Prestes a firmar acordo para ter redução de ICMS no querosene usado nas aeronaves, a Azul aponta como um gargalo para os voos regionais no Rio Grande do Sul as deficiências estruturais dos pequenos aeroportos. Este detalhe pode limitar ou frear a velocidade da oferta de novas conexões entre Porto Alegre e o interior, que vai crescer em 2021.
"Sabemos os horários que os clientes querem e os melhores horários. O problema é o que encontramos em solo", resumiu o gerente de malha da companhia, Vitor Silva, em live nesta quinta-feira (4), que traçou ações da empresa para ampliar o mercado local e ainda recuperar fluxo após 11 meses de pandemia. Recentemente, a empresa reativou voos para três destinos.
Entre as limitações técnicas, Silva citou a falta de instrumentos para operar em condições adversas do clima, como na formação de nevoeiro. Essa situação foi evidenciada na oferta de voos do programa Azul Conecta, que operou entre dezembro e janeiro para Torres e Canela, um dos destinos turísticos, ao lado de Gramado, mais buscados no Brasil, observou o gerente de malha.
A regularidade dos voos para Canela foi de 89,4% - ou seja, mais de 10% acabaram sendo cancelados. "O motivo foi o mau tempo. A aeronave (monoturbo-hélice Cessna 208 Caravan) tem condições e a tripulação é treinada, mas não tinha instrumentos no aeródromo para pousar", explica o executivo.
Já para Torres, a regularidade foi de 97,4%. A companhia opera com uma taxa média de 99% do indicador. O programa temporário somou 200 voos e cerca de 1,2 mil passageiros (400 de conexões) e serviu para medir a atratividade, já que não havia "referência", explicou o interlocutor.
"Com voos diários e com mais frequência aumentará a exigência", previne Silva, sobre a infraestrutura. Ele disse que podem ser retomados os voos a Canela em feriados e na alta temporada, que, no caso da cidade da Serra Gaúcha, é principalmente no inverno.
O aumento de tráfego pela Azul no Estado é questão de tempo. No Brasil, o fluxo de passageiros fica em quarto lugar, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em 2019, foram quase 15 mil movimentações entre pousos e decolagens locais. Os dados de 2020 não foram divulgados.
O gerente de malha diz que até março a empresa assina o acordo para acessar os incentivos fiscais, atrelados à maior oferta de voos regionais. O governo Eduardo Leite ajustou o decreto com as regras no ano passado. O documento está passando por análise jurídica, adianta o executivo. Será o primeiro a ser firmado pela marca no País pós-pandemia. "Para dar as contrapartidas, vamos abrir mais cidades", adiantou, sem dizer quais.
Cinco novos destinos devem ser adicionados na malha da empresa neste ano
O Jornal do Comércio noticiou, em dezembro passado, que técnicos da aérea haviam vistoriado os aeródromos de Erechim, São Borja e Vacaria. Santa Cruz do Sul, polo da indústria fumageira, é outra cidade que estaria no visor. Mas o representante da Azul evitou indicar localidades "para não criar expectativas", mas admitiu que cinco novos destinos devem estrear este ano.
Silva confirmou que houve levantamento sobre as condições e que as informações serão levadas ao governo estadual e às área da União ligadas ao setor, como a Infraero e a antiga Secretaria de Aviação Civil (SAC), que lida com aportes para a infraestrutura da aviação regional.
Após a pandemia, a Azul retomou voos da Capital a Santa Maria, Santo Ângelo, Pelotas, Uruguaiana e Caxias do Sul, que também voa para Campinas. Passo Fundo será o próximo destino, com viagens a serem retomadas em maio, depois da conclusão das obras no aeroporto local que permitirão operações noturnas, antes inviáveis.
Santa Maria terá voos diários a partir de março. Questionado sobre ter conexão direta da cidade do Centro do Estado com aeroportos do Sudeste, Silva descartou a possibilidade antes de consolidar o fluxo com Porto Alegre.
O gerente afirmou que o desafio em 2021 é restabelecer 100% de passageiros do período pré-pandemia, que teve mais efeitos a partir de abril passado. No Aeroporto de Porto Alegre, que teve queda de 58% no número de passageiros e 51% em voos em 2020, a operação com aeronaves maiores - Airbus A320 e A321 - deve impulsionar a recuperação de tráfego. A maior cobertura da vacina da Covid-19 será decisivo, condiciona.
A Azul espera voltar com os voos ao Uruguai - Montevidéu e Punta Del Este, na alta temporada, mais no verão. Mas o gerente de malha acredita que a liberação para o fluxo de turistas não deve ocorrer antes do segundo semestre. A mesma percepção vale para a Argentina. A companhia está em contato com o Ministério das Relações Exteriores uruguaio e argentino e com operadores de aeroportos para acompanhar a tendência de flexibilizações nas restrições atuais.