A dupla pandemia e estiagem fez estragos profundos e históricos no desempenho do PIB do Rio Grande do Sul no segundo trimestre de 2020. Nunca houve quedas tão profundas na série apurada desde 2002, como as registradas no período recente, segundo o Departamento de Economia e Estatística (DEE), que sucedeu a extinta Fundação de Economia e Estatística (FEE). No primeiro trimestre, a
economia gaúcha havia recuado 3,3%.
Nas duas comparações - com trimestre anterior e com o mesmo período de 2019, o mergulho é forte. Ante janeiro a março passados, o tombo foi de 13,7%. Sobre o segundo trimestre do ano passado, o nocaute chegou a 17,1%, segundo divulgação feita nesta sexta-feira (18) pelos técnicos.
O efeito da crise sanitária combinada aos danos da falta de chuvas nas culturas de verão acabaram gerando mais estragos à economia regional que à nacional. A coordenação do PIB trimestral citou que o produto brasileiro caiu 9,7%, na comparação com o primeiro trimestre, e 11,4%, frente ao segundo período do ano passado.
O ano acumula recuo de 10,7% na atividade gaúcha, ante 5,9% no Brasil. Um detalhe que deve ter pesado foi o fato que a safra agrícola em outros estados com maiores produções em soja e milho, por exemplo, não teve quebra.
"O resultado evidencia uma forte desaceleração da atividade econômica no Rio Grande do Sul provocada tanto pela estiagem, que afetou a agropecuária, quanto pelos efeitos negativos decorrentes do enfrentamento da pandemia sobre a indústria e as atividades de serviços", destaca o pesquisador do DEE Martinho Lazzari. O departamento é ligado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG).
A retração mais significativa foi da Agropecuária, com queda 20,2%, seguida da redução registrada na Indústria (-15,9%) e do setor de Serviços (-9,1). Apenas em serviços a queda não foi maior que a dos setores no Brasil, que teve Agropecuária (0,4%), indústria (-12,3%) e serviços (-9,7%) em relação ao trimestre anterior.
Já no confronto com o mesmo trimestre de 2019, o setor primário despencou 39,4%, com maiores pesos da quebra da soja (-39,3%) e milho (-27,7%). O arroz, que enfrenta um momento de alta em preços internos e demanda de exportações, cresceu 8,3%. No País, a alta foi de 1,2%.
Na Indústria, a queda geral foi de 19,3%, com redução nas taxas em todas as atividades do segmento: eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (-28,1%), transformação (-19,5%), construção (-12,6%) e a indústria extrativa mineral (-1,5%). Na Indústria de transformação, todas as atividades tiveram queda, em especial a de veículos, reboques e carrocerias (-70,2%), couros e calçados (-50,0%) e máquinas e equipamentos (-14,1%). As menores baixas foram registradas nas atividades de produtos alimentícios (-0,2%), bebidas (-0,2%) e celulose e papel (-0,4%).
Serviços foi o único segmento a registrar queda menor do que a do país (-9,9% contra -11,2% do Brasil). No RS, os principais destaques negativos foram o comércio (-11,6%) e outros serviços (-23,7%).
No comércio, supermercados foram os únicos das 10 atividades a ter desempenho positivo no período (+5,4%), enquanto todos os demais tiveram queda, em especial os setores de tecidos, vestuário e calçados (-49,3%), veículos automotores (-41,8%) e outros artigos pessoais e de higiene (-25,8%). A razão é simples: na pandemia, com fechamento que se manteve forte de começo de abril a junho, apenas serviços essenciais, incluindo os súpers e farmácias, puderam funcionar.