Vinte e duas entidades do setor de comércio, construção civil, ensino e outros serviços de Porto Alegre emitiram um documento que pode ser o mais duro até agora na crise gerada pela pandemia do novo coronavírus. O texto defende a "retomada inadiável e imediada das atividades" e adverte para risco de "ruptura dos canais de interlocução e do colapso do sistema econômico". A reação veio após a
liberação dos jogos de futebol nos estádios da dupla Grenal.
O texto, enviado ao prefeito Nelson Marchezan Júnior, é assinado por CDL-POA, Sindilojas, Sinduscon, Sinepe, Associação dos Empresários do Humaitá e Navegantes (AEHN), Agas, Abrasel, Lide, Abrasce, Alshop, Aclame, ACPA, Sindha, Sergs (Sociedade de Engenharia), Instituto Cultural Floresta (ICF), Fenabrave/Sincodiv, Fetransul, ADCE, Acomac, ADVB-RS, Secovi-RS e Sulpetro.
O tom da reação dos setores econômicos se elevou desde sexta-feira (31), quando o prefeito comunicou, em transmissão ao vivo, a
volta dos jogos de Grêmio e Inter neste domingo. Marchezan falou em teste para a retomada dos jogos, mas a expectativa é que isso se restabeleça. A dupla Grenal tem usado como argumento a segurança proporcionada por seus protocolos sanitários.
Foi justamente este argumento do futebol que agora está sendo usado pelos setores que vão do comércio de rua, shopping centers, serviços em geral, construção civil, supermercados (um dos poucos com funcionamento liberado), restaurantes e bares. O presidente da CDL-POA, Irio Piva, disse, na sexta-feira, que a volta do futebol era importante e que agora era hora de liberar os demais segmentos. "Nossos protocolos garante segurança à saúde de funcionários e clientes", afiançou Piva.
Setores essenciais teriam ainda o horário ampliado. Mesmo com apoio do Sinepe (sindicato do ensino privado), as escolas ficam fora da retomada, pois seguirão as orientações do governo estadual e
não há previsão ainda de volta às aulas presenciais, suspensas em março, comunicou o governador Eduardo Leite na quinta-feira passada.
Sobre o termo 'ruptura' citado no documento, Piva explica que as entidades apontam que já tentaram "todas as alternativas de diálogo". "Agora é imprescindível retomar as atividades, se não conseguirmos, teremos de estudar novas medidas", projeta o dirigente. Ele reforça que as entidades não querem "enfrentamento", mas "sim construirmos juntos uma solução". "Mas esta solução tem que estar contemplando a retomada da economia", condiciona.
A dúvida era se esta trajetória seria consistente para uma tendência de queda. Neste fim de semana, a situação se inverteu, de queda para elevação das internações. Neste domingo, a ocupação geral das UTIs se mantém em quase 90% - deveria estar em 80% para evitar proximidade do colapso da estrutura -, e o número de doentes com o novo coronavírus
bateu em 324, recorde até agora na pandemia.
Este cenário, teoricamente, deveria reforçar as restrições em curso, o que deixaria mais distante eventuais flexibilizações. A resposta caberá ao prefeito.