. Ao longo do ano, o quadro foi revertido, a demanda voltou a existir, mas o setor produtivo não deu conta de atender, o que faz com que os preços subam. "As fábricas estão trabalhando com 100% de sua capacidade e não dão conta de entregar toda a demanda", diz.
Os primeiros sinais de carência de produtos começaram a aparecer em outubro de 2020. Quem se antecipou conseguiu comprar com prazo de entrega menor do que o atual. Helmlinger comenta, porém, que o mercado se adaptará à nova demanda e recuperará o equilíbrio. "Esse processo costuma levar seis meses e pode ser que até os preços fiquem mais estáveis a partir desse período, quando a demanda reprimida estiver suprida", projeta.
O CEO da Novus Produtos Eletrônicos e vice-diretor regional da Abinne-RS, Aderbal Lima, comenta que essa falta de componentes genéricos foi um grande complicador, pois desestruturou a cadeia como um todo. Mas, o cenário agora é ainda mais grave. Isso porque, agora estão faltando chips críticos, os de alto valor agregado, o que está fazendo plantas automotivas pararem em algumas regiões do mundo.
Esses componentes mais sofisticados, como chips e memórias, não são atendidos pela China, mas pelos EUA, Japão, Taiwan e Coreia. "Com a pandemia, as fábricas deslocaram a produção para atender a grande demanda que tivemos por smartphones e notebooks, e deixaram de abastecer o mercado de automóveis", analisa.
No RS, previsão é de crescimento de até 30% em 2021
Apesar da dificuldade em conseguir componentes, a indústria eletroeletrônica gaúcha espera crescer de 10% a 30% em 2021. Dados da Abinee mostram que a maioria das empresas entrevistadas espera crescimento de 10% a 30% em seu faturamento neste ano em comparação com 2020.
Para o diretor regional da entidade, Régis Haubert, esse otimismo era esperado tendo em vista a grave crise que afetou o setor na pandemia. "As empresas estão dando sinais de recuperação, inclusive com geração de novos postos de trabalho", observa.
A maioria dos entrevistados apontou que pretende aumentar em até 5% seu quadro de funcionários neste ano, alguns chegando a informar que devem elevar em mais de 40%. "Teremos um ano de retomada dos investimentos. A expectativa de crescimento supera os 10%", conclui Haubert.