Denominada de “Breque dos Apps”, a paralisação de entregadores por aplicativos, que ocorreu pela segunda vez, neste sábado (25), teve baixa adesão em Porto Alegre. Na avaliação da estudante de Pedagogia Tirza Ferreira, que é integrante do movimento que participou do protesto e faz entregas de bicicleta há quatro meses, ainda assim o saldo foi positivo.
“Foi um ato menor que o do dia 1º de julho, mas foi bem significativo, pois recebemos o apoio da população, que nos aplaudia das janelas dos apartamentos”, avalia a entregadora. Prevista para acontecer em todo o País, a mobilização foi marcada na Capital com caminhada e gritos de protestos do grupo, que contou com aproximadamente 20 pessoas que atuam no segmento. Uma
primeira manifestação já havia acontecido no início do mês na Capital gaúcha.
Após uma concentração, que iniciou às 10h, em frente do Mac Donald's da avenida 24 de Outubro, no bairro Moinhos de Vento, os manifestantes percorreram as avenidas Goethe e Silva Só, pararam em frente ao Burger King da avenida Ipiranga e finalizaram o ato em torno das 16h, com uma concentração no Largo da Epatur, no bairro Cidade Baixa. “Estamos nos organizando como coletivo”, pondera o também entregador Ezequiel Moraes, que trabalha no segmento desde abril de 2019. Segundo os participantes, a
proposta do movimento era reunir em torno de 60 pessoas.
Assim como na paralisação do último dia 1º, os profissionais reivindicam das empresas de delivery melhores condições de trabalho, reconhecimento dos direitos sociais e vínculo trabalhista, aumento do valor por quilômetro rodado e da taxa mínima das entregas, fim das pontuações mínimas de entregas e auxílio emergencial durante a pandemia para aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e apoio aos diagnosticados com Covid-19.
“Neste momento de pandemia, as plataformas em momento algum sinalizaram que a taxa de entrega tivesse um valor maior”, reclama Moraes. “Pelo contrário, estamos recebendo uma taxa média bem menor que no ano passado.” De acordo com o entregador, em 2019, a média mínima de pagamento por corrida ficava entre R$ 7,00 e R$ 10,00. “Atualmente, estamos recebendo uma média mínima de R$ 3,50 – e parte do valor que seria nosso pagamento está sendo retido pelas plataformas, para que eles viabilizem promoções aos clientes.”
Nas redes sociais, a hashtag #BrequedosApps mantém a campanha para que as pessoas não peçam comida por aplicativos neste sábado. Em um cenário em que o número de desempregados, pela primeira vez, supera o numero de empregados no Brasil (o Pais perdeu 7,8 milhões de empregos nos últimos três meses), a manifestação pretende ser um marco na luta contra a precarização do trabalho no Brasil.
“Este é um setor muito fragilizado, sem vinculo empregatício com jornadas de trabalho exaustivas e sem nenhuma segurança ou direitos garantidos”, destaca Tirza. Ela entrou para o segmento para contribuir com as despesas da família, após sua mãe perder o emprego e a universidade suspender o pagamento da bolsa de estudos. “A realidade é que por mais que políticos façam projetos de lei, que não saem do papel, vivemos num sistema que permite este tipo de exploração através das tecnologias – e estou emocionada em perceber que a população está se dando conta disso”, reflete.
Desde o início da crise do novo coronavírus, a demanda por delivery vem aumentando, assim como o número de desempregados e profissionais de outras áreas que passam a atuar com os aplicativos. Embora não haja número oficial, as estimativas apontam que cerca de 5 milhões de brasileiros, 23% dos profissionais autônomos em atividade, trabalham com aplicativos de entrega.
A precarização desse serviço e a falta de atenção das empresas às reivindicações chegou a mobilizar a
criação de uma Frente Parlamentar na Câmara dos Deputados, que está em fase de coleta de assinaturas, liderada pela deputada gaúcha Fernanda Melchionna (PSOL).
Segundo a Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O), principal entidade que reúne startups de mobilidade urbana e delivery de todo o País, "a pandemia impôs desafios para todos: comércio, entregadores, consumidores e plataformas digitais". "Com isso, estamos empenhados em conversar com cada elo que compõe nosso ecossistema para melhorar os serviços prestados. Assim, criamos um Grupo de Trabalho com a Abrasel – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – para debater a situação do segmento e continuaremos nossas conversas com os entregadores e demais autônomos", afirma a entidade, em nota.
A Associação também afirma que desde o início da pandemia os aplicativos de entregas implementaram formas para garantir a segurança desses profissionais, assim como buscaram meios de promover o acesso a parcerias como consultas médicas por telemedicina, seguro contra possíveis acidentes durante a realização de entregas, distribuição de kits de proteção (com máscaras e álcool em gel), além da elaboração do 'Guia para uma entrega segura em casa para todos', material criado para orientar empresas, clientes e autônomos a operarem com responsabilidade e segurança para preservar a saúde dos envolvidos. Segundo a entidade, "não houve redução das taxas de remuneração e as plataformas disponibilizam de forma transparente as taxas e valores destinados para os entregadores".