Por exigir um cuidado maior em seu cultivo e garantir um retorno financeiro menor, o milho de pipoca tem se tornado menos atrativo aos produtores rurais, que, em razão disto, estão optando por semear o milho comum no Estado. Deste modo, a redução na área plantada pode representar aumento no preço da pipoca ao consumidor.
Ao longo de 2020, o custo do milho de pipoca subiu R$ 0,27 nos supermercados da Região Metropolitana de Porto Alegre, um aumento superior a 8,5%, de acordo com o IPC/IEPE. Dados do IPC-M da Fundação Getulio Vargas mostram que o valor do produto também registrou alta em todo o País, subindo 10,88% entre janeiro e dezembro do ano passado. Com o anúncio do fechamento da unidade da General Mills, empresa proprietária da Yoki, em Nova Prata, os contratos com produtores do Estado chegarão ao fim.
O técnico em agropecuária Josmar Veloso, que atua no escritório municipal da Emater/Ascar em Lagoa Vermelha, explica que a decisão da empresa não representa um grande problema para os produtores. Isso porque a área plantada pode ser substituída por milho normal, que está remunerando melhor do que a pipoca. Tal mudança resultaria em uma diminuição no número de produtores semeando pipoca no Estado.
Veloso explica que o produtor tem mais praticidade na hora de cultivar o milho comum, que não demanda tantos cuidados por ser mais resistente a pragas. A pipoca exige um controle rigoroso da lagarta-do-cartucho, no qual são necessárias várias aplicações de defensivos, a maioria fisiológicos, mas que, em razão do tamanho da cultura, exigem que o produtor possua pulverizador autopropelido para a proteção sanitária vegetal. "Hoje, os agricultores que plantam este milho são médios e grandes, bastante tecnificados", afirma o técnico.
Ele reconhece a possibilidade de que o custo do milho de pipoca continue subindo e faz uma avaliação: "Se continuasse com os mesmos preços não se tornaria atrativo ao produtor, devido ao custo de produção em relação ao milho".
Em caso de aumento no preço da pipoca, o consumo poderá sofrer redução e este é o receio de Marcelo Salviano, coordenador de produtos da Fröhlich, empresa proprietária da marca Fritz&Frida. Ele explica que o aumento do preço está ligado à redução da área plantada e à alta do dólar.
O coordenador acredita que o custo continuará subindo em razão do preço das commodities ligadas à produção do grão e esclarece que a maior parte da produção de milho de pipoca do Brasil vem de outros estados, como Mato Grosso.
Saída da Yoki pode piorar redução no cultivo
Atualmente, a Yoki tem contrato com 30 produtores de milho de pipoca no Rio Grande do Sul. Entre eles está o agricultor Vinicius Ottoni, do município de Soledade, que, após 12 anos sem semear esta variedade do milho, fechou um contrato com a Yoki para a safra atual, em que espera colher 54 toneladas, que serão entregues à General Mills (dona da marca) nas próximas semanas.
Ottoni explica que, após um período de seca ter atingido a região, há cerca de 12 anos, Soledade deixou de produzir pipoca para a empresa. Foi nesse intervalo de tempo que o produtor passou a semear a variação mais comum do milho. "O manejo do milho de pipoca é muito técnico, é muito mais cômodo produtor produzir o grão comum", explica.
Outro fator que fez o agricultor optar pelo cultivo de milho comum está ligado à questão financeira. "O preço começou a subir muito e hoje vale a pena plantar milho e não a pipoca", afirma Ottoni. Em nota, a General Mills, empresa proprietária da marca Yoki, informa que todos os compromissos firmados com os agricultores do Rio Grande do Sul serão honrados pela empresa, que afirma ter muito respeito aos parceiros no Estado.
Sobre uma possível redução da área plantada no Rio Grande do Sul e o impacto que isso poderia causar no preço do produto, a General Mills afirma que é comum que os produtores alternem diferentes tipos de cultura ao longo do ano e que diversos fatores estão relacionados à variação do custo, especialmente as bolsas de valores, o dólar, e os mercados internacionais.
A empresa anunciou, no início de janeiro, que irá desativar a unidade na Serra gaúcha, concentrando a produção de milho de pipoca na fábrica localizada em Pouso Alegre (MG). Com isso, 300 funcionários serão dispensados em Nova Prata.