A falta de combustível (gás natural) tornou-se um obstáculo para a operação da Central Térmica Uruguaiana (CTU), conforme informa o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi. A perspectiva era de que a usina gerasse energia desde sábado passado (13) e o complexo chegou a sincronizar uma unidade geradora, mas novos testes terão que ser realizados após terem sido constatados problemas técnicos.
A usina, antes pertencente ao grupo AES, foi comprada pela argentina Saesa em setembro do ano passado. O gás natural que abastecerá a térmica virá da Argentina, que há seis anos não exporta o insumo para o Brasil. O governo do país vizinho chegou a comemorar a volta da operação da unidade na última segunda-feira (15), já que vai significar mais divisas de exportação. "O lançamento da Central Térmica Uruguaiana é um passo em frente, fundamentalmente porque permite gerar divisas para a Argentina, mas também abre uma oportunidade para fortalecer o comércio internacional, os laços de integração energética e melhorar a balança comercial", disse em nota o secretário de Energia argentino, Darío Martine.
Cada dia de funcionamento da termelétrica implica em ingresso de divisas de até US$ 500 mil, com potencial de US$ 100 milhões por ano, se for exportada apenas fora do inverno, período em que o gás é necessário para atender a demanda local, ressaltou o governo argentino na nota oficial. A mesma nota informou que a exportação dos excedentes de gás para o Brasil "é provisória" e a estimativa é de que o processo apenas se consolide nos próximos meses, "uma vez que tenha passado o inverno e o Plano de Gás comece a dar os resultados esperados, o que permitirá ao nosso país iniciar o caminho rumo à autossuficiência, com possibilidade de fazer exportações firmes tanto para o Chile como para o Uruguai e o Brasil", avaliou o governo da nação vizinha.
Ao todo serão exportados 2,4 milhões de metros cúbicos diários de gás natural para atender à geração da térmica gaúcha quando a unidade estiver em sua operação máxima. Segundo o ONS, a geração inicial da térmica seria de 220 MW (cerca de 6% da demanda elétrica do Rio Grande do Sul), o que vai ajudar a reforçar o Sistema Interligado Nacional (SIN), que enfrenta uma das piores secas nos últimos anos, principalmente na região Sudeste. Mesmo em pleno período de chuvas, os reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste estão operando com um quarto da sua totalidade (24,9%).
Construída na década de 1990 e inaugurada em 2000, a usina de Uruguaiana foi a primeira termelétrica a operar no Rio Grande do Sul, em plena crise de abastecimento de energia que culminou no racionamento entre 2001 e 2002 no Brasil. A operação foi interrompida em 2009, por conta da quebra de contrato dos fornecedores de gás natural, e reabriu em caráter emergencial em 2013, 2014 e 2015, por períodos temporários.